Crítica de Filme | Interestelar
Blah Cultural
O filme Interestelar, dirigido pelo renomado Christopher Nolan é tido por quem assiste seus filmes como extremamente astuto naquilo que faz, não mede esforços para levar ao público suas ideias bem intrigantes e em muitos momentos de arrepiar. De teor forte, ele pode trazer uma sensação de êxtase. O tema central desta produção foca no que está acima de nós, como outras dimensões, galáxias e planetas. O filme parece ter impactado demais ambos os críticos e também o povo por ai afora, afinal, o longa ja arrecadou cerca de 1,5 milhões de dólares só com pré-estreias..
Confira as opiniões de Bruno Giacobbo e Leandro Stenlånd, ambos boquiabertos com tamanha produção criada por Christopher Nolan. Alias, chegue você a sua própria conclusão.
“INTERESTELAR NÃO É UMA FICÇÃO CIENTIFICA QUALQUER”, por Bruno Giacobbo
Não é de hoje que os irmãos Nolan brincam com ideia que temos do tempo e da memória. Esses temas estão em dois de seus melhores e mais autorais filmes: “Amnésia” (2000) e “A Origem” (2010), ambos projetos ousados e que requerem uma dedicação especial do espectador para não perder o fio da meada e chegar ao fim com a convicção de que entendeu a mensagem. Em seu novo projeto, a ficção científica Interestelar (2014), a dupla vai além e um pouco de conhecimento sobre física ou viagem no tempo são bem-vindos, se agregados a essa dose extra de entrega por parte do público.
Dirigido por Christopher Nolan e com roteiro escrito pelo próprio cineasta em parceria com o irmão, Jonathan, o longa-metragem traz a história de um planeta terra quase apocalíptico onde não é mais possível plantar trigo ou quiabo, em que a cultura do milho também está bastante ameaçada e as mudanças climáticas começam a castigar toda a humanidade. Neste cenário, Cooper (Matthew McConaughey) é um engenheiro e ex-piloto da NASA que sobrevive como fazendeiro. Com ele moram o sogro e os filhos. Tom (Timothée Chalamet), o primogênito, é um garoto comum, desencorajado pelo diretor de sua escola a tentar uma vaga na universidade. Já Murph (Mackenzie Foy), a caçula, é esperta como pai e dotada de uma grande curiosidade científica. E neste mundo em vias de extinção, onde um dos personagens afirma que trabalhadores braçais são mais importantes do que homens diplomados, o interesse pela ciência pode fazer toda a diferença.
É a curiosidade de Murph que faz o pai seguir uma pista, deixada no quarto dela por algo desconhecido, mas que ela chama de fantasma, e descobrir uma base secreta onde antigos colegas da NASA, hoje extinta por ser considerada uma extravagância em um planeta faminto, comandados por um brilhante físico, o professor Brand (Michael Caine), trabalham em um projeto destinado a salvar a humanidade: a descoberta de um novo planeta, em outra galáxia, com condições climáticas semelhantes a da Terra em seus melhores dias. Para isto, uma nave terá que transpor um buraco de minhoca (um atalho temporal) localizado ao lado de Saturno. Cooper é o piloto que faltava.
Interestelar não é uma ficção científica qualquer. Ele fala de conceitos e termos complexos como buraco de minhoca, buraco negro, relatividade espaço-tempo, viagem no tempo, mundos pentadimenssionais, que, provavelmente, todo mundo já viu ou leu alguma coisa em algum lugar, mas não conhece tanto assim, da forma mais simples possível para que o tal esforço citado no início deste texto não seja tão exaustivo. Além disto, o filme não deixa de lado aquela que é a matéria prima de qualquer coisa que façamos: as relações humanas. Convocado a participar da missão mais importante da sua vida, Cooper hesita. Ficar ao lado dos filhos ou embarcar em uma viagem sem garantia de volta justamente para salvá-los?
Em relação à parte técnica, a fotografia, os efeitos especiais e sonoros são simplesmente sensacionais. Não deixam nada a desejar se comparados, por exemplo, a “Gravidade” (2013), de Alfonso Cuarón. Logo, não é nenhum absurdo pensar que possam repetir as premiações deste no Oscar. No entanto, com um elenco em estado de êxtase que, além de um excepcional McConaughey, um ótimo Caine e uma tocante Foy, possui nomes de peso, todos muito bem, como Anne Hathaway, Casey Affleck, Matt Damon, Jessica Chastain, Ellen Burstyn, as duas últimas versões mais velhas de Murph, e uma história que apela para laços familiares e para o melhor e o pior dos valores humanos, esta obra não se resume a um mero espetáculo áudio-visual de primeira qualidade. Ela nos envolve, nos faz pensar e refletir ao longo dos seus extensos, mas nada cansativos, 169 minutos.
Por último, como não poderia deixar de ser, o longa faz referências, ora em maior, ora em menor escala, a clássicos do gênero como “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick, ou a mega-sucessos recentes como o filme de Cuarón. Em sua primeira meia hora, ao mostrar os campos de plantações do meio-oeste americano, evoca, também, “Sinais” (2002), de M. Night Shyamalan, quando este representava o que Christopher e Jonathan representam hoje: um sopro de ousadia no cinemão de Hollywood.
Ao sair do cinema, ainda impactados com o que assistimos em Interestelar, tudo o que precisamos, é do silêncio espacial, recriado aqui com a mesma perfeição de “Gravidade”, para meditarmos sobre os caminhos tortos que a humanidade insiste em seguir e até onde pode ir a ousadia dos irmãos Nolan.
Desliguem os celulares e ótima diversão.
BEM NA FITA: Tudo.
QUEIMOU O FILME: Nada.
“DE TIRAR O FÔLEGO, DIGNO DE OSCAR”, por Leandro Stenlånd
Uma terra árida, ríspida e que já não tem mais poder de se auto sustentar. Nos dias atuais sofremos o que chamamos de ”aquecimento global”, em outras áreas a seca atinge implacavelmente e com isso a terra tem cada dia mais se aproximado de um clima totalmente ressecado, onde um futuro deserto pode ser o nosso destino. O que pode ser dito de um filme que levou aproximadamente um ano e meio de desenvolvimento até que pudesse sair nas telonas? Diferentemente dos demais longas do gênero Sci Fi que são encharcados de 3D e efeitos especiais, ninguém menos que Christopher Nolan tomou conta de todos os detalhes para que em seu longa de quase 3 horas de duração não houvesse o que chamamos de exagero. O épico espacial Interestelar tem um tom complexo de ser explicado, lembra muitos filmes e claro, por ser Nolan, o diretor, não ficou tão confuso assim quanto podia se imaginar e, apesar de ser um filme um bocado cansativo, consegue prender a atenção do fã do gênero.
A narrativa tenta explicar muitas teorias e leis existentes em nosso dia a dia, tais como as leis de Murphy e Newton, A teoria da relatividade e o espaço e tempo, dentre outras e claro, inclusive algo que vai contra a ciência, o que chamamos de Fé.. Alguns meses atrás, tive uma breve aula de que a velocidade da luz é intocável, afinal caso a tocássemos, envelheceríamos mais rápido e o tempo para quem está no espaço seria mais lento. A primeira parte do longa tenta levar e construir as relações humanas do protagonista, que embarca em uma jornada importante que pode ser a última esperança para a população do planeta. Como todos já sabem, ele é chamado para liderar uma missão espacial que busca explorar novos planetas que podem substituir a Terra. Não vou entrar em mais detalhes sobre a trama para não estragar a experiência de ninguém. Temos reviravoltas importantes e algumas surpresas.
Mas dentre tudo que consegui analisar, aparentemente Nolan faz uma homenagem ao cineasta de Stanley Kubrick e à obra de Arthur C. Clarke, mas ainda que passemos por tudo que foi feito até hoje sobre o sci-fi no espaço, desde Jornada nas Estrelas, Apollo 11, o que é algo totalmente certo, é que Interestelar é um filme que merece escrever sua própria história, ganhar Oscar e tudo mais, pois ainda que soe clichê longas de viagens no espaço, para os amantes do gênero ou não, este será O FILME, que deve escrever novamente, Nolan dentre os melhores filmes já produzidos até então. Em Interestelar, o planeta Terra simplesmente está cansado, definhando aos poucos graças à iminente morte de sua vegetação e terríveis tempestades constantes de poeira, o que dá à Terra a estimativa de vida de apenas mais uma geração de habitantes.
Em Interestelar, salvar o mundo envolve muito mais do que apenas encontrar um novo lar para os habitantes de nosso planeta. Ao lado de mais três astronautas, uma delas interpretada pela bela Anne Hathaway, Cooper embarca em uma jornada de descobertas e revelações envolvendo não só uma possibilidade de um novo futuro, mas também uma maneira de possivelmente remediar dolorosas decisões de seu passado, graças à incessantes possibilidades envolvendo a variação espaço-tempo em que os protagonistas são envolvidos.
McConaughey (dá mais um show de interpretação, é de cortar o coração em algumas cenas) e Anne Hathaway (que nem atuou tão bem assim), mas há de se considerar, afinal, a produção ainda traz importantes participações como veterano Michael Caine (que já faz sua sexta participação em filmes com Nolan), da belíssima Jessica Chastain e da veterana Ellen Burstyn, dona de uma emocionante cena do filme.
Além de um baita filme original, impecável em todos os quesitos técnicos, Interestelar é também uma maneira de Nolan homenagear o gênero, e quem diria, até o clássico e já citado “2001: Uma Odisseia no Espaço”, a obra-prima de Kubrick.
Não se sabe até quanto Nolan se envolveu no estudo de tal teorias, mas narrar as aventuras de um grupo de exploradores que usam uma especie de um circulo em 3D (esfera) no espaço para superar as limitações do espaço e tempo contidos na terra, é algo intrigante e envolvente. O fato de haver um Kip Thorne (físico e perito na teoria da relatividade), pode ter ajudado e feito com que este filme ganhasse mais poder de persuasão. É tão complexo falar deste longa , assim como a maioria dos filmes de Nolan, que detalha-los é algo perdurante.
Por outro lado, é difícil não lembrar de Kubrick diante da visão de futuro criada por Chris Nolan e pelo irmão Jonathan. Pode-se dizer até que o futuro criado por diretor aqui é muito mais audacioso e interessante que o visto no passado. Difícil mesmo é escrever essa crítica sem soltar algum tipo de spoiler do filme, mas não há muito o que fazer senão dizer que a trama é justamente assim, criada para surpreender e dividir opiniões. Fé ou Ciência? Crer que pode dar certo, que sempre há esperanças e que a viagem no espaço temporal faz com que o trailer que não entrega nada e atiça a vontade de correr para salas de cinema para poder descobrir os segredos de mais um (ousado) projeto do excelente Christopher Nolan. Além do mais, o elenco – que conta com veteranos e jovens talentos de Hollywood- também é um forte chamariz para a película.
A direção de arte teve um total cuidado e no quesito ‘design de produção’, chegam a colocar o filme como um marco da ficção científica, deixando este próximo do que foi feito em Gravidade, em todos os patamares no quesito de desespero no espaço. O compositor Hans Zimmer, que brilhou em “A Origem” e na trilogia do Batman, fez uma trilha que tem momentos que intensificam a trama, outros que chegam a dar pânico e há de se convir que chega a ser exagerada em outras sequências da película.
O mesmo se pode dizer da fotografia de Hoyte Van Hoytema e o trabalho gráfico de Lee Smith, ambos em suas áreas fizeram mais do que podiam (e conseguiram) deixar cada segundo da película com um tom deslumbrante.
Num resumo, Interestelar aborda temas como o desperdício, abandono, solidão e a angustia de não poder retornar do espaço, além de focar no cientifico e de certa forma, na fé. É um filme sobre humanidade, retratando a capacidade do homem de ser devastador, e ao mesmo tempo sonhador e iluminado. Também é um longa sobre o nosso lugar, insignificante, dentro do universo. Os efeitos especiais, a inteligência do diretor e outros aspectos impecáveis da película, fazem deste enfim, um filme de drama, de tirar o fôlego, digno de Oscar (Espera-se AO MENOS que seja indicado).
BEM NA FITA: Praticamente tudo, o filme é impecável
QUEIMOU O FILME: Absolutamente nada.
FICHA TÉCNICA:
Nome: Interestelar.
Direção: Christopher Nolan.
Produção: Emma Thomas, Christopher Nolan e Lynda Obst.
Roteiro: Christopher e Jonathan Nolan.
Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Matt Damon,Bill Irwin, John Lithgow, Casey Affleck, David Gyasi, Wes Bentley, Mackenzie Foy,Timothée Chalamet, Topher Grace, David Oyelowo, Ellen Burstyn e Michael Caine.
Trilha Sonora: Hans Zimmer.
Direção de Arte: Nathan Crowley.
Fotografia: Hoyte van Hoytema.
Gênero: Ficção cienfítica, aventura, drama e suspense.
País: Estados Unidos.
Ano: 2014.
Duração: 169 minutos.