Crítica de Filme | Dois Dias, Uma Noite

Stenlånd Leandro

O representante belga pré-indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015 e com direção dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne (de O Garoto da Bicicleta) chega nesta quinta-feira aos cinemas brasileiros e é nele onde nossa protagonista faz uma verdadeira peregrinação entre seus colegas de trabalho para manter seu emprego. Dois Dias, Uma Noite é um filme de fé, mas foca também no preconceito e na dificuldade da mulher de conseguir seu espaço.

Vale ressaltar que os irmãos e seus filmes sempre tiveram um caráter religioso. Não se trata de uma abordagem direta, aliás, nunca foi. No arco dramático e lúdico do filme, a busca pela graça, santidade e compaixão são uma influência evidente do cinema feito por Rossellini e de longas neorrealistas da época. Não à toa que está sendo indicado ao Oscar e, sinceramente, como Filme Estrangeiro, acaba sendo até o favorito deste crítico. O roteiro, que também é escrito pela dupla, se desdobra de forma bastante equilibrada (não apresentando muitos altos e baixos), é estimulante e bem escrito – apesar do excesso de “vitimização” concedido a Sandra. Na verdade, o desemprego poderia até ser o tema de discussão de Dois Dias, Uma Noite, mas para não ser tão óbvio quanto imaginamos, há algo mais sendo explorado no texto afinado à singularidade de um único personagem desafiando a cobiça alheia que se torna inclusive um paradoxo contido na produção.

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Durante a empreitada, recebendo a ajuda do esposo Manu, Sandra se depara com as mais distintas reações, das mais solidárias às mais violentas, passando obviamente pela dúvida. Nesse ponto, o filme coloca em pauta duas questões fundamentais em nossa sociedade atual: a solidariedade e o egoísmo. Sim, quem assiste a Dois Dias, Uma Noite já entra no meio do olho do furacão. Mesmo assim, é um longa honesto e direto.

Marion Cotillard, que foi apenas mediana como Thalia Al Ghul, filha de Ra’s Al Ghul, em “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, sempre mostrou talento em filmes como Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (2003), Piaf – Um Hino ao Amor (2007), A Origem (2010) e Meia-Noite em Paris (2011). Em Dois Dias, Uma Noite, ela faz jus à película.

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Sandra (Marion Cotillard) perde seu emprego pois outros trabalhadores da fábrica preferiram receber um bônus ao invés de mantê-la na equipe. Ela acaba descobrindo que alguns de seus colegas foram persuadidos a votar contra ela. É aí que mora o perigo e ao longo da narrativa somos tragados pela terra e impelidos a conhecer um antagonista completamente sem pele, sem osso, sem carne, etéreo e invisível, um sujeito cujas ações são adversas. Imagina-se claro que é ele quem supostamente colocou os funcionários contra Sandra. Mas a moça tem uma chance de reconquistá-los. Ela e o marido (Fabrizio Rongione) têm uma tarefa complicada para o final de semana: eles devem visitar os colegas de trabalho e convencê-los a abrir mão do benefício para que o casal possa manter os seus empregos. A aguda sensibilidade retratada no roteiro, o realismo social desprovido de maniqueísmo, a projeção de um conflito pessoal de uma crise maior e o emaranhado de sutilezas na construção da trama e dos personagens fazem de Dois Dias, Uma Noite uma bela obra. Sandra não é nada senão uma mulher fragilizada, que tinha acabado de se submeter a um tratamento para depressão.

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A política envolta da trama é silenciada pela crença no homem por parte de seus realizadores. Falta trabalho, mas não falta solidariedade e assim caminha Dois Dias, Uma Noite. Todos sabem que o gesto solidário é uma espécie de compromisso moral e se faz necessário. Jean Pierre e Luc fizeram um realmente um trabalho incrível.

Dois Dias, Uma Noite… Uma obra de arte para poucos, com cenas fortes. Uma obra que ganha profundidade a partir de breves informações particulares que dimensiona cada um dos personagens, com um tema amplo e que gera inúmeras possibilidades. Desliguem seus celulares, sejam felizes e bom filme!

BEM NA FITA: Trama envolvente; as atuações.

QUEIMOU O FILME: Apenas algumas cenas do filme que deixaram a desejar.

FICHA TÉCNICA:

Roteiro: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Título Original: Deux jours, une nuit
Gênero: Drama
Duração: 1h 35min
Ano de lançamento: 2014
Classificação etária: 18 Anos

Stenlånd Leandro

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
NAN