CRÍTICA | ‘A Madeline de Madeline Madeline’ é psicossomático e sensorial
Giovanna Landucci
A Madeline de Madeline (Madeline’s Madeline) agradará a poucos, não por sua história ou porque seja ruim, pelo contrário, é ótimo filme, mas a maneira como foi construído, como a câmera passeia pelas cenas, como foi contada a história pode gerar estranhamento e diversas sensações que serão quase que sinestésicos.
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O espectador será convidado a participar sensorialmente desse longa-metragem nada convencional. Com roteiro e direção feitos por Josephine Decker, A Madeline de Madeline é psicossomático e lida com diversos sentimentos, sensações e pensamentos da personagem.
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Com boas atuações, o elenco formado por Helena Howard, Molly Parker e Miranda July surpreende positivamente principalmente nas cenas de coreografias de balé, que misturam imitações de animais e sincronia de movimentos entre todos. Planos fechados de câmera na mão acompanham os movimentos e o olhar da filmagem acaba muitas vezes se tornando um personagem-observador, que é detalhista e minucioso nas captações de sensações através de sons externos muito bem mixados e amplificados, que passa a sensação de se estar dentro da tela. O longa traz sensações claustrofóbicas e uma certa labirintite pela quantidade de movimentações no espaço que faz e o tipo de enquadramento dado, que também amplia as imagens.
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Sobre a peça teatral e grupo de balé, às vezes, Madeline é um gato, por vezes, uma tartaruga. Quando é ela própria, é muito difícil distinguir se interpreta um papel de si mesma e se aquilo tudo é real ou um sonho. A mãe de Madeline é uma mulher ansiosa que enxerga na sua filha uma adolescente fragilizada e vulnerável que possui um distúrbio mental do qual sua mãe tem medo que fuja do controle. Madeline toma medicações e requer vigilância constante e acompanhamento médico. O palco é sua válvula de escape, de onde se vê livre de sua mãe e pode colocar para fora suas frustrações no personagem que encarnou. O espetáculo cênico é dirigido por uma exigente professora chamada Evangeline, que muitas vezes é imprudente em suas escolhas de interpretações para a jovem e, com certeza, abusa de poder que exerce sobre ela e de suas sensações para se utilizar na peça.
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Podemos dizer que a conturbada adolescente é a força da natureza. Uma mistura de epifania com sonho. Uma junção entre a personagem e a personificação dela em sua vida que acabam se misturando e sendo uma só. A Madeline de Madeline constantemente deixa o espectador em uma nuvem confusa sobre separar o real do imaginário. Onde está a mente de Madeline? O que realmente está acontecendo com ela? Porque Madeline age assim, muitas vezes como um animal? A cabeça dela funciona de um jeito diferente das demais pessoas. Um filme com um final onde a experiência se integra ao experimento para vir a se tornar executador.
*Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Madeline’s Madeline
Direção: Josephine Decker
Elenco: Helena Howard, Miranda July, Molly Parker
Distribuição: Mostra de SP
Data de estreia: em breve
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Duração: 90 minutos
Ano de produção: 2018
Classificação: 16 anos