Crítica de Filme | Grandma

Giselle Costa Rosa

O diretor Paul Weitz fez mais um longa nos moldes de que acostumado;comédias leves. Basta lembra que ele também esteve na direção de “Entrando numa fria maior ainda com a família” (2010), “American Pie – A primeira vez é inesquecível” (1999) e “Um grande garoto” (2002). Leve, divertido e cheio de piadas usando a fala do outro como escada, Grandma, traz pro cerne da questão a família – mesmo que essa não seja a idealizada pela normatividade. 

Elle Reid, vivida pela experiente atriz Lily Tomlin, é uma senhora de seus muitos anos, escritora feminista que fez considerável sucesso com suas poesias anos atrás. Após a morte de sua companheira, cujo matrimônio durou 38 anos, acabou se fechando para as relações. Seu luto acabou por acentuar seu traço antissocial e seu humor ácido. Passado um tempo, conhece Olive com a qual namora por quatro meses antes de terminar bruscamente. Pense duas vezes antes de achar que se trata de uma história sobre relacionamentos homoafetivos; não é. Weitz faz um filme sobre as relações familiares.

Em um dia aleatório, a neta de Reid, Sage (Julia Garner), bate à sua porta em busca de auxílio financeiro. Porém a escritora está quebrada e fez um mobile com os seus cartões de créditos devidamente picados. Ajudar não será uma tarefa fácil sem que na história a juíza Judy, filha de Reid com sua falecida companheira e mãe de Sage, participe. Mas ninguém a quer envolvida. A mãe por não ter uma bom relacionamento com a filha e a neta por ter medo da reação da mãe quando souber do ocorrido. As duas então irão buscar soluções alternativas para o problema e, nessa jornada de um dia, velhos segredos virão à tona, assim como mágoas não superadas. Ao confrontar-se com o passado, Reid, sempre com seu humor peculiar, reconhece erros e enfatiza acertos. E Sage percebe o quanto uma ação no presente impensada pode reconfigurar de forma indesejada o seu futuro.

O roteiro, também de Weitz, trata com leveza as questões de família e conflitos de relacionamento amorosos da trama, dando o peso necessário às cenas quando preciso. O mérito maior é a forma como ele tratou os elementos dentro do roteiro. Trata-se de como os parentes podem se distanciar por pequenas bobagens, pouco tato, falta de tempo, estresses cotidianos e as consequências disso tudo. A atriz Julia Garner, de “Somos o Que Somos”, não teve muito o que explorar em seu papel, e desempenhou bem aquilo o que lhe foi dado. A ótima Lily Tomlin, atualmente na série “Grace and Frankie”, executou com eficiência as tiradas sarcásticas ao longo da produção, assim como sua postura e o jeitinho nada meigo de sua personagem. E Marcia Gay Harden, mãe adotiva de Christian Grey, digo da menina Sage, traz a tensão necessária e na medida para esta história. A atriz Laverne Cox, de “Orange is the new black”, faz uma ponta de luxo.

Com uma fotografia convidativa, Grandma é um longa que diverte mesmo tendo sido construído em cima de questões delicadas que podem acometer a qualquer família.

(Filme assistido na Mostra Panorama do Cinema Mundial do 17º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro).

:: TRAILER


:: FICHA TÉCNICA
NOME ORIGINAL: Grandma
DIREÇÃO: Paul Weitz
ROTEIRO: Paul Weitz
FOTOGRAFIA: Tobias Datum
MONTAGEM: Jonathan Corn
DIREÇÃO DE ARTE: Cindy Chao, Michele Yu
FIGURINO: Molly Grundman
MÚSICA: Joel P. West
ESTÚDIO: 1821 Media, Depth of Field Production
PRODUÇÃO: Paul Weitz, Andrew Miano, Terry Dougas, Paris Kassidokostas-Latsis
ELENCO: Lily Tomlin, Julia Garner, Marcia Gay Harden, Judy Greer, Laverne Cox, Elizabeth Peña, Nat Wolff, Sarah Burns, John Cho, Sam Elliott
PAÍS DE ORIGEM: EUA
ANO: 2014
DURAÇÃO: 79 minutos
GÊNERO: Drama
 

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
NAN