CRÍTICA | ‘Capitã Marvel’
Cadu Costa
Seria mentira se disséssemos que o filme mais esperado do ano estreia nesta quinta-feira. Mas, sem sombra de dúvidas, não é exagero afirmar que Capitã Marvel (Captain Marvel) é um sopro poderoso de representatividade e que a heroína irá brigar lado a lado com os grandes super-heróis do cinema. Neste artigo, você saberá TUDO que precisa saber sobre o grande lançamento do mês.
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“Capitã Marvel será, de longe, a mais poderosa heroína no Universo Cinematográfico da Marvel, ela será fiel a sua contraparte. A história precisa acompanhar a personagem tridimensional e cheia de camadas que é Carol Danvers. Você tem que acompanhá-la e entender todos os pontos do filme, não importa quantos efeitos visuais ele tenha.”
É dele também a escolha do casal de diretores Anna Boden e Ryan Fleck, premiados em festivais, como o de Sundance, com filmes como Half Nelson (2006), onde Ryan Gosling foi indicado ao Oscar, e Sugar (2008).
“Nosso casting é sempre baseado em pessoas que fizeram algo que achamos interessante, em qualquer nível. Nunca contratamos alguém que nunca fez nada, mas o que você encontra em nossa sala é um monte de gente que fez algo interessante. Para nós, o que Anna e Ryan fizeram de forma tão espetacular em todos os seus filmes é que eles criam uma jornada bem singular. As histórias que eles contaram tem sido tão diversas, não importa o assunto, eles sempre mergulham na jornada do personagem.’’
Exatamente por esse casal de diretores falar a língua da diversidade há tempos podemos acreditar no êxito de Capitã Marvel. A direção a quatro mãos de Boden e Fleck é tão precisa, sua mensagem é tão forte que, em alguns momentos, é possível esquecer se tratar de um filme do MCU. Aliás, nessas duas horas de projeção é possível até mesmo acreditar que o mundo pode vir a ser mais igualitário porque a Capitã Marvel é uma super-heroína poderosa, vibrante e extremamente carismática.
Mas aí, méritos também para Brie Larson. A atriz vencedora do Oscar em 2016 por O Quarto de Jack (2015) é tão múltipla quanto uma artista deste quilate pode ser. É talentosa como cantora, atriz de comédia, drama, ação e também ativista pelos direitos das mulheres. Na boa, não havia nome melhor no momento para interpretar Carol Danvers.
Mas quem é Carol Danvers, a Capitã Marvel? Bom, nos quadrinhos, ela já foi muitas coisas desde Miss Marvel, membra do primeiro escalão dos Vingadores à Binária, participante oficial dos X-Men (?). Isso sem falar que a Segunda Guerra Civil da Marvel estourou por causa dela. Mas contemos um pouco mais de sua origem.
Nas HQs, antes de ser Capitã Marvel, aos 18 anos, Carol se alista no exército e entra para a Força Aérea dos Estados Unidos. Um belo dia, seu avião se choca com uma nave alienígena Kree e o acidente mistura seu DNA ao material genético daquela raça extraterrestre. Nesse momento, Carol se torna uma híbrida humana-Kree, adquire diversos poderes e passa a ter como mentor o herói conhecido como Capitão Mar-Vell que a treina para lidar com sua força destrutiva. Aqui ela é conhecida como Ms. Marvel e ao longo de sua jornada como heroína, Carol enfrentará tantos inimigos lendários quanto dramas pessoais como abusos e alcoolismo. Adversários esses tão poderosos quanto Thanos de Titã.
No filme, sua origem não chega a ser tão diferente. Ela tem sim seu DNA misturado à raça Kree mas ela é levada por eles para o outro lado da nossa Via Láctea como se fosse uma arma na Guerra Kree-Skrull, o grande mote da aventura. Ela é treinada por Yon-Rogg, personagem de Jude Law, e tem muitos lapsos de memória devido ao acidente que lhe deu habilidades e seus traumas de infância onde lutou contra o machismo e o sexismo de seus colegas e até mesmo seu pai.
E os poderes da Capitã Marvel? Bom, vamos lá: superforte, resistente à maioria das toxinas e venenos, pode voar, ultrapassando a velocidade do som e tem a capacidade de absorver e manipular energia, a ponto de produzir explosões fotônicas, ou, na contramão, criar quantidades de antimatéria equivalentes a buracos negros. Com o poder de explodir até mesmo estrelas, Carol Danvers, que no planeta Kree, só atende pelo nome de Vers, é praticamente indestrutível.
Mas, como ainda tem que se conter por ser acreditada não dominar tamanha força, tudo dá errado em uma missão e Vers vem parar na Terra. Aí, Capitã Marvel embarca na gostosa nostalgia dos anos 90, quando aparecem o maravilhoso Nick Fury, de Samuel L. ‘Muthafuckin’ Jackson, e o agente Coulson, de Clark Gregg, aqui retratado como um novato, quase um estagiário na S.H.I.E.L.D..
A química de parceiros policiais de Brie com Samuel L Jackson é tão divertida e seu relacionamento com a amiga Maria Rambeau (Lashana Lynch) é tão emocionante para o coração da história que guarda até mesmo uma curiosidade: Carol é, também, uma das melhores amigas de Jessica Jones, e deveria aparecer no seriado da personagem, produzido pela Netflix, não fosse o fato de ter ganho um filme solo. Mas Jessica e Netflix perderam suas chances pois Lashana faz um trabalho incrível com sua filha Mônica Rambeau (Akira Akbar) e são o elo emocional com o passado de Carol. Some a isso, a trilha sonora dos anos 90 com direito a clássicos do Nirvana e a protagonista vestida com camisa de Guns’N Roses e Nine Inch Nails, e temos motivos suficientes para irmos nos entreter na sala escura. Destaque também para as roubadas de cena de Ben Mendelsohn, o líder Skrull Talos.
A PARTIR DAQUI, O TEXTO CONTÉM SPOILERS
Focando na parte dramática, se Nick Fury pode ser considerado responsável por ajudar Vers a descobrir sua conexão com seu passado e seu velho mundo, é Talos quem garante a grande virada da história e onde enxergamos o real inimigo. Vale lembrar também que é aqui onde vemos como o Tesseract ressurge após desaparecer em Capitão América: O Primeiro Vingador (2011). Ele não estava em Os Vingadores (2012) por acaso. Ah, e como podemos esquecer o gatinho alienígena Goose? O bichano mais fofo do MCU é justamente o responsável por guardar o artefato e também por um certo tapa-olho.
Capitã Marvel, como um todo, passeia por ação implacável e humor impagável. Destaque para as cenas das lutas finais e tudo que remete aos anos 90 desde a internet discada às locadoras Blockbusters. Mas, justamente pelo toque social dos diretores Anna Boden e Ryan Fleck, somados ao forte ativismo da atriz Brie Larson, o longa passa uma mensagem de empoderamento feminino como nunca visto antes. Nem mesmo em Mulher-Maravilha (2017). Não à toa, a Marvel Studios está apostando todas as fichas em Carol Danvers para encostar ou até mesmo superar o resultado da concorrente amazona, que somou mais de U$ 800 milhões em bilheteria.
A batalha final faz uma junção importante na história da personagem ao revelar todo o poder da Capitã e, para os conhecedores dos quadrinhos, nos lembrar a personagem Binária, versão estelar de Carol Danvers. Mas, num todo, a presença da personagem de Brie Larson apresentada neste filme é tão grandiosa que inspirou o nome do próprio supergrupo da Marvel: Carol ‘Avenger’ Danvers é o nome da piloto num avião antes de tudo acontecer e que faz Nick Fury pensar a respeito da Iniciativa Vingadores. E sem falar do poder da Capitã que poderia destruir até mesmo uma das pedras da manopla de Thanos. A conferir.
O que sabemos mesmo é que sobrou para a heroína a grande responsabilidade de salvar os super-heróis varridos da face da Terra pelo vilão em Vingadores: Guerra Infinita. Duvida? Então vamos dizer agora qual foi a cena que fez a imprensa inteira pirar: a cena pós-créditos. Como geral sabe, após todos sumirem em Guerra Infinita, um Nick Fury também prestes a virar cinzas manda uma pedido de ajuda à Capitã com o auxílio de um bip que foi entregue a ele no filme da Capitã, com ordem expressa de só chamá-la num perigo indescritível e incomparável, mas onde exatamente ela está e o que está fazendo não se sabe. É aí que chega a cena que vai criar a conexão mais F@#&$ desde a a primeira aparição de Nick Fury em Homem de Ferro (2008). Capitão América, Viúva Negra, James Rhodes e Bruce Banner estão ainda debatendo tudo o que aconteceu e não entendem como aquele bip funciona quando ele simplesmente para e então tentam conectar o aparelho novamente. Neste momento, surge a mais poderosa do MCU e pergunta: “Onde está Fury?” Preciso dizer a ovação que foi o cinema no momento?
Para finalizar (porque está na hora), Capitã Marvel tem uma ótima vibe sci-fi dos anos 90, com um tom diferente de qualquer outro filme da Marvel, de verdade. É retrô e alucinante, misterioso e engajado, além de ser engraçado em lugares surpreendentes e forte nos momentos certos. E continua sendo entretenimento porque está sempre mudando. Acertou em cheio.
Evidente que com tanto discurso social e prestes a ser exibido num mundo tão machista e apegado ao politicamente incorreto como forma de justificar preconceitos e laranjas, Capitã Marvel já está sofrendo nas mãos de haters. Mas, nossa heroína já está preparada para isso. E os sites especializados também, visto o que também aconteceu com Pantera Negra (2018) na época de seu lançamento e hoje nós vemos no que o filme se transformou.
A Capitã Marvel de sua intérprete Brie Larson e seu casal de diretores Anna Boden e Ryan Fleck não precisa provar nada a ninguém. Ela simplesmente é – e sempre foi – a menina teimosa e destemida que tod(x)s gostam de pensar que foram, são ou querem ser. É uma heroína do novo milênio para mostrar a tod(x)s que não creem em representatividade que o mundo mudou. Ou se adaptam ou serão derrotados. Isso já é mais do que suficiente para enfrentar todo o sistema patriarcal e vigente do mundo hoje. E o fato de ser mais poderosa que o Superman também ajuda. O Universo Cinematográfico da Marvel parece muito mais completo agora que a Capitã Marvel faz parte dele. Thanos que se cuide…e os machistas também.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Captain Marvel
Direção: Anna Boden, Ryan Fleck
Elenco: Brie Larson, Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Djimon Hounsou, Lee Pace, Lashana Lynch, Gemma Chan, Annette Bening, Clark Gregg, Jude Law
Distribuição: Disney/Marvel Studios
Data de estreia: qui, 07/03/19
País: Estados Unidos
Duração: 124 minutos
Gênero: Aventura, Comédia, Ação
Ano de produção: 2019
Classificação: 12 anos