Crítica de Filme | Condado Macabro
Stenlånd Leandro
”Condado Macabro” é o novo filme brasileiro, que como o nome remete, aposta no gênero de terror, este que atualmente anda defasado em opções dentro das telas de nossas terras tupiniquins.
Com realização de direção estreante de Marcos DeBrito, sendo roteiro também deste, ”Condado Macabro” aposta em referências dos cultuados filmes do gênero na década de oitenta, mas se aprofundando até demais nisso, trazendo consigo não só características boas mas como também os clichês que nos assombram muito mais do que qualquer serial killer.
Estereótipos e clichês parecem não se desgrudar dos filmes de horror, e sim, é quase (ou já é) uma marca do estilo, mas a questão é que neste filme a situação passa um pouco dos limites.
Sua abordagem em primeiro plano é, felizmente, não convencional, apesar de breve: progredindo entre cenas não cronológicas, a obra nos joga logo de cara em um interrogatório de um palhaço, o Cangaço, vivido pelas interpretações de Francisco Gaspar, as mais chamativas da história, e que é o principal suspeito de uma chacina em uma casa da qual vários jovens morreram, após ser encontrado ensaguentado no local.
Após poucos minutos, o filme muda de cena e somos guiados ao que já conhecemos e vimos centenas de vezes: cinco adolescentes que querem se desprender das obrigações e curtir a vida num local afastado da cidade e dos pais.
E aí que começa o problema:
Personagens totalmente vazios e que não despertam o mínimo interesse ao espectador e a tal trivialidade emerge a partir daqui de forma intensa: Théo (Leonardo Miggiorin), o típico garoto inseguro, que curte uma garota mas não toma iniciativa, Lena (Bia Gallo) a tal garota sensual, bonitona, que infelizmente só esta ali (como em outros filmes) para despertar atenção sendo um símbolo sexual (termo que desprezo mas é usado) ou repetidamente focada por seus atributos (close em bunda, peito etc), Beto (Rafael Raposo), o personagem mais insuportável do filme, recheado de futilidades, que só pensa em sexo e é usado como teor cômico, mas só oferece momentos dignos de pena, Mari (Larissa Queiroz) a ‘outra garota’ (adjetivos não conseguem preencher sua importância no longa), e por fim, Vanessa (Olivia de Brito), que é usada como alvo de piadas devido aos seus atributos fora do padrão (e somente isso pela película toda).
Se focando em ser uma ‘comédia’ (sem sucesso como citado) em seu primeiro ato, o longa demora um pouco para deslanchar, tendo quase depois de uma hora sua tentativa de clima sendo construído.
O enredo nos oferece momentos que não se adequam à situação, como tentativas de risadas em instantes inoportunos, quebrando a atmosfera que teve dificuldade em construir mas que até então estava sendo criada.
Mas não só de espinhos vive ”Condado Macabro”, apesar de sua realização diante do roteiro ser pífia, ele roda entre cenas bem filmadas e com uma montagem chamativa, sendo ajudada pela escolha da não-linearidade, tendo fatos que se desdobram e se relacionam estando no final ou no começo da película, e isso tudo se utilizando de algumas reviravoltas.
Outro fato positivo é a sonoplastia e alguns efeitos escolhidos: certos sons e ruídos vão aos poucos sendo expostos para causar uma estranheza boa à quem assiste, e sobre os efeitos, o ”rolo” do filme ‘se queima’ entre certos momentos, o que se torna um recurso bacana, apesar de nada muito somatório e necessário.
A caracterização e o grotesco existe, não há pudor em tentar chocar, muito sangue jorra, cortes são focados, e as caracterizações seja do ambiente e principalmente dos personagens malignos são de aplaudir, mais uma vez, citando referências (mas longe de ser plágio, cópia, ou qualquer outra canalhice).
Sendo assim, ”Condado Macabro” nos desperta sentimentos ambíguos, e nos dá uma principal percepção: poderia ser muito melhor, se por exemplo não aderisse ao vazio à alguns fatores. E apesar disso, é um trabalho bem realizado de certo modo, esforçado em suas tentativas de quebrar paradigmas, mas que por azar acaba caindo exatamente neles.
Independente de erros e problemas, é uma obra que vale a conferida, pois tenta nos oferecer algo pouco usual levando em conta a atualidade do Cinema Brasileiro.
Gênero: Terror
Direção: André de Campos Mello, Marcos DeBrito
Roteiro: Marcos DeBrito
Elenco: Bia Gallo, Francisco Gaspar, Larissa Queiroz, Leonardo Miggiorin, Paulo Vespucio Garcia, Rafael Raposo
Produção: Adriano Lírio
Fotografia: André de Campos Mello
Montador: André de Campos Mello, Marcos DeBrito
Duração: 113 min.
Ano: 2015