Crítica de Filme: Carrie, a Estranha

Bruno Giacobbo

Lembro da primeira vez que assisti “Carrie, a Estranha”, o clássico de 1976, dirigido por um dos meus grandes ídolos, Brian De Palma. Lembro bem da sensação de que aquele não era um longa-metragem de terror comum. Ele conseguia ser assustador e poético ao mesmo tempo. As cenas de uma Carrie ainda inocente, se preparando para o baile de formatura, eram dignas daquelas películas teens, vendidas em caixinhas rosas. Mas, então, acontecia a reviravolta, afinal, aquela era uma história de Stephen King e não de Meg Cabot. Lembro que isto tudo me fascinou de tal maneira, que, hoje, o considero um dos três melhores filmes de terror de todos os tempos.

Pelas razões expostas, talvez eu não fosse a pessoa mais indicada para analisar Carrie, a Estranha, o remake de Kimberly Peirce, dona de um currículo relativamente pequeno, mas responsável pelo excelente “Meninos Não Choram” (1999). Talvez. Contudo, isto não influenciou meu julgamento e, para minha imensa surpresa e deleite, o que encontrei foi uma história com as mesmíssimas características da original. Uma tremenda bola dentro.

O erro de muitos produtores e diretores, em Hollywood, é acreditar que a refilmagem de uma obra-prima precisa ser inovadora. Em primeiro lugar, clássicos não precisam ganhar novas versões, mas, já que às vezes isto é inevitável, toda e qualquer suposta inovação deve ser deixada de lado. Este é o grande acerto de Peirce: apostar em um remake 98% fiel a obra de Brian De Palma.

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A diferença de 2% está nas partes em que a cineasta poderia mexer sem macular o filme de 1976. Com a ajuda de Lawrence D. Cohen, que escreveu os dois roteiros (o segundo em parceria com Roberto Aguirre-Sacasa), alguns aspectos da trama são aprofundados, como, por exemplo, a atribulada convivência entre Carrie (Chloë Grace Moretz, estupenda) e sua mãe, Margaret White (Julianne Moore, magnífica). Além disto, os personagens são mais complexos e bem construídos. Nesta versão, é possível acompanhar o gradual desenvolvimento dos poderes da protagonista.

Carrie não é uma heroína, mas a gente acaba torcendo por ela. Para aquelas pessoas que sempre se sentiram excluídas na escola e, vez ou outra, foram vítimas de bullying, ela serve de espelho. Quem nunca teve vontade de se vingar dos valentões ou das patricinhas? No entanto, isto não dá o direito de sermos injustos. E ao lançar, indiscriminadamente, sua vingança contra todos os presentes no baile de formatura, a personagem do primeiro longa-metragem comete uma injustiça. Este detalhe, a única coisa que me incomodava, é corrigido sem alterar a essência do clímax da obra.

Chloe Moretz;Julianne Moore

Com tantos pontos semelhantes em relação ao filme original, onde estão os defeitos da versão 2013 de Carrie, a Estranha? Fundamentalmente, na trilha sonora de Marco Beltrami, nem de longe tão impactante quanto a de Pino Donaggio. Algumas resenhas publicadas também criticam a fotografia, tida como clara demais para um terror. Entretanto, não chego a ver o trabalho de Steve Yedlin como um problema, pois, até nisto, os dois longas se assemelham bastante, sendo esta uma característica própria da película.

A história da menina criada pela mãe fanática religiosa, que resolve se vingar de seus colegas após sofrer uma humilhação na escola, estreia nesta sexta-feira, dia 6 de dezembro. Pode ser que não agrade a todos, principalmente àqueles que defendem que clássicos não devem ser refilmados, mas, com certeza, é um prato cheio para os fãs do gênero.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: As interpretações de Chloë Grace Moretz e Julianne Moore. O fato de ter conservado as principais características do filme de 1976.

QUEIMOU O FILME: Somente a trilha sonora de Marco Beltrami, que não é tão boa quanto a original.

FICHA TÉCNICA:
Diretor: Kimberly Peirce.
Elenco: Chloë Grace Moretz, Julianne Moore, Gabriella Wilde, Portia Doubleday, Ansel Elgort, Judy Greer, Alex Russell, Zoe Belkin, Barry Shabaka Henley, Karissa Strain, Katie Strain, Demetrius Joyette e Jefferson Brown.
Produção: Kevin Misher e J. Miles Dale.
Roteiro: Lawrence D. Cohen e Roberto Aguirre-Sacasa.
Fotografia: Steve Yedlin.
Direção de Arte: Nigel Churcher.
Trilha Sonora: Marco Beltrami.
Duração: 100 min.
Ano: 2013.
País: Estados Unidos.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN