CRÍTICA | ‘Café Society’, tragicomédia romanticamente bem intencionada com uma encantadora Kristen Stewart

Luigi Martini

Em Café Society,  Woody Allen produz uma tragicomédia romanticamente bem intencionada

Rodeado de belos cenários, conflitos amorosos um tanto usuais e elegância derivada de Hollywood e Nova Iorque da década de 30, Woody Allen  – que em 2016 completa 80 proveitosos anos – produz aqui uma tragicomédia romanticamente bem intencionada.

Em Café Society (2016), Bobby (Jesse Eisenberg) é um jovem nova-iorquino aspirante a escritor – alter ego do cineasta – que viaja a Hollywood em busca de uma vida melhor e longe da joalheria de seu pai, onde não via mais continuidade de trabalho. Seu tio Phil (Steve Carell), poderoso agente de estrelas, o contrata como garoto de recados. Na cidade nova, ele se apaixona por Vonnie (Kristen Stewart), ambiciosa ajudante e secreto caso amoroso do tio.

Woody Allen não aparece no filme, mas é o narrador da história que se passa nos dois lados dos Estados Unidos. “A partir do momento em que escrevi a história era como se estivesse lendo meu próprio romance”, afirmou Allen em uma entrevista divulgada à imprensa em Cannes. Ele explicou que imaginou o filme “como um romance” e um “relato coral que não se prende a apenas um personagem”.

O diretor parece ter encontrado claramente em Einsenberg sua nova persona, haja vista a ingenuidade amorosa, desajeitamento e apelo poético encontrado no ator; contudo, o apelo cômico notável de Allen – claramente visto em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977) e Dirigindo no Escuro (Hollywood Ending, 2002) (genuínos prêmios de ouro e prata para piores títulos brasileiros do diretor de todos os tempos)- não se encontra na sobriedade e proeminência de Einsenberg. Kristen Stewart está encantadora; o fato de representar pela primeira vez um filme de época onde cores neutras como branco, rosa e verde claro ilustram as cenas favorece a revelação de um despretensioso e até então não tão conhecido lado da atriz. Não obstante, a expressividade aqui ainda se recua de uma certa forma; sua sutil porém evidente timidez é favorável em termos estéticos e românticos, mas não tão convincentes em situações de maior tensão emocional onde isso é exigido.

Cafe-Society

Tal como Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011), a película aproveita bem os cenários das duas cidades além da decoração e figurino dos personagens; a trilha sonora é coerente; e planos um tanto convencionais (planos e contra planos), mas que não diminuem o valor estético.

O romance de Bobby por Vonnie é leve e ao mesmo tempo angustiante; a sucessão dos fatos pode fazer o espectador não se satisfazer plenamente, mas isso não vem tanto ao caso.  Há uma terceiro foco nesse ínterim: os acontecimentos do irmão gangster de Bobby e seu sub-grupo. É um enfoque totalmente desnecessário e gratuito à história – pode ter sido uma tentativa não tão bem sucedida de comicidade, tendo em vista a ausência de humor que existe aqui.

Cafe Society é um filme romântico por via especialmente de Jessie Einsenberg; muito agradável aos olhos; traz um certo objeto de reflexão no desfecho que possivelmente conforta a quem assiste; possui certas falhas de condução de enredo; e parece não ser original em termos de profundidade romântica e filosófica relação a sua obras anteriores – mas é Woddy Allen com 80 anos e 48 longas no currículo, ele pode vai.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título Original: Café Society
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Jesse Eisenberg, Kristen Stewart, Steve Carell, Blake Lively
Fotografia: Vittorio Storaro
Distribuição: Imagem Filmes
Gênero: Comédia / Romance
Duração: 98 min
Ano: 2016
País: Estados Unidos
Classificação: 12 anos

Luigi Martini

Estudante de publicidade e futuro professor em estudos da comunicação, tecladista de uma banda alternativa em desenvolvimento e alguém que procura pensar sobre a vida e seus pertences através de filmes.
NAN