Crítica de filme: “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Colaboração

*** Texto do colaborador Cadu Barros ***

“Por que caímos?”

Os fãs do detetive mascarado mais famoso do cinema estavam ansiosos por este momento. Após testemunhar duas aberrações dirigidas por um maníaco que adora estátuas, cartões de crédito e mamilos, o público havia assistido à renovação do Homem-Morcego em Batman Begins e ao aperfeiçoamento dele em Batman – O Cavaleiro das Trevas. Faltava agora somente presenciar o fim. A única certeza que tínhamos era que veríamos o mais humano dos super-heróis se tornar eterno em nossas memórias, em uma trama que ao mesmo tempo testaria nossos nervos, apostaria em nossa inteligência e ainda seria capaz de provocar aplausos entusiasmados ao final da projeção.

Bem, chegou a hora. E, mais uma vez, Nolan cumpriu o que prometeu. Já nos primeiros minutos de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge podemos sentir a tensão que conduzirá toda a narrativa. O roteiro nos apresenta já de cara a três novos personagens. O primeiro deles é Bane (Tom Hardy), um vilão totalmente diferente do Coringa de Heath Ledger, e tão perigoso quanto. Hardy consegue empregar no brutamontes a mesma segurança e perspicácia que conferiu ao interessante Eames de “A Origem”(aliás, você vai rever quase todo o elenco da obra anterior de Nolan).

Bane é pura raiva, e mostra-se capaz de combater Batman de igual para igual em inteligência e força. E por falar nisso, a luta entre os dois nos esgotos de Gotham é o momento mais angustiante de toda a saga do morcego, comandada por Nolan com uma frieza poucas vezes vista nas telas. Há de se enaltecer também o excelente desenho de som, que acentua o poder destrutivo dos socos proferidos por Bane, e a brilhante decisão de não utilizar nesta cena a trilha sonora (falarei mais dela adiante) de Hans Zimmer.

O segundo personagem que debuta nos filmes do homem-morcego é John Blake (Joseph Gordon-Levitt), um dos poucos policiais não corrompidos de Gotham, que acaba se tornando também um dos grandes aliados de Batman. E assim como fez com o Arthur de “A Origem”, o jovem ator torna Blake um sujeito cativante, que também com um certo ar de mistério, segura firme algumas das melhores cenas de ação. O que não precisava era colocá-lo num conflito desnecessário no terceiro ato, que acaba prejudicando um pouco o ritmo alucinante do clímax da saga.

Mas o que seria dos filmes do Batman sem a presença feminina? Calma, ainda não falarei de quem você está pensando (sou meio sádico, rs). A última personagem do trio inédito que mencionei é Miranda Tate (Marion Cotillard, de… er… “A Origem”), a magnata que se envolve amorosamente com Bruce Wayne . O problema é que a eterna Piaf parece não encontrar aqui o tom certo (sim, piada infame… não resisti) para sua interpretação, esbarrando muitas vezes na canastrice e diminuindo assim a força que sua personagem deveria ter, especialmente no terceiro ato.

Mas nós bem sabemos que Miranda não é a única beldade a mexer com o coração do morcegão. E eis o momento de responder a pergunta que milhões de marmanjos fazem há 20 anos: ainda veremos uma Mulher-Gato tão deliciosamente perigosa e sexy como a que Michelle Pfeiffer nos apresentou em “Batman – O Retorno”? A resposta é sim. E não. Explico: Anne Hathaway conseguiu reinventar a personagem nos cinemas, conferindo a Celina Kyle uma certa malícia juvenil que a torna incrivelmente sedutora, sem precisar fazer poses ou parecer forçada. Essa é a principal diferença entre as duas encarnações da gatuna. A primeira agia intencionalmente de forma provocante, seja se esfregando na armadura de couro do Morcego ou lambendo descaradamente o rosto dele. A nova Mulher-Gato é sensual, e ponto. Ela sabe do poder de sedução que existe apenas no seu olhar e na sua agilidade assustadoramente eficaz. Isso aliado ao poder de dissimulação da ladra (e não secretária, como no filme de Tim Burton) acaba tornando-a imprevisível (bem, quase…) e ainda mais interessante. A interação de Selina com Batman (Christian Bale) é intensa desde a primeira cena dos dois (há inclusive uma cena que homenageia o filme de 1992, em que eles dançam juntos em um baile de máscaras).

E se os novos integrantes do elenco não fazem feio, as boas e velhas figuras voltam a dar show. Gary Oldman pode até estar um pouco apagado em relação ao filme anterior do Morcego (muito em função da justificada importância dada ao personagem de Joseph Gordon-Levitt), mas ainda consegue fazer do Comissário Gordon um dos personagens mais humanos da saga. Já Michael Caine, mesmo com pouco tempo de tela, nos brinda com um Alfred ainda mais sensível e dedicado ao herói, mesmo que tenha que tomar uma difícil decisão para tentar manter seu patrão a salvo. E se tínhamos alguma dúvida da genialidade de Lucius Fox, Morgan Freeman retorna para acabar com ela, e ainda nos diverte com seu sarcasmo de sempre.

Mas toda a trilogia seria um fracasso se não nos importássemos com o destino do nosso herói. E é em Christian Bale que o filme se sustenta, já que sentimos toda a angústia que o aflige, de maneira a prendermos a respiração na ja citada cena do esgoto, e vibrar (mesmo que discretamente, para que o colega sentado ao lado não se assuste) quando Bruce reaprende que todos nós um dia caímos, para depois nos levantarmos. E é essa rima do roteiro que faz da trilogia uma obra-prima, onde pequenos detalhes presentes em “Batman Begins” tomam proporções maiores e surpreendentes (ao menos para aqueles que não conhecem a fundo certos personagens).

Auxiliada pela impactante trilha sonora do mestre Hans Zimmer (de longe o melhor compositor atualmente), que mistura o clássico ao eletrônico e emprega de maneira sublime o uso das “progressões”, o terceiro capítulo comandado por Christopher Nolan faz jus à franquia também no que diz respeito às cenas de ação empolgantes. No primeiro filme da trilogia, tivemos uma sensacional luta dentro de um trem. No filme seguinte, uma eletrizante perseguição a um caminhão. Desta vez o destaque fica por conta da aeronave batizada simplesmente de “Morcego”, que corta os céus da caótica Gotham.

Portanto, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge não somente representa uma conclusão épica a uma das maiores trilogias do cinema, como também abre portas a possíveis novas aventuras do Homem-Morcego, já que ao mesmo tempo fecha magistralmente um ciclo e mostra que o legado do Batman está longe de terminar…

BEM NA FITA:

– Enredo
– Mulher-Gato
– Luta entre Batman e Bane
– Trilha sonora
– Efeitos visuais

QUEIMOU O FILME:

– Marion Cotillard
– Pouco espaço para Alfred e Gordon
– Ausência do Coringa, devido ao falecimento de Heath Ledger

FICHA TÉCNICA:

The Dark Knight Rises EUA , 2012 – 164 min. Ação
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan, David Goyer
Elenco: Christian Bale, Anne Hathaway, Tom Hardy , Joseph Gordon-Levitt, Gary Oldman, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Michael Caine

Colaboração

Aqui você encontra textos de eventuais colaboradores e leitores do ULTRAVERSO, além das primeiras contribuições de colaboradores que hoje são fixos.
NAN