Daniel Craig stars as James Bond in Metro-Goldwyn-Mayer Pictures/Columbia Pictures/EON Productions’ action adventure SPECTRE.

Crítica de Filme | 007 contra Spectre

Bernardo Moura

No 24º filme do agente cinquentão britânico James Bond (Daniel Craig), Sam Mendes, o mesmo diretor de “007- Operação Skyfall” (2012) continua com a linha de pensamento do filme anterior em 007 contra Spectre. Ao contrário do que imaginávamos em 2012, “Skyfall” não fechou um ciclo. Ele apenas preparou o público para o grande ápice, em 2015. Com a direção, o roteiro e a fotografia impressionantes, o longa – metragem se destaca entre os melhores do ano (e um dos melhores da franquia).

Então, recapitulando: em “Cassino Royale” (2006), com direção de Michael Campbell, tivemos a reinvenção do protagonista. Lá, vimos a desconstrução do personagem como nunca na história da adaptação do conto de Ian Flemming para a telona. O teste a seu psicológico e ao coração, a possibilidade de erros e sentimentos nunca expressados tornaram-no um agente mais humano. Reparamos esta premissa também, mas de forma bem branda em “Quantum of Solace” (2008), de Marc Forster,  e em seguida, com força total em “Operação Skyfall”.

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Sam Mendes apostou numa reconstrução do personagem, como se ele mesmo fosse o terapeuta do agente mais temido de todos os tempos. E, claro, colocou o público de voyeur desta sessão de duas horas e vinte e três minutos. O  cuidado com as cenas de luta e os diálogos foram várias cerejas  naquele bolo, que, antes de sua chegada, já estava bem insosso, com cenas absurdas e um montão de clichês. Ali, o embate do novo com o velho esteve presente. A cena, em um museu, onde James conhece o novo fornecedor de arsenal e aparatos tecnológicos, Q (Ben Wishaw), um jovem geek com idade para ser seu filho, contemplando um quadro, ilustra bem esta realidade. Na cena, Bond não acreditava na competência do jovem e caçoava do pobre rapaz. Tivemos aí um conflito ideológico.

É deste tipo de conflito ideológico que 007 contra Spectre está inserido. Se em “Skyfall”, o novo lutava com o antigo na resistência, no vigor físico, agora, em “Spectre”, em plena era da informação, na era do olho que tudo vê, a informação rápida e disponível em qualquer lugar debate com o poderio dos governos/governantes que ainda precisam de armas e reuniões secretas para ter o que querem. Esta é a premissa central do filme. Ou seja, (o) um começo.

Graças à M. (Judi Dench), o magnífico Daniel Craig faz o Bond lutar por aquilo que almeja para um futuro coletivo melhor. E não apenas pela perda de seu emprego e de seus colegas de trabalho. Como diz uma fala do seu antagonista regular Franz Oberhauser (Christoph Waltz): “Conhecimento é fonte de poder”. E James Bond não quer que este poder caia em mãos erradas.  Já a Bondgirl desta vez faz jus ao título. Léa Seydoux está à altura de seu parceiro. Desde Vesper (Eva Green), uma “namorada” de Bond não apresentava um papel tão construído e fora de clichês como o dela. Em algumas cenas, Léa se destacava perante aos demais, como outras Bondgirls já o fizeram ao longo da trajetória. Foi uma surpresa agradável.

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A fotografia do filme é excelente. Tanto diurna quanto noturna. Mendes não esqueceu de explorar ângulos pouco vistos e ainda homenageou a outros longas da franquia com tomadas que marcaram a memória do espectador. Retirando estas homenagens da obra, podemos degustar cenas que nos farão lembrar daqui a 25 anos. Por exemplo: a sequência da reunião da organização no qual Bond tanto teme é incrível. Sam mescla suas paletas de luz e sombras de uma forma bem impressionante. Só para você ter uma ideia, ele consegue apresentar o vilão apenas com a voz e faz todo um suspense em menos de 40 minutos de fita.

Sim, foi isso mesmo o que você leu. Doses de suspense e terror foram usados aqui. Sem contar que o diretor proporciona sentimentos novos ao espectador, como pena e desespero. Em alguns momentos, me flagrei balançando minha perna direita involuntariamente.

Não podemos esquecer em hipótese alguma do roteiro. Os roteiristas John Logan, Neal Purvis e Robert Wade, os mesmos de “Skyfall”, brilharam como a luz mais potente do universo. Como falei ali em cima, eles homenagearam os filmes anteriores. A cena em que Bond e Vesper se conhecem no trem e a da perseguição ao Bond, de Pierce Brosnan, em “007 contra Goldeneye” (1995), na neve, foram algumas das lembradas. Enfim, para quem é fã ou gosta destes detalhes vai perceber o enfileiramento de homenagens ao longo das duas horas e vinte e oito minutos – o filme mais longo da franquia.

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Sabiamente, eles deram a impressão que a sessão de terapia enfrentada por Bond no filme anterior deu resultado. Agora, ele é um misto de sentimentos e conflitos em um homem completo. Não à toa, a abertura com a canção – tema “Writings On The Wall”, cantada por Sam Smith, mostra exatamente isso. James Bond agora está bem consigo mesmo e vai em busca disso.

O filme fecha um ciclo e ao mesmo tempo começa outro. Sam Mendes nos mostra que há muito pela frente para o nosso agente britânico.  Eles nos faz acreditar nas três palavras que aparecem no final do filme, pós – créditos: “James Bond voltará”. E enquanto ele não volta, 007 contra Spectre é um filme muito bom e que vale muito ser visto. Sinceramente, estas 5 estrelas aqui do BLAH CULTURAL estão pouco para a magnitude que o filme apresenta. É daquelas obras-primas para ver e rever até cansar. Bom filme!

FICHA TÉCNICA:

Direção: Sam Mendes

Elenco: Daniel Craig, Christoph Waltz, Léa Seydoux, Monica Belucci, Naomie Harris, Ralph Fiennes, Ben Wishaw, Rory Kenear, Jesper Christensenn.

Roteiro: John Logan, Neal Purvis, Robert Wade

Produção:Barbara Broccoli, Daniel Craig, Roberto Malerba, Callum McDougall

Trilha Sonora: Thomas Newman

Fotografia: Hoyte Van Hoytema

Edição: Lee Smith

Gênero: Ação, Aventura e Thriller

Países: Estados Unidos e Reino Unido

Duração: 148 min

Bernardo Moura

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