CRÍTICA | ‘Anos 90’
Alvaro Tallarico
Surfando no asfalto de uma década especial.
Anos 90. Fase de transição do analógico para o digital. Sem essa de celular. Videoclipe rolando na televisão, pausa para jogar um Nintendo. Quatro amigos reais, ao invés de mil virtuais.
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Nessa aura saudosista, vemos como eram muitos dos quartos daquela década, cheios de pôsteres (o meu era assim). Ah, o velho CD Player… Que inovação que foi na época. Todos queriam um. Podemos ver a juventude suburbana da época. O boom do skate.
Sobre o filme
Anos 90 (Mid 90’s) é a estreia de Jonah Hill (Cães de Guerra) como roteirista e diretor de cinema. O filme conta, acima de tudo, a história de Stevie, vivido por Sunny Suljic. A atuação do garoto é não apenas ótima, como também realista, sem infantilidade ou superficialidade que poderíamos esperar. Acabamos criando uma empatia com aquele carinha corajoso, ingênuo, buscando seu lugar. É apenas um menino de 13 anos, vivendo num subúrbio de Los Angeles com seu irmão mais velho Ian (Lucas Hedges) e a mãe solteira (Katherine Waterston). É uma matriarca carinhosa, mas não percebe o que acontece em sua própria casa, como as agressões frequentes de Ian ao irmão caçula. É uma relação complicada, com nuances que só percebemos com o desenrolar da história.
Nosso pequeno Stevie acaba encontrando uma tribo, a qual alegra e muda sua vida, quando se junta a um grupo de skatistas capitaneados por Fuckshit (Olan Prenatt) e Ray (Na’kel Smith, bela atuação), se esforçando ao máximo para ser aceito, treinando skate desesperadamente e topando tudo. Drogas, sexo, fugas. São novas emoções e descobertas que trazem sorrisos espetaculares ao rosto do pequenino. Ficamos ali torcendo por ele, rindo junto. Preocupados, às vezes.
O personagem Quarta Série (Ryder McLaughlin) é um esforço de metalinguagem, um nerd pobre acompanhando tudo com sua câmera e sonhando em ser cineasta. Ruben (Gio Galicia) é triste, traumatizado, pouco explorado e desenvolvido, mas tem sua importância no contexto.
Sensível, real e com ótima trilha sonora dos anos 90
O longa é não só sensível, bem como real e trouxe à minha memória filmes como Kids e Diário de um Adolescente. Não que tenha muito a ver com estes, mas, de alguma forma, tocaram minha mente nesse sentido. Em suma, é interessante ver a pureza, os traumas e as experiências de Stevie.
A trilha sonora escolhida por Hill favorece muito o retorno ao passado. Em outras palavras, as músicas trazem um saudosismo gostoso e leve, fluindo pelas ruas no surfe de asfalto.
MTV dos anos 90
O roteiro conta com ótimos momentos. Acima de tudo, homenageia a amizade, uma parceria diferente, acima de erros e acertos, ciúmes e vaidades; o skate, aquela década especial. Além disso, a filmagem 4:3 auxilia no gosto de nostalgia e temos uma bonita direção de arte e uma fotografia minimalista feita por Chris Blauvelt. A gente se sente realmente lá, como uma viagem no tempo. Traz um estilo televisivo, pré-digital, utilizando uma edição que faz parecer estarmos vendo um videoclipe da MTV com um cheiro de espírito adolescente.
Diria até que Jonah Hill surpreende como diretor. Não se esconde e nem tenta ser burocrático. Há momentos ousados e criativos. A sequência final é uma delícia, e, ao mesmo tempo que traz uma satisfação, fica parecendo que ainda falta alguma coisa antes do filme acabar. Acima de tudo, a virtude de levar de volta no tempo, com estilo e eficiência, traz uma boa experiência e vale fluir pelas ruas com esses garotos.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Mid 90’s
Direção: Jonah Hill
Elenco: Katherine Waterston, Lucas Hedges, Sunny Suljic
Distribuição: Diamond Films
Data de estreia: qui, 30/05/19
País: Estados Unidos
Gênero: comédia
Ano de produção: 2018
Duração: 85 minutos
Classificação: 16 anos