Crítica de Filme | Corações Famintos

Bruno Giacobbo

Enquanto imaginava uma forma de iniciar esta crítica, algumas idéias vieram à minha cabeça sobre Corações Famintos, produção italiana falada em inglês, em cartaz no Festival Internacional do Rio de Janeiro, e uma das sensações do ultimo Festival de Veneza, onde arrebatou dois prêmios para os seus protagonistas. No final das contas, a que mais me agradou foi a seguinte: trata-se, sem dúvida alguma, de um conto de fadas as avessas.

Dirigido e escrito por Saverio Constanzo, o filme traz a história do norte-americano Jude (Adam Driver) e da italiana Mina (Alba Rohrwacher). Eles se conhecem de uma maneira nada romântica. Em um banheiro de um restaurante chinês. Ela erra de porta, entra aonde não devia e eles ficam presos. Ali, em meio ao mau cheiro, nasce uma empatia imediata. Na cena seguinte, o casal já é visto na cama, apaixonado e preocupado com uma iminente transferência dela. Desta forma, ao contrário do que manda o manual dos contos de fada, a alegria e o júbilo antecedem a tristeza e o sofrimento.

A trama começa a seguir outro rumo quando Mina descobre que está grávida. No início, eles lidam bem com a novidade. Decidem se casar, festejam e juram felicidade eterna, tudo ao som de “Flashdance… What a Feeling” e da boa e velha música italiana. No entanto, quando descobrem que o bebê não está crescendo como deveria, o conto de fadas desanda de vez. Os pais amorosos passam a discordar sobre o que fazer em relação ao filho.

Corações Famintos

Da comédia ao drama, passando por uma boa dose de suspense, este é um longa-metragem bastante diferente do que o público comum está acostumado a ver. Esta alternância de gênero pode incomodar algumas pessoas, entretanto, é ela que faz desta película uma experiência tão marcante, que será impossível não pensar no filme durante os dias seguintes.

Corações Famintos tem uma direção segura, fotografia deslumbrante, trilha sonora linda e enquadramentos interessantíssimos, como, por exemplo, o que mostra Mina e o bebê, de cima para baixo, para enfatizar a magreza da mãe e do filho. Contudo, é, antes de qualquer coisa, uma obra de atuações excepcionais. Tendo como trampolim o ótimo roteiro, Driver e Rohrwacher brilham intensamente. Não foi por acaso que eles ganharam o prêmio em Veneza.

Desliguem os celulares e boa diversão.
BEM NA FITA: Interpretações, fotografia, trilha sonora, direção, roteiro, enquadramentos…
QUEIMOU O FILME: Nada.

FICHA TÉCNICA:
Título Original: Hungry Hearts
Direção: Saverio Costanzo
Roteiro: Saverio Costanzo
Elenco: Adam Driver, Alba Rohrwacher, Roberta Maxwell, Al Roffe, Geisha Otero, Jason Selvig, Victoria Cartagena, Jake Weber
Gênero: Drama/ Thriller
Produção: Mario Gianani, Lorenzo Mieli
Edição: Francesca Calvelli
Fotografia: Fabio Cianchetti
Trilha Sonora: Nicola Piovani
Figurino: Antonella Cannarozzi
País: Itália
Ano :2014

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN