Crítica de Filme | A Colina Escarlate

Bruno Giacobbo

Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que A Colina Escarlate, novo longa-metragem do mexicano Guillermo del Toro, cumpre sua premissa básica: ele é capaz de dar bons sustos. Por algumas que me peguei apertando o braço da cadeira do cinema. Talvez seja estranho falar isto de uma obra classificada como terror, mas em tempos de filmes que provocam risos involuntários, este acaba sendo um mérito e tanto. E ele ainda tem um plus: é um espetáculo visual de primeira grandeza. Como tudo que o cineasta asteca dirige, com especial destaque para “O Labirinto do Fauno” (2006) e “Círculo de Fogo” (2013), a produção é de qualidade irretocável. Alguém pode até não gostar dos trabalhos dele por outros motivos, mas falar mal da parte técnica de suas obras é algo quase impossível.

O filme conta a história de Edith Cushing (Mia Wasikowska), uma aspirante à escritora que, desde pequena, possui o dom de ver fantasmas. Órfã de mãe, ela vive com o pai, Carter Cushing (Jim Beaver), um rico construtor, em Buffalo, nos Estados Unidos. Tudo corre tranquilo na cidade até a chegada dos irmãos Thomas Sharpe (Tom Hiddleston) e Lucille Sharpe (Jessica Chastain). Integrantes da nobreza britânica, eles geram uma agitação incomum na provinciana sociedade local. O efeito nas pessoas é imediato, principalmente em Edith que se apaixonará pelo nobre. E apesar dos reiterados avisos do pai e do jovem médico Alan McMichael (Charlie Hunnan), os únicos que parecem imunes aos fascínios dos forasteiros, ela aceitará se casar com Thomas, se mudar para Inglaterra e morar em uma assustadora mansão.

Em algumas entrevistas, del Toro revelou que sua intenção sempre foi que a casa onde os protagonistas morariam, após o casamento, fosse um personagem tão importante quanto qualquer outro. Para isto, ele conseguiu convencer o estúdio a construir do nada, no set de filmagens, a mansão que, aos poucos, perturbará o juízo de Edith. Tudo nela foi projetado exclusivamente para o filme. E como era de se esperar, a decisão foi um grande acerto. Com todos os seus fantasmas vagando pelas sombras e lufadas de vento que mais parecem a respiração de uma pessoa assustada, o cenário é de fato assustador. Em conjunto com a bela fotografia de tons vivos e berrantes; e os ótimos efeitos especiais, quase dá para esquecer que há, ainda, uma intrigante trama de mistério.

O roteiro escrito a quatro mãos, por del Toro em parceria com o roteirista Matthew Robbins, que apesar de não ser muito conhecido aqui no Brasil, é co-autor de clássicos como “Loucas Escapadas” (1974) e “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” (1977), consegue manter o nível de suspense lá em cima e guarda algumas surpresas para o fim, por mais que, prestando atenção nos mínimos detalhes, dê para intuir o que vai acontecer. No elenco estrelado de A Colina Escarlate, apesar da presença de Jessica Chastain, o destaque vai para Mia Wasikowska que depois de estrelar “Segredos de Sangue” (2013), “Mapa para as Estrelas” e “Amantes Eternos”, ambos de 2014, se consolida, cada vez mais, como a queridinha dos autores de suspense e terror.

Desliguem os celulares e ótima diversão.

(Filme assistido no 17º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro).

FICHA TÉNICA:

Direção, roteiro e produção: Guillermo del Toro

Co-roteirista: Matthew Robbins

Co-produção: Callum Greene, Jon Jashni e Thomas Tull

Elenco: Mia Wasikowska, Tom Hiddleston, Jessica Chastain, Charlie Hunnan, Jim Beaver, Leslie Hope, Burn Gorman, Laura Waddell e Doug Jones

Direção de Fotografia: Dan Laustsen

Edição: Bernat Vilaplana

Duração: 118 minutos

País: Estados Unidos

Ano: 2015

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN