Crítica de Filme: Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum

Giselle Costa Rosa

A Academy Awards sempre comete injustiças. O filme Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum pode ser considerado como um relegado na 86ª edição do Oscar. Restaram-lhe duas indicações nas categorias fotografia e mixagem de som (ambas merecidíssimas). Se ganhar, será como um prêmio de consolação. Provavelmente, a obra escrita e dirigida pelos irmãos Joel e Ethan Coen (Bravura Indômita, 2010; Queime Depois de Ler, 2008; Onde os Fracos Não Têm Vez, 2007) deve ter ressonado como algo dark, e como bem se sabe, a academia prefere tramas edificantes e temas nobres a histórias com outsiders.

O personagem Llewyn Davis, vivido pelo ator Oscar Isaac (O Legado Bourne, 2012), numa interpretação certeira, demonstra que ele ficou muito à vontade no papel. Sua atuação é muito contemplativa. Seu olhar e modo de caminhar se encaixam perfeitamente no estilo de vida que Llewyn – sujeito emproado, sarcástico, sem papas na língua – levava.

O roteiro foi inspirado levemente na biografia de Dave Van Ronk, músico que buscou seu espaço na cena musical do Greenwich Village, em Nova York, por volta de 1960. Ele foi um dos ícones e peça importante da politizada cena folk nos EUA numa década marcada pelo luta pelos direitos civis e pelos protestos contra a Guerra do Vietnã. E mais, incentivou e ficou amigo de vários artistas que despontaram como Bob Dylan (em sua autobiografia, “Chronicles”, afirma que Van Ronk foi seu guru), Joan Baez e Joni Mitchell, no entanto, ele mesmo nunca alcançou o estrelato.

A sensação que se tem é que a qualquer momento a carreira de Llewyn Davis iria despontar, pois ele é muito bom no que faz, mas não o suficiente pra um mercado tão competitivo e direcionado para um nicho mercadológico. E assim, ele segue tocando em bares, sempre aspirando algo maior com seu ritmo, contando histórias através de sua música. De certo, como está disposto na sinopse, os obstáculos – aparentemente intransponíveis – na maior parte das vezes, são criados por ele mesmo. Por isso, acaba sendo visto como um perdedor ou simplesmente como um cara a espera da oportunidade perfeita.

A jornada do anti-herói em busca da fama se inicia ao sair em busca do felino fugitivo que escapole pela fresta da porta quando deixa a casa de um casal de amigos. Ulisses, o gato, passeia por toda a trajetória do protagonista e pode ser interpretado como símbolo persecutório do sucesso logrado sem êxito. Em contrapartida, é o único Ser cujo cantor consegue (quase) efetivamente ater laços. Definitivamente, Llewyn não demonstra lá muita aptidão em fazer conexões com outros humanos. Talvez por estar tão focado em ser reconhecido por seu trabalho, talvez por não se importar mesmo. Aos poucos as responsabilidades vão sendo deixadas de lado, só importando o tempo presente. Sua vida estagna, tornando-se improdutiva, árida. Sua ousadia em tentar seguir um caminho diferente do seu pai, um marinheiro mercante, não lhe assegura alçar voos mais altos.

Os irmãos Coen não oferecem nenhuma transformação abrupta em sua narrativa e/ou virada impactante, muito menos um desfecho edificante. Saboreamos o gosto do fracasso junto de seu protagonista. Entretanto, ao seu modo, Llewyn passa a entender que não se deve chutar a porta na qual se quer, eventualmente, passar.

O elenco ainda conta com a participação do Justin Timberlake (Jim Berkey) que desenvolveu, especialmente pra produção do filme, a música “Please Mr. Kennedy” eleita pela revista americana The Hollywood Reporter como melhor momento musical do cinema em 2013.

Confira nos cinemas se foi ou não um despautério da Academia relegar este o longa cativante a apenas duas indicações de categoria.

 
FICHA TÉCNICA:
Nome: Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum (Inside Llewyn Davis)
Direção: Ethan Coen e Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen
Elenco: Oscar Isaac, Carey Mulligan, John Goodman, Justin Timberlake, Ethan Phillips, Robin Bartlett, Jerry Grayson, Jeanine Serralles, Adam Driver, Stark Sands, John Goodman, Garrett Hedlund
Fotografia: Bruno Delbonnel
Produção Musical: T Bone Burnett
Produção: Ethan et Joel Coen, Scott Rudin
País: EUA
Gênero: Drama/Musical
Duração: 1h 45 minutos
Ano: 2013

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
NAN