Crítica de Filme: Alemão

Bruno Giacobbo

Sou capaz de me lembrar exatamente onde estava e o que fazia no dia da retomada do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Era um domingo, 28 de novembro de 2010. Na época, eu morava em São Paulo e alguns amigos cariocas estavam na minha casa para assistirmos a Fluminense e Palmeiras, pela penúltima rodada do Campeonato Brasileiro. Este tipo de lembrança permanece forte, como se tivesse acabado de acontecer, porque eventos como este, de uma forma ou de outra, causam grande impacto coletivo, marcando a vida de quem testemunhou a história acontecer diante dos seus olhos.

Dito isto, a fórmula mais segura de fazer um filme sobre o assunto seria mostrar toda a preparação por parte das autoridades para a invasão. Um longa-metragem onde os policiais seriam os heróis, os traficantes os criminosos e o povo oprimido receberia com fanfarras as tropas governamentais. Seria, mas não foi este o caminho escolhido para o ótimo Alemãoem cartaz nos cinemas de todo o Brasil, a partir de quinta-feira, dia 13 de março.

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Na história concebida pelo produtor Rodrigo Teixeira e dirigida por José Eduardo Belmonte, Samuel (Caio Blat), Carlinhos (Marcelo Melo Junior), Branco (Milhem Cortaz), Danilo (Gabriel Braga Nunes) e Doca (Otávio Müller) são cinco policiais que vivem infiltrados no Alemão. A missão do grupo é mapear todo o conjunto de favelas para que a invasão seja um sucesso. No entanto, quando o trabalho está praticamente concluído, suas identidades são descobertas pelo chefe do tráfico, Playboy (Cauã Reymond). Daí para frente, enfurnados no porão de uma pizzaria, uma espécie de bunker improvisado, eles terão que resistir e lutar, desesperadamente, por sua sobrevivência.

O resultado desta ideia é um filme incomum, completamente diferente do que o público brasileiro está acostumado em relação a obras policiais de ação. Ao contrário dos excelentes “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus“; ou dos horrorosos “Federal” e “Segurança Nacional”, Alemão se passa em grande parte dentro de um ambiente fechado, sujo e claustrofóbico. Tiros em demasia, explosões e corpos dilacerados são vistos apenas em sua reta final. Desta forma, muito mais do que um policial, temos, aqui, um denso drama psicológico.

A fórmula funciona com perfeição graças a um conjunto de fatores. O primeiro deles é a interpretação dos cinco homens escolhidos para os papéis principais Todos, com especial destaque para Cortaz, estão muito bem. As origens de seus personagens, delineadas com sutileza no roteiro, somadas a presença da bela Mariana Nunes nas cenas do porão, servem para apimentar a relação do grupo e aumentar gradativamente o clima de tensão. Completam este conjunto os competentes trabalhos de fotografia e direção de arte que ajudam a transportar o espectador para o centro da confusão.

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O longa-metragem conta, ainda, com a participação especial de Antônio Fagundes. O veterano ator interpreta o delegado Roberto Valadares, chefe dos agentes infiltrados e pai do personagem de Blat. Seu papel é pequeno, mas a única cena em que ele contracena com o ‘filho’ emociona de verdade.

Rodado em escassos 18 dias e com um orçamento reduzidíssimo, Alemão não receberá uma nota maior deste crítico porque tem um sério problema que, cada vez mais, parece atrapalhar as obras cinematográficas e televisivas feitas no Brasil: a péssima edição de som. Assim como na minissérie global “A Teia”, em alguns momentos é simplesmente impossível entender o que falam os atores.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: O fato de ser um drama psicológico e não um filme de ação qualquer. Os cinco protagonistas. A fotografia e a direção de arte.

QUEIMOU O FILME: A péssima edição de som. Definitivamente, Cauã Reymond não convence como vilão.
FICHA TÉCNICA:
Diretor: José Eduardo Belmonte.
Elenco: Caio Blat, Marcelo Melo Junior, Milhem Cortaz, Gabriel Braga Nunes, Otávio Müller, Mariana Nunes, Antonio Fagundes, Cauã Reymond, Aisha Jambo, Alcemar Vieira, Andrea Cavalcanti, Izak Dahora, Jefferson Brasil, MC Smith, Marco Sorriso, Micael Borges.
Produção: Rodrigo Teixeira, Raphael Mesquita, Ângelo Defanti e Cauã Reymond.
Roteiro: Gabriel Martins e Rodrigo Teixeira (ideia original).
Fotografia: Alexandre Ramos.
Direção de Arte: Denis Netto.
Montagem: Bruno Lasevicius.
Trilha Sonora: Guilherme e Gustavo Garbato.
Edição de Som: Alessandro Laroca.
Duração: 109 min.
Ano: 2013

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN