Crítica de filme: “Em Transe”
Wilson Spiler
Transe:
Estado de consciência onde podem ocorrer diversos eventos neuro-fisiológicos (anestesia, hiperamnésia, amnésia, alucinações perceptivas, hipersugestionabilidade etc).
Estado, causado por euforia ou angústia, em que a pessoa assume um comportamento anormal.
Estado de ânimo em que pessoa perde a consciência real; alucinação provocada por meios internos e/ou externos.
Bom, selecionei esses três significados para a palavra (acredite, há outros ainda) para descrever como o nome do filme, tanto em português quanto em inglês (Trance), já é um belo resumo do que é esta nova obra de Danny Boyle (responsável por produções como “Trainspotting”, “Quem Quer Ser Um Milionário” e “127 Horas”) .
Em Transe conta a história de Simon (James McAvoy), um leiloeiro de arte, que se junta a uma quadrilha para roubar uma obra de arte no valor de milhões de dólares, mas, depois de sofrer uma pancada na cabeça durante o assalto, ele acorda para descobrir que não tem nenhuma lembrança de onde escondeu a pintura. Quando as ameaças físicas e tortura não produzem respostas, o líder da gangue (Vincent Cassel) contrata uma hipnoterapeuta (Rosario Dawson) para aprofundar os recessos mais sombrios da psique de Simon.
O que se assiste no filme não é nada convencional, embora, em diversos momentos, tenha me remetido a longas como “A Origem” e “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, por conta da construção do roteiro e do mergulho na mente de alguém, e até “Amnésia”, por motivos óbvios (basta ler a sinopse acima que vai entender). Fora isso, a trilha de Rick Smith também atinge uma notoriedade forte na trama.
A todo momento, Em Transe nos faz acreditar em determinada realidade, que logo depois se dissipa, fazendo com que não saibamos exatamente o que é de fato real ou alguma alucinação da cabeça de Simon. Com isso, qualquer detalhe é importante, impossibilitando o espectador de sequer piscar em frente à telona. Ponto para Boyle. É verdade também que, em certa parte do filme, a história dá tantas voltas que ele se torna um pouco arrastado, mas são detalhes necessários para que a trama não perdesse o sentido e tudo ficasse bem encaixado.
A escolha do quadro “Bruxas no Ar” (1797) também não é mera coincidência: de acordo com o diretor, não havia menção no roteiro sobre alguma obra, mas a opção por um artista como Goya se deveu ao pintor ser considerado o pai da arte moderna, “porque ele entrou na mente”. De fato, Goya alterou a trajetória da arte misturando observações da vida real com investidas ao mundo de sonhos e imaginação.
O elenco, embora tenha sido criticado lá fora, faz um trabalho pontual. James McAvoy (o Professor Xavier de “X-Men: Primeira Classe”), Vincent Cassel (“Cisne Negro”) e a bela Rosario Dawson (“Percy Jackson” e “Sete Vidas”) dão um bom tempero à trama, com destaque para o primeiro, que faz o leiloeiro, um papel diferente em sua carreira, mais denso, complexo.
Nessa história sem mocinhos – e aparentemente sem protagonistas (repare quem está em destaque no pôster acima), o final é um show à parte. É outro momento que traz “A Origem” à cabeça, deixando o espectador com interpretações pessoais de seu desfecho. Claro que não entrarei em detalhes para evitar estragar a surpresa, mas se você está pensando em esperar os créditos terminarem a fim de solucionar “o caso”, esqueça. Não tem nada após as “letrinhas”.
Voltando a afirmar: Em Transe é um filme para reflexão e muita atenção. Se for assisti-lo com sono ou com muitas coisas na cabeça, deixe para outro dia, já que é o tipo de produção que vale o ingresso.
BEM NA FITA: Roteiro bem construído e trama que prende o espectador até o fim. Elenco coeso e desfecho interpretativo.
QUEIMOU O FILME: Em determinado momento, são tantas voltas na história, que o ritmo fica um pouco arrastado. Mas são detalhes necessários para a construção da trama.
FICHA TÉCNICA:
Nome: Em Transe (Trance)
Diretor: Danny Boyle
Elenco: James McAvoy, Rosario Dawson, Vincent Cassel, Tuppence Middleton, Wahab Sheikh, Danny Sapani, Gioacchino Jim Cuffaro, Lee Nicholas Harris, Ben Cura, Hamza Jeetooa, Sam Creed, Alex Roseman, Matt Cross, Kelvin Wise, Kimberly Barrios, Shonn Gregory, Seelan Gunaseelan, Kostas Katsikis, Simone Liebman
Produção: Danny Boyle, Christian Colson
Roteiro: Joe Ahearne, John Hodge
Fotografia: Anthony Dod Mantle
Trilha Sonora: Rick Smith
Duração: 103 min.
Ano: 2013
País: Reino Unido
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Fox Film
Estúdio: Fox Searchlight Pictures
Classificação: 14 anos