CRÍTICA | ‘Além do Homem’ tem alma brasileira, mas faz referências até à obra de Nietzche

Giovanna Landucci

Além do Homem é um filme com alma brasileira, mas com produção e roteiro bem adaptado ao exterior, podemos classificá-lo como “cult” e não comercial. Com bastante magia e reflexão, traz uma história que lembra o cinema Francês e  referências fortes e icônicas do Brasil.

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Uma película subjetiva e repleta de reflexões e de referências abstratas. Retrata basicamente a descoberta de um homem chamado Alberto (Sérgio Guizé) para dentro de si mesmo.

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Essa história começa e termina no mesmo lugar, na França. Somos envolvidos pelas reflexões de Alberto, sua mão pintada no vidro embaçado e seus pensamentos e devaneios.

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Uma bela trilha musical e muita água escorrendo pela janela. Um dia de chuva é o ponto de partida para essa trajetória que leva o personagem à sua autorreflexão. Um homem que está em sua casa a refletir parece fascinado com algo e logo desperta de um sonho. Acordado, admira sua namorada dormindo, ao se trocar pensa em como vai apresentar ao pai dela o seu desejo e inspiração para um best seller.

O filme aborda de forma poética os contrapontos entre uma cidade cosmopolita representada por Paris e o Agreste. O sertão é representado por essa pequena cidade, onde a maior parte dos sets de filmagem ocorreram. Enigmática história que traz referências de filmes como ‘Central do Brasil’ e ‘O Auto da Compadecida’, dois longas repletos de brasilidade e de sertão, agreste, assim como a presença de uma veia trágica ou cômica que faz o espectador refletir.

Dentro das reflexões nietzschianas acerca do homem moderno, nasceu ‘Além do Homem‘. Não estamos falando aqui da película em questão, mas sim, da obra literária de Nietzche. Aquele que dá sentido e valoriza a existência humana, que fala da relação de um super homem e sua versão animal, instintiva. Não é a toa que a referência a esta obra de Nietzche deu origem ao título do primeiro longa-metragem de Willy Biondani, produzido pela Bossa Nova Films, em parceria com a Telecine, e distribuído pela Imagem Filmes.

Rodado em Milho Verde – interior de Minas Gerais – e Paris, o filme conta a história de Alberto Luppo, um escritor brasileiro que é provocado a transformar em livro a misteriosa e suposta morte de um antropólogo francês. Com somente um diário em mãos, e com um mapa, deve seguir os passos dele para entender o que se passou e escrever uma obra sobre essa suposta morte.


Interpretado pelo ator Sérgio Guizé, o personagem central hesita em voltar ao Brasil após anos vivendo na França, mas se vê obrigado a investigar a história do homem que dizem ter sido devorado por canibais em um lugar remoto no interior do Brasil. Na viagem, Alberto descobre uma alegoria de Brasil, enigmática e encantada. É recebido em meio ao serrado brasileiro e levado de táxi pelo Tião (Fabrício Boliveira), que de forma muito icônica demonstra que esse Brasil tem muito a entregar e recebe super bem quem vem de fora.

Alberto, envolvido em seus devaneios e pesadelos noturnos, que já tinha desde a França, se depara com um Brasil que o faz refletir e ir para dentro de si mesmo. Quando menos espera, conhece a brasileira Bethânia (Débora Nascimento) e se entrega ao destino, redescobrindo tudo o que desprezava: a beleza de sua própria identidade.

Além de Bethânia, se depara com outros personagens que o fazem refletir ou devanear e desbravar esse Brasil onde ele se encontrava. Chegou a encontrar com muitos ícones de cidades assim. Casa de prostituição, lavadeiras no rio, trouxas de roupas. Sendo entregues nas casas, flores nos cabelos, vestidos floridos estampados, aguardente com cobra dentro, bandeirolas e festa local. Provou de tudo e acabou se deixando participar, mesmo contrariado em muitos momentos.

As cenas finais são de uma fotografia maravilhosa, Willy Biondani assina o roteiro do filme ao lado de Eliseo Altunaga (consultor de roteiro de ‘Uma Mulher Fantástica‘, vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro) e Daniel Tavares. O filme estará em cartaz nos cinemas nesta quinta (28) e logo após o seu período de exibição estará disponível para assistir também via streaming e em outras telas como TV por assinatura ou via Telecine, por exemplo, uma das parceiras desse projeto.

‘Além do Homem‘ também traz no elenco Pierre Richard e Marilyne Fontaine, com participações especiais de Flávia Garrafa, Otávio Augusto, Val Baptista e outros. A direção de arte é assinada por Sidney Biondani, já a fotografia, por Olivier Cocaul e Walter Carvalho. Walter trouxe a visão brasileira para a fotografia do filme e o encontro das emoções através da presença da água da cachoeira, dos rios daquela cidade.

Um excelente filme para quem gosta de histórias que te colocam para refletir sobre si mesmo. Muito bonito, direção de arte e fotografia que levam o espectador a entrar dentro da trama. Sem contar com a bela trilha sonora colocada nos momentos ideais, acompanhando a trajetória de cada personagem elaborada por Egberto. Vale muito a pena conferir!

::: TRAILER

::: FOTOS

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::: FICHA TÉCNICA

Direção: Willy Biondani
Elenco: Sergio Guizé, Débora Nascimento, Otávio Augusto, Fabrício Boliveira
Distribuição: Imagem Filmes
Data de estreia: qui, 28/06/18
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 92 minutos
Classificação: 14 anos

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
NAN