CRÍTICA | 4ª Temporada | ‘Black Mirror’ retorna com altos e baixos para sua temporada mais fraca

Maria Clara Novais

Black Mirror é uma série que se propõe a retratar a relação do ser humano com a tecnologia através de um olhar extremamente pessimista. Uma das melhores produções dos últimos anos, a antologia nos faz refletir principalmente sobre o comportamento humano trazendo uma crítica ao mundo contemporâneo. Assim, a série, caracterizada por trazer reviravoltas e chocar com os desfechos inimagináveis, fez sucesso e criou grandes expectativas para seu quarto ano. Entretanto, a nova temporada passou bem longe de atender os desejos dos fãs. Os episódios pecam, em sua maioria, por serem menos mirabolantes, reciclarem ideias e serem muito previsíveis.

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ATENÇÃO: SPOILERS LEVES!

1) USS Callister

O primeiro episódio apresentado, “USS Callister”, faz uma sátira do universo Star Trek. Ele mostra como a rejeição, perseguição e a falta de reconhecimento podem levar o ser humano a se vingar de seus agressores. No começo é difícil perceber sobre o que o episódio se trata e qual é a tecnologia em jogo, por isso, a curiosidade instiga e a  descoberta acaba se tornando prazerosa. A principal virtude de USS Callister é unir humor e tensão prendendo o espectador a sua narrativa. Entretanto, a forma como o personagem de Jesse Plemons consegue tornar sua vingança possível é bem pobre levando em consideração que Charlie Brooker, idealizador de Black Mirror, poderia ter criado uma tecnologia mais crível para capturar vítimas. Além disso, há situações que são muito simples e que não fazem sentido como a suspensão do jogo apenas pausar as ações de Plemons.

2) Arkangel

Em seguida, dirigido por Jodie Foster, “Arkangel” debate a superproteção por parte dos pais, que aliados a uma tecnologia cerebral implantada nos filhos, decidem o que eles podem ver e ouvir. A ideia do episódio é interessante e conversa perfeitamente com os dias atuais, porém Arkangel se desenrola de maneira completamente previsível, ainda que perturbadora, e perde a oportunidade de causar uma reflexão mais profunda sobre privacidade, relacionamento abusivo e obsessão dos pais.

3) Crocodile

“Crocodile”, terceiro episódio da série distópica, traz Mia (Andrea Riseborought), uma arquiteta renomada, tentando salvar sua reputação após uma questão do passado voltar para assombrá-la. Para proteger-se, a protagonista se envolve em uma série de crimes e toma decisões moralmente condenáveis. Esse é um dos episódios em que a tecnologia está em segundo plano, o implante cerebral capaz de reativar e recuperar memórias é usado pela personagem de Kiran Sonia Sawar, uma inspetora de seguros, para investigar um crime do qual Mia é testemunha. Entretanto, todo o suspense e tensão construída morrem em um desfecho pobre e questionável. Além disso, “Crocodile” não traz nenhuma reflexão profunda sobre as questões pautadas.

4) Hang the DJ

“Hang the DJ” é uma surpresa positiva da temporada. O quarto episódio explora a questão dos aplicativos e redes sociais que servem para buscar relacionamentos amorosos. Para encontrar o par perfeito, é necessário antes passar por relacionamentos imperfeitos e aprender com os erros. Assim, o capítulo traz uma reflexão sobre o amor e relacionamentos modernos. Georgina Campbell e Joe Cole tem muita química juntos e inevitável não torcer para que o casal tenha um final feliz. O desfecho do episódio é inesperado ao estilo Black Mirror.

5) Metalhead

“Metalhead” mostra a luta de uma mulher contra cães robôs que são programados para perseguir e matar seres humanos. Esse é o capítulo mais curto da temporada e o que apresenta o visual mais diferente, já que é filmado em preto-e-branco. A história não busca fazer um debate sobre a sociedade e apenas traz uma caçada frenética sem objetivo claro. O episódio é simples demais e se torna cansativo e esquecível. Talvez seja o pior episódio da história de Black Mirror.

6) Black Museum

“Black Museum” é o último e melhor episódio da quarta temporada. Ele é um presente para fãs por interligar os capítulos da série e construir um universo unificado. Letitia Wright interpreta uma personagem que chega a um museu que guarda artefatos ligados a crimes relacionados a tecnologia. O episódio usa Douglas Hodge, que vive o responsável pelo local, para relatar as histórias desses objetos macabros a visitante. Ao todo, são contadas três narrativas extremamente perturbadoras, o que já seria suficiente para tornar o episódio muito bom, mas o que parece ser apenas um tour pelo local se torna uma história muito maior. As narrativas ganham outro significado e se interligam. O episódio se torna mais tenso, interessante e tem uma reviravolta digna dos momentos de glória da antologia. Assim, a temporada termina bem e nos deixa ansiosos para seu próximo ano.


 

::: TRAILER

https://youtu.be/TO7WqjxODw4

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Black Mirror – 4ª temporada
Direção: Toby Haynes, Jodie Foster, John Hillcoat, Timothy Van Patten, David Slade & Colm McCarthy
Roteiro: Charlie Brooker
Elenco: Jesse Plemons, Cristin Milioti, Jimmi Simpson, Rosemarie DeWitt, Brenna Harding, Andrea Risenborough, Kiran Sonia Sawar, Georgina Campbell, Joe Cole, Maxine Peake, Douglas Hodge & Letitia Wright
Ano: 2017
País: Estados Unidos, Reino Unido
Canal: Netflix

Maria Clara Novais

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