Crítica de Filme | Corrente do Mal

Wilson Spiler

Com premissa de filme trash, ares de indie e acabamento profissional – até um certo ponto -, Corrente do Mal (It Follows, no original) é mais um filme de terror que deve passar batido pelas salas de cinema sem deixar maiores saudades. Não, o filme de David Robert Mitchell não tem só defeitos, mas é recheado deles. Apesar de tudo, ainda vemos algumas qualidades.

Exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes (o que causa certa perplexidade), Corrente do Mal conta a história de Jay, uma jovem de cerca de 20 anos, admirada por todos pela sua beleza. No que deveria ser uma primeira noite romântica com o novo namorado, ela descobre que uma espécie de maldição está começando a se disseminar entre os adolescentes. Mas como essa praga é transmitida? Através do sexo. Temos aqui, então, uma analogia à Aids? Talvez sim. É possível que o roteirista/diretor tenha tido a intenção de chamar a atenção dos jovens para o uso do preservativo, em uma mensagem politicamente correta, mas não convence.

Continuemos… Após a relação sexual com o rapaz, ele explica que, para se livrar da maldição, a moça precisa “retribuir o presente”, ou seja, transar com outra pessoa, que, posteriormente, precisaria se envolver sexualmente com outra e daí por diante. Aqui há um elogio a fazer: essa história toda poderia descambar em uma espécie de soft porn, mas passa longe disso.

O que deveria ser a primeira noite romântica, virou maldição

O que deveria ser a primeira noite romântica, virou maldição

De toda forma, Jay começa a ser perseguida por essa entidade maligna e passa a ser ameaçada a todo instante. Só que apenas a pessoa infectada vê esse “demônio”, apesar de ele poder atingir quem estiver à sua volta. Com a ajuda da irmã e dos amigos, eles tentam de alguma forma parar essa maldição.

Como disse anteriormente, Corrente do Mal tem seus bons momentos. Ele consegue pregar alguns sustos e criar um clima de tensão. É impossível não disparar o coração quando ouvimos o toque do bumbo. O som é um sinal de que algo perverso está para acontecer. O filme ainda começa bem, com a câmera dando a sensação de que os personagens estão sendo observados o tempo todo. A mão trêmula do cinegrafista e os takes do diretor passam uma impressão de realidade, de estarmos mais próximos da protagonista. Os quadros mais abertos utilizados pelo diretor também são qualidades a se mencionar, fugindo da mesmice de outros cineastas que utilizam quadros fechados para sustos súbitos e fáceis. Mas para por aí.

Fotografia recorrente a outras produções de terror norte-americanas

Fotografia recorrente a outras produções de terror norte-americanas

O grande problema do longa é que ele cai em diversos clichês que estamos cansados de ver nas produções norte-americanas. A criatura anda lentamente, mas sempre alcança a vítima, como já vimos diversas vezes em “Jason”, “O Massacre da Serra Elétrica”, entre outros, ampliando propositalmente o tempo de tensão; tentativas de zoom para gerar angústia; a fotografia em um tom mais escuro e sempre com alguma neblina, que demarca o subúrbio americano; a questão da mocinha sempre correr sozinha – e pro lado errado – quando mais precisa de ajuda; o humor colocado em hora estratégica para “acalmar” o espectador, mas distraí-lo para um novo susto pouco tempo depois; entre outros que precisaria escrever um livro aqui para enumera-los. Além disso, o roteiro é irregular e algumas atitudes que seriam provenientes para o fim da maldição, de uma hora para a outra não servem mais. O final, então, é uma decepção.

Os fãs do bom e velho terror devem evitar Corrente do Mal, já que o longa não deve passar de uma comédia para eles. Aos demais leitores, pode até ser um bom passatempo, mas há outros filmes e maneiras melhores de se entreter.

BEM NA FITA: Dá alguns sustos e consegue criar um pouco de tensão; quadros abertos e takes interessantes dão um ar de maior proximidade com a protagonista.

QUEIMOU O FILME: Clichês, clichês, clichês e mais clichês.

FICHA TÉCNICA:

Direção: David Robert Mitchell
Roteiro: David Robert Mitchell
Elenco: Maika Monroe, Heather Fairbanks, Keir Gilchrist
Gênero: Terror
País: Estados Unidos
Duração: 100 min.

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
NAN