Crítica de Álbum: Arcade Fire – “Reflektor”

Stenlånd Leandro

O novo disco do Arcade Fire, “Reflektor” tem na sonoridade os seus principais defeitos e virtudes. Ao mesmo tempo em que a banda busca uma sonoridade antiga para os teclados, com o baixo dançante, grave, e a bateria bem seca (característicos de discos pop da década de 1970, como Earth, Wind and Fire e Cool and the Gang), o CD tem um som abafado, muito comprimido e com diferenças de sonoridade entre uma faixa e outra. Não há dinâmica feita pelos músicos, mas, apenas, pelas mãos do técnico de som. Sonoridade à parte, a pegada pop com elementos do rock (levadas de bateria, guitarras, etc.) e os vocais, são os pontos altos do álbum.

“Reflektor” ,com bons arranjos de teclado e levada bem pop, me remeteu à sonoridade de algumas bandas, como Radiohead e U2. É uma boa faixa de abertura, e, como é a música que nomeia o trabalho, serve como um bom cartão de apresentação. É animada e diz a que veio o disco.

Não há como não evocar Michael Jackson, com o riff de baixo de “We Exist”. Apesar de não serem tão competentes quando o astro pop e seu produtor Quincy Jones, nessa música a banda consegue uma boa pegada dançante, com interessantes arranjos de guitarra e teclado. As guitarras em estéreo, uma boa ideia, ajudaram a amalgamar o arranjo das guitarras com o teclado, de forma a não embolar as sonoridades. Mais uma vez aparecem bons arranjos de vocais.

“Flashbulb eyes”. Muito bom o resultado desta canção. Lembrou-me muito a influência dub no som dos Paralamas do Sucesso. Os teclados e delays utilizados, igualmente lembram bastante o disco “Bora Bora”, dos Paralamas. Os efeitos da voz, que eu normalmente não gosto, são extremamente pertinentes, dando à música uma sonoridade mais etérea. A guitarra e os teclados fazendo bons riffs curtos, característica marcante da banda que funde muito bem a sonoridade desses dois instrumentos.

arcade-fire-reflektor-promo-photo

“Here Comes the Night Time” começa parecendo que será a música mais animada do disco. Mas, de repente, o andamento cai e a voz entra sobre um riff de teclado e a bateria. Nessa canção podemos notar bem um arranjo em “camadas”: cada instrumento entra em um momento para dar um clima diferente, e estes nunca se repetem, o que torna a música extremamente interessante do ponto de vista musical. O baixo e os arranjos de teclado são o ponto alto. A discoteca do fim só não fica melhor pelo excesso do uso de compressores, o que acaba com a dinâmica, dificultando a percepção entre um som fraco, de um forte; de um som meio fraco, de um meio forte. É praticamente tudo forte o tempo todo. Como se tudo tivesse que soar o mais alto possível. Isso cansa bastante o ouvinte, e é uma característica muito ruim, não só deste disco do Arcade Fire, como do mercado pop no mundo inteiro.

“Normal Person” é a faixa mais rock and roll do disco. Tem o teclado como fio condutor da sonoridade, bons timbres de guitarra, e um refrão forte, com boa interpretação do vocalista, que se vale bastante das nuances de voz (que só não aparecem mais pelo excesso de compressão no som).

“You Already know” aparece com mais guitarras do que as outras canções. O baixo, sempre com boas linhas, tem uma sonoridade um pouco diferente das outras faixas, é um pouco menos grave, e apesar de não ter tanto destaque quanto nas outras músicas, aparece bem mais uma vez. É mais roqueira do que pop. É o tipo da música acertada para fechar show, graças ao refrão forte, bem pra cima, e a uma pegada bem rock n’ roll. É uma das canções que eu adoraria assistir ao vivo, porque acredito que funcioná muito bem.

“Joan of Arc” vem seguindo a linha rock n’ roll. Os timbres, bem escolhidos pela banda, perduram nesta boa canção, que me lembrou bastante algumas coisas do David Bowie. Um refrão e uma linha de baixo muito bons, são o fio condutor da música. O som abafado da masterização e o excesso de compressão incomodaram-me um pouco mais nessa faixa do que nas outras.

“Here Comes the Night Time II” Nesta segunda versão, a música tem arranjos de teclado bem mais elaborados. Achei bem mais interessante. Compõe bem a história do disco e entra no local certo, da maneira certa, com o arranjo certo. Uma das melhores canções do disco.

Arcade-Fire-Reflektors

“Awful Sound (on Eurydice)” Um bom riff abre esta canção. Os bons timbres de guitarra e teclado, que marcaram o disco até então, permanecem presentes nessa música já no início. Excelentes os vocais no refrão desta canção que se mostrou uma das mais radiofônicas do disco. Uma música com o clima que já começa a antecipar o fim do disco. Muito bem alocada, com arranjos muito bons, com alguns sons de teclado mais modernos do que nas canções anteriores.

“It’s Never Over (On Orpheus)” Mais uma música começando em fade in. Quase todas as canções do disco começam assim, o que, a essa altura, me incomodou pela falta de criatividade para iniciar os arranjos. Na sequência há um bom riff de guitarra, e só aí a música parece começar de fato. Com batidas mais eletrônicas e um pouco menos de criatividade nos arranjos, é a faixa mais fraca do álbum. Alguns efeitos de teclado estão muito altos. Os vocais são o ponto alto desta confusa canção.

“Porno” começa com fortes influencias de hip hop americano. Os bons timbres de teclado, relembrando os anos 80, estão de volta nesta canção. Os teclados e os vocais são seus fios condutores. O arranjo é um dos mais interessantes do disco: com boas variações e o teclado em ostinato, o tempo todo, complementam o ritmo da bateria e do baixo, com efeitos muito estimulantes. A sonoridade do baixo também relembra os efeitos dados ao instrumento nos anos 70/80.

“Afterlife” Logo de cara, o início animado empolga pela boa levada da bateria e pelos bons vocais. Os teclados e as guitarras, mais uma vez, são o ponto alto desta canção pop, com fortes influências de rock n’ roll. O que me chamou bastante atenção foi a quase ausência de efeitos na voz. O que achei ótimo, pois dá uma descansada daquele timbre distante, que a voz teve na maioria das canções. Excelente música, oportuna e bem colocada no fim do disco.

“Supersymmetry” Bons vocais marcam o início da música com uma levada eletrônica misturando congas e bateria, com um pad de teclado bem ao fundo. A canção vem crescendo aos poucos e os vocais e os teclados vão se mostrando bastante oportunos. Música de fim de disco, excelente para encerrar o disco com gosto de quero mais.

Em linhas gerais o disco é muito bom. Incomodou-me bastante o som abafado e extremamente comprimido, mas aí não é um problema da banda em si, mas da indústria da música pop, que cada vez mais não valoriza a música com sonoridade mais natural, com dinâmica: tudo tem que ser sempre no volume máximo e com muito grave, já que os autofalantes dos laptops ou dos fones (onde a maior parte das pessoas escuta música) são muito agudos e não têm quase grave nenhum. Incomodou-me também o fato das dinâmicas terem sido realizadas todas com automação de volume – dinâmica é diferença de intensidade e não só de volume. Com certeza isso compromete o resultado final de qualquer trabalho musical. Os excelentes arranjos de teclado e os ótimos vocais também me surpreenderam positivamente. O fato de a banda tentar buscar a sonoridade dos anos 70/80 igualmente me animou bastante. Arcade Fire é uma das bandas que melhor mistura o eletrônico com o acústico.

O disco é muito bom, mas não chega a ser ótimo. Vale ouvir.

Stenlånd Leandro

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
NAN