CRÍTICA | ‘Compra-me um Revólver’
Beatriz Trindade
Do mesmo diretor de “Te Prometo a Anarquia”, Julio Hernández Cordón, Compra-me um Revólver (Cómprame un Revolver) se passa em um México atemporal e distópico onde, acima de tudo, impera uma realidade violenta entre armas e cartéis. Lá, vive Huck, uma menina com traje de beisebol e máscara do Hulk. Dessa forma, ela esconde seu gênero pelo fato de que as mulheres são, de maneira severa e constante, vítimas do caos. A história da garota e seu pai é narrada pela própria personagem e mostra os acontecimentos de acordo com ela. O longa foi exibido primeiramente no Festival de Cannes de 2018.
Leia mais:
– CRÍTICA | ‘ROCKETMAN’
– CRÍTICA | ‘GODZILLA II: REI DOS MONSTROS’
– CINÉPOLIS INAUGURA NOVA SALA PARA CRIANÇAS
Antes de mais nada, o pai da menina é viciado e trabalha como zelador do campo de beisebol em que os traficantes treinam, até que é convidado para tocar em uma comemoração dos criminosos. Os protagonistas tentam a todo custo lutar para permanecerem vivos. Ao mesmo tempo, são exploradas histórias de amor paterno e amizade. A relação de Huck com um grupo de meninos dá a trama um toque de fábula em meio à opressão em que estão expostos. A garota resiste sonhando, com doçura, contrariando a realidade do meio, que não a oferece nenhuma promessa de melhora.
Compra-me um Revólver é cheio de referências a Mad Max em sua estética, quando explora cenários quase desérticos, demonstrando escassez, sem uso de cores vivas, atores e elementos em cena cobertos por poeira. Apesar de não usar da vibração de cores, tons derivados de laranja e amarelo parecem ter tido a função de criar esse aspecto de ressecamento. À parte disso, vem o olhar da criança sob essas questões em que é oferecido um olhar lúdico. Muitas vezes substituindo sangue e corpos por tinta e desenhos no lugar. Ainda falando sobre a influência do filme da Imperatriz Furiosa, o ritmo ditado na história de Huck e seu pai é agitado, abusando de cenas intensas, violentas que ostentam agressividade, morte e armamentos pesados.
Doçura
Mesmo nesse local de profunda hostilidade, a delicadeza do amor entre pai e filha comovem. Sob o mesmo ponto de vista da criança, o pai é um homem de sorte e, na verdade, a proteção que ele oferece à ela (o que a menina acredita ser sorte) é o único bem que tem a oferecer. Além da difícil tarefa de se manter viva, Huck tenta ajudar seus amigos, meninos que, mesmo nessa atmosfera violenta, oferecem leveza como os meninos perdidos em Peter Pan. Nessa segunda narrativa, mergulhamos na missão de Huck e dos meninos contra a um dos integrantes do cartel, no estilo de aventuras contra o Capitão Gancho.
É dessa forma, com essa mesma doçura, que enfrentam a acidez do lugar e protagonizam cenas que rendem belas fotografias. A dureza da vida com a fantasia infantil da protagonista dá ao filme a narração perfeita. Assim, quebra o impacto das dificuldades vivida pela personagem, conferindo um ar de fábula.
Compra-me um Revólver é um convite à reflexão a partir da luz de problemas que já vivemos socialmente. Fatos como criminalidade e vulnerabilidade de grupos, por exemplo, de mulheres e crianças. A história de Huck, apesar da distopia e do clima anárquico, chama a atenção a conferir a naturalização da violência já nos dias de hoje. Filmaço.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Cómprame un Revolver
Direção: Julio Hernández Cordón
Elenco: Ángel Leonel Corral, Fabiana Hernandez, Matilde Hernandez
Distribuição: Pandora Filmes
Data de estreia: qui, 30/05/19
País: México, Colômbia
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 84 minutos
Classificação: 16 anos