Crítica de Filme | A Garota Dinamarquesa

Giselle Costa Rosa

Sim, A Garota Dinamarquesa tem relevância pelo tema, mas não vai muito além de colocar na tela um assunto que atrai muita atenção, curiosidade, preconceito, até mesmo ódio. Talvez o que mais sobressalte, quando se fala de transexualidade, seja a não compreensão do que isso significa, não só epistemologicamente – com toda a dificuldade de entender a diferença, não assimilável às tradicionais categorizações dicotômicas masculino e feminino, como também as implicações dentro da bioética.

O longa fala sobre o pintor dinamarquês relativamente conhecido Einar Wegener, uma das primeiras pessoas a se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo, tornando-se uma mulher chamada Lili Elbe. Isso na década de 1920.

O diretor Tom Hooper (“O Discurso do Rei”) faz uma leitura um tanto rasa sobre a história e o roteiro de Lucinda Coxon não ajuda. Parece que do dia pra noite o pintor, vivido pelo ganhador do Oscar de Melhor Ator em 2015 pelo filme “A Teoria de Tudo”, Eddie Redmayne, percebesse  que estava vivendo uma identidade errada até um determinado momento.  Não existe um arcabouço bem fundado por detrás dessa mudança.

Para além disso, vemos uma construção mediana e cheia de clichês para mostrar como antes Wegener era “normal” e feliz com sua então esposa, a pintora Gerda Wegener (Alicia Vikander). Juntos eles parecem causar até inveja aos demais por tamanho entrosamento e cumplicidade. Redmayne faz um trabalho belo, se mantendo em alto nível depois da derrapada em “O Destino de Júpiter”. Seu olhar, gestos, modo de andar e postura demonstram completo domínio do papel sem que fosse preciso mudanças maiores na voz para expor toda a feminilidade contida no personagem. Já Vikander cumpre bem o papel da esposa que ao mesmo tempo que quer apoiar o marido, ressente-se pelo caminho escolhido por ele.

A busca pelo exercício da autonomia pessoal de Wegener estampa a de tantos outros seres humanos que sentem que há um desejo de realizar modificações sobre o próprio corpo, inclusive quanto a seu sexo, de acordo com seu desejo legítimo de estar bem e em sintonia consigo. Tema muito bem exposto e exemplificado no documentário brasileiro “Protagonismo Trans”, de Luis Carlos de Alencar.

A produção tem um figurino de época muito bem trabalhado. Já a trilha sonora é, por vezes, bem melancólica, acompanhada da não faltante chuva, tornando as coisas mais “dramáticas”. Um roteiro com com uma argumentação mais robusta e projetada daria maiores ferramentas para o longa ter uma maior relevância, fugindo dos clichês. Tudo muito previsível, tirando a oportunidade do espectador adentrar mais na história. No entanto, não deixa de ter sua importância ao  dar visibilidade ao tema.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: The Danish Girl
Direção: Tom Hooper
Elenco: Eddie Redmayne, Amber Heard, Alicia Vikander
Roteiro: Lucinda Coxon
Fotografia: Danny Cohen
Montagem: Melanie Oliver
Direção de arte: Eve Stewart
Figurino: Paco Delgado
Música: Alexandre Desplat
Duração: 119 min
Gênero: drama

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
NAN