Documentário ‘Amy’ mostra que não há somente um único culpado
Bianca Moreira
Amy é um documentário visceral, agressivo, íntimo e intenso que narra a trágica queda do Amy Winehouse, um prodígio musical incessantemente perseguido pelos tabloides. É, sobretudo, a investigação de uma história que teve um fim sem sentido, beirando o irracional. A autodestruição de uma artista que alcançou o auge de sua carreira, fama e sucesso.
Montado a partir de 100 entrevistas e incorporando 20 meses de edição, em um processo que levou três anos no total, o filme Amy conta com depoimentos da cantora; bem como de seus pais; do ex-marido Blake Civil Fielder; de sua melhor amiga; de produtores com os quais trabalhou e tornou-se amiga como Salaam Remi; e, entre outros, Tony Bennett, o último artista com quem trabalhou e de quem era fã.
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Olhar sobre a tragédia
A saber, o documentário transcende o aspecto de uma história linear de como Amy chegou ao fim de sua vida. Asif Kapadia conseguiu, de forma exemplar, olhar para aquele extremo. Além disso, captou o porquê e como tudo aquilo chegou a tal ponto abordando aspectos relevantes sobre quem era Amy Winehouse, quem a inspirava, o que a impulsionava escrever músicas e qual era a verdade por de trás de quem ela se tornou.
As primeiras cenas do filme são compostas por uma Amy adolescente e carismática que já demonstrava seu talento musical com a presença de sua voz marcante em um simples “Happy Birthday to You”.
Durante o desenrolar da trama, o espectador percebe que lhe foi apresentado uma Amy em dois estágios diferentes. O primeiro, marcado por uma época muito boa com o sucesso da turnê “Frank”, explora uma jovem destemida, simpática e com o ótimo senso de humor que, apesar de possuir alguns vícios como o consumo de álcool e de cannabis, mantinha a vida sob seu controle.
Por outro lado, o segundo, que parte do início da gravação do álbum “Back to Black”; do casamento de Amy com Blake; e de seu consequente envolvimento com o crack e a heroína. Episódio que deu início a uma caminhada barulhenta e depressiva até um silencio agonizante próximo da morte.
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As fases de Amy Winehouse na fotografia
Aliás, a fotografia do filme Amy é o elemento fundamental para a configuração dessas diferentes fases. A primeira parte é marcada por filmagens caseiras. Muitas vezes gravadas pela própria artista, nas quais a artista está olhando diretamente para a câmera. Isso passa a sensação de que está olhando e falando diretamente conosco.
No entanto, a segunda parte é composta majoritariamente por imagens produzidas pela TV e o espectador se torna audiência. A presença de Amy no longa vai se tornando ainda mais hostil e reclusa na medida em que em que as imagens produzidas por paparazzi se tornam mais presentes.
Outro aspecto interessante é a trilha sonora. As músicas produzidas por Amy foram selecionadas de acordo com cada momento de sua história. De modo que fica claro que suas músicas são intrinsecamente ligadas a sua vida pessoal.
Em “Rehab”, por exemplo, o trecho “I ain’t got the time and if my daddy thinks I’m fine” faz alusão à primeira tentativa da família de levá-la para uma clínica de reabilitação, assim como à reação despreocupada do pai que preferiu que ela não fosse.
Perseguição perturbadora
A sensação perturbadora provocada no espectador quando Amy é perseguida pelos tabloides é outra perspectiva interessante: os flashs parece nos atingir, ao mesmo tempo em que o som característico das câmeras é elevado. Transmitindo a sensação de que estamos encurralados como ela própria devia se sentir.
O filme Amy é o retrato de uma mulher que desejava atenção. Mas que, ao mesmo tempo, ficava apavorada com a ideia de se tornar famosa. Uma mulher que estava tentando encontrar uma forma de tornar seus sentimentos negativos em algo positivo e que conseguiu fazer isso através da música, sua principal válvula de escape.
Enfim, Amy é um documentário que choca por apontar o quão danoso pode ser a obsessão moderna por celebridades. Além disso, escancara até que ponto a mídia pode chegar para obter audiência com suas piadas cínicas. Por fim, nos mostra que somos parte desse ciclo. Que não há somente um único culpado.
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Trailer do filme ‘Amy’
Ficha Técnica do documentário ‘Amy’
Título original do filme: Amy
Direção: Asif Kapadia
Ano produção: 2015
Duração: 127 min
Onde assistir ao documentário ‘Amy’: Apple TV+
Gênero: documentário
Países: EUA, Reino Unido, Irlanda do Norte
Classificação: 14 anos