Crítica de Filme | Hitman – Agente 47
Cadu Barros
A febre atual dos remakes e reboots em Hollywood tem sido bastante criticada pelos cinéfilos por “atualizarem” alguns jovens clássicos do cinema, que não deveriam ser mexidos de forma alguma simplesmente porque é praticamente impossível que a qualidade deles seja superada ou sequer igualada. Isso serve para as recentes bombas “Conan – O Bárbaro (2011)”, “Oldboy – Dias de Vingança” (2013) e “O Exterminador do Futuro – Gênesis” (2015), sendo este último uma mistura de reboot e sequência que, ao mesmo, refaz (ou seria “destrói”?) cenas emblemáticas dos dois primeiros filmes, e modifica drasticamente o rumo e até mesmo a essência dos personagens. Porém, quando um filme original é execrado por público e crítica, é até bem-vindo um reboot, como é o caso do desastre de 2007 “Hitman – Assasino 47” (obra nem tão original assim, já que é baseada em um game), que agora recebe uma nova oportunidade de dar certo com Hitman – Agente 47, lançado nesta semana nos cinemas.
O problema é que mais uma vez temos um filme ruim, apesar de levemente superior ao seu predecessor. Pra começo de conversa, o roteiro é repleto de furos e situações implausíveis. Somente o fato de apresentar uma personagem mutante sem deixar claro a extensão de seus poderes já torna a narrativa difícil de ser digerida pelo espectador. Em certo momento, por exemplo, a garota deduz que determinado personagem estará em um local bem específico do mundo (!), e o pior, em uma hora aproximada (!!). O protagonista também é bastante mal construído, já que jamais nos identificamos com um sujeito que, além de não possuir quaisquer sentimentos, não sente fome ou sede e dorme “por obrigação”.
A direção do estreante Aleksander Bach tem altos e baixos. Na verdade, todo o primeiro ato do longa é muito bem construído, e remete a à primeira parte do clássico “O Exterminador do Futuro 2”, onde temos dois seres extremamente inteligentes e poderosos perseguindo uma pessoa indefesa, sendo que um quer mata-la e o outro tem que defendê-la. Como no filme de Cameron, em Hitman – Agente 47 não sabemos até certo ponto da narrativa quem é o protetor e quem é o assassino, o que gera cenas de ação interessantes e perseguições absolutamente tensas. Porém, quando finalmente se revela quem é quem na história, o filme se perde, e Bach constrói cenas absurdamente frias e sem qualquer traço de originalidade, com exceção de uma inteligente sequência no centro da cidade.
A fotografia é eficiente, especialmente na cenas em Cingapura, e o design de produção é inteligente ao criar ambientes assépticos, como a sala do vilão, pois o principal conceito por trás da criação dos agentes especiais se diz respeito à ausência de sentimentos. A trilha sonora do cada vez melhor Marco Beltrami cria um tema intenso para o protagonista, e o desenho de som não compromete.
Já o elenco é um desastre, auxiliado por diálogos extremamente expositivos e forçados. O protagonista Rupert Friend é eficiente nas cenas de ação, mas não possui carisma algum. A bela Hannah Ware, pelo contrário, é até carismática, mas não convence nem um pouco como uma femme fatale. E nem o ótimo Zachary Quinto, o Spock de Star Trek, consegue se salvar aqui, criando uma caricatura tola que se torna a pior coisa da projeção. O único que sai incólume é o veterano Ciarán Hinds, que confere certo remorso ao cientista responsável pela criação dos agentes.
Hitman – Agente 47 é mais uma fracassada tentativa de levar às telas um personagem dos games, e outro reboot desnecessário. Pelo menos, pelo fracasso de bilheteria em sua estreia nos EUA, podemos ter um indício que não veremos Hitman atirar no escuro mais uma vez.
FICHA TÉCNICA
Gênero: Ação
Direção: Aleksander Bach
Roteiro: Kyle Ward, Michael Finch, Skip Woods
Elenco: Chris Theisinger, Ciarán Hinds, Dan Bakkedahl, David Bruckner, Dennis Heath, Emilio Rivera, Hannah Ware, Jerry Hoffmann, Joe Toedtling, Melanie Benna, Rolf Kanies, Rupert Friend, Thomas Kretschmann, Zachary Quinto
Produção: Adrian Askarieh, Alex Young, Charles Gordon
Fotografia: Óttar Guðnason
Montador: Nicolas De Toth