Crítica de Filme | Êxodo: Deuses e Reis

Gabriel Meira

Hebreus 11:24-27: “Pela fé saiu do Egito, não temendo a ira do rei, e perseverou, porque via aquele que é invisível”

Esta passagem do segundo livro do antigo testamento bíblico é complementada com o objetivo de Moisés: libertar os escravos hebreus sob o domínio egípcio. A premissa, que já seria naturalmente uma sinopse de Êxodo: Deuses e Reis, segue a linha da história, sem alterar significativamente o rumo de Moisés.

Exôdo: Deuses e Reis é um filme de Ridley Scott, que, como dito acima, narra a vida de Moisés, um dos poucos homens reconhecidos em sua plenitude por diversas religiões. O libertador dos hebreus é abordado de uma perspectiva diferente neste longa: ao invés de seguir totalmente a linha religiosa, vaga entre a fé de Moisés e suas habilidades estrategistas. A produção quebra a visão puritana que vários tem do profeta, que ao mesmo tempo que duvida de sua fé com as palavras, prova uma inabalável crença com as ações.

Efeitos espetaculares, como sempre em filmes de Ridley Scott

Efeitos espetaculares, como sempre em filmes de Ridley Scott

Ridley Scott, que teve sua ascensão em ”Alien: O 8º Passageiro”, na década de 70, e que também dirigiu os épicos ”Gladiador” e ”Cruzada”, já neste século, costuma navegar por diversos gêneros, mas sempre com a grande quantidade de efeitos especiais em comum e em Exôdo: Deuses e Reis não poderia ser diferente. Aliás, este é um ponto alto do filme. Quando se faz este tipo de efeito em produções que remetem a uma época antiga, a chance de cair no superficialismo digital é grande, mas o diretor sabe o tom necessário para fazer com que os mesmos ajudem a conduzir a narrativa do longa, nos fazendo submergir no mundo de Moisés, além de permitir presenciar as ótimas sequências de ação, típicas do cineasta.

Scott fez uma boa direção técnica, com imagens aéreas fascinantes e planos sempre acrescentando a narrativa, mas, como de costume, enquanto tecnicamente é impecável, por outro lado, a direção dos atores deixa a desejar. O cineasta, na maioria de seus filmes, escala grandes nomes para protagonistas e os atores acabam levando as atuações por si só. Em Exôdo: Deuses e Reis, a falta do direcionamento do tom dramático dos atores acaba em um certo exagero nas interpretações, até mesmo na de Christian Bale, que interpreta Moisés. A trilha sonora ajuda em grande parte das cenas que precisam de uma maior dramaticidade, tirando de cena o protagonismo dos atores.

Perfeição técnica não leva a grandes atuações

Perfeição técnica não leva a grandes atuações

Mas o maior problema do longa está no roteiro de Adam Cooper, Bill Collage e Steve Zaillian. A trama dá várias voltas para terminar no mesmo local: as”barrigas”. Elas, que já são as maiores vilãs dos roteiros, aqui se tornam excessivas. Os diálogos vazios, por certas vezes, tiram a grandiosidade da história do profeta. Talvez por falta de pesquisa ou muito provavelmente pelo texto ter sido escrito por três roteiristas. Exôdo: Deuses e Reis se perde em sua própria superficialidade dramatúrgica, esquecendo toda a profundidade trazida pelo signo do Mar Vermelho atravessado por Moisés.

BEM NA FITA: Efeitos visuais mantendo o equilíbrio com a época representada.

QUEIMOU O FILME: Roteiro com diversas barrigas.

FICHA TÉCNICA:

Nome original: Exodus: Gods and Kings
Gênero: Épico
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Adam Cooper, Bill Collage, Steven Zaillian
Elenco: Aaron Paul, Adrian Palmer, Ben Kingsley, Ben Mendelsohn, Christian Bale, Christopher Sciueref, Emun Elliott, Ghassan Massoud, Golshifteh Farahani, Hiam Abbass, Indira Varma, Joel Edgerton, John Turturro, Kevork Malikyan, María Valverde, Sigourney Weaver
Produção: Adam Somner, Mark Huffam, Michael Schaefer, Peter Chernin, Ridley Scott
Fotografia: Dariusz Wolski
Montador: Billy Rich
Trilha Sonora: Alberto Iglesias
Duração: 149 min.
Ano: 2014
País: Espanha / Estados Unidos / Reino Unido
Cor: Colorido
Estreia: 25/12/2014 (Brasil)
Distribuidora: Fox Film do Brasil
Estúdio: Babieka / Chernin Entertainment / Scott Free Productions
Classificação: 12 anos

Gabriel Meira

Formado em cinema e apaixonado por todo tipo de arte, assiste de tudo, mas tem suas preferências pelos filmes que trabalham com o psicológico. Acredita na evolução do cinema nacional, assim como sua influência na educação.
NAN