Crítica de Filme | Mad Max: Estrada da Fúria
Larissa Bello
Em 1979, o diretor, roteirista, produtor e ex-médico australiano George Miller fez sua estreia no cinema hollywoodiano com o road movie pós-apocalíptico intitulado Mad Max (idem). E estreando também como ator estava o jovem Mel Gibson. A história se passa num futuro em que o mundo se tornou um deserto seco e violento, devido a escassez de água e de gangues que disputam por combustível petrolífero para seus veículos automotores. Max é um policial que vigia as estradas e se torna vítima quando uma dessas gangues assassina sua esposa e filho. A partir daí, ele se torna uma pessoa solitária que é atormentada pela dor da perda e pelo desejo de vingança.
O filme de Miller se tornou uma espécie de cult com o passar dos anos e ainda lhe rendeu duas ótimas continuações, com Mad Max 2: A Caçada Continua (Mad Max 2: The Road Warrior, 1981) e Mad Max: Além da Cúpula do Trovão (Mad Max: Beyond Thunderdome, 1985), com participação, na atuação e, na emblemática trilha sonora, da cantora Tina Turner, com a música “We Don’t Need Another Hero”.
O primeiro Mad Max ganhou uma repercussão internacional de forma a se fazer notar por trazer algo de novo, tanto na concepção do seu roteiro quanto na forma da narrativa. Como o próprio Miller explica em uma entrevista para a rádio CBC: “no Japão, Max foi considerado um solitário Samurai; nos países escandinavos foi visto como uma espécie de Viking vagando por uma terra perdida; na França foi mencionado que o filme era como um faroeste sobre rodas”.
Algumas décadas depois, George Miller retoma a saga desse atormentado anti-herói em Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, 2015). E vale notar que nada muito mudou em relação aos filmes anteriores, no que diz respeito a questão do petróleo ainda ser uma temática pertinente e uma preocupação em relação a discussão ambiental e econômica no mundo. É nessa atmosfera que vemos novamente Max, agora vivido pelo versátil, talentoso e cada vez mais promissor, ator inglês Tom Hardy, (“A Origem” e “Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge”). Ao lado dele está Charlize Theron que aparece de cabelo raspado, sem braço e ainda sim lindíssima, interpretando a Imperatriz Furiosa, uma das personagens femininas que, com certeza ficará, na história do cinema.
Estrada da Fúria retoma as acrobáticas e mirabolantes perseguições de carros dos filmes anteriores, porém, agora elevados a potência máxima. Afinal, antes não havia tantos recursos técnicos como agora, mesmo considerando que Miller optou por realizar grande parte das cenas sem uso de computação gráfica e/ou outros recursos de pós-produção que o deixassem com uma aparência não muito verdadeira. Quis fazê-lo à moda antiga, ou seja, com uma excelente equipe de operadores de câmeras, dublês e todo aparato de equipamentos para fornecer segurança a todos. O resultado é simplesmente de tirar o fôlego! Vemos homens pendurados em ponta de lanças móveis que balançam como pêndulos presos nos carros em movimento; tempestade de areia que carrega pessoas e veículos voando pelos ares; inúmeras cenas de pessoas penduradas de ponta cabeça, embaixo de carros em movimento e tudo mais que possa ser possível realizar vindo da imaginação visualmente vislumbrante de George Miller. Sem falar no bizarro guitarrista, na frente de um carro, com enormes caixas de som e que acompanha as perseguições tocando o rock que funciona como trilha sonora para as cenas. É realmente tudo muito insanamente incrível de se ver.
E o roteiro ainda traz um mote interessante, pois se trata de um filme, acreditem ou não, com um contexto feminista. O fator desencadeante da história está atrelado ao fato de que Imperatriz Furiosa, que trabalha para o líder Imortal Joe, interpretado pelo ator Hugh Keays-Byrne (que esteve no primeiro Mad Max), resolve se rebelar e fugir com suas esposas. Isso porque Imortal Joe mantém suas esposas aprisionadas para garantir que elas possam parir seus filhos de maneira saudável, já que quase todos são doentes nesse mundo que vivem, inclusive ele próprio. Ao saber de tal traição, Imortal Joe sai em perseguição de Furiosa para trazer suas mulheres de volta. Max cai de paraquedas nessa história toda e acaba formando uma parceria com Furiosa. Sendo assim, o filme expressa a importância das mulheres não só como aquelas que possuem a capacidade de propagar a vida humana, mas também como aquelas que têm força e poder de decisão sobre como e de que forma devem e querem estar inseridas no mundo, mesmo sendo dominado por homens violentos e manipuladores. Não é à toa que Miller escolheu Eve Ensler (autora de “Monólogos da Vagina”) como consultora para o roteiro do filme, que só peca quando intercala as incríveis cenas de perseguições, por alguns pequenos momentos um tanto quanto melosos demais. Como quando o soldado guerreiro Nux, vivido por Nicholas Hoult (da série inglesa “Skins”), que também está surpreendente, conversa com uma das esposas dizendo o quanto se sente mal por não ter conseguido ser um bom soldado. Cenas como essas soam forçadas e desnecessárias para o contexto empolgante do filme. Mas, também não é nada que comprometa demais, pois logo em seguida a tela é novamente invadida por imagens extraordinariamente espetaculares para a nossa visão.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
Título original: Mad Max: Fury Road
Diretor: George Miller
Roteiro: George Miller, Brendan McCarthy e Nick Lathouris
Produção: Kennedy Miller Productions e Village Roadshow Pictures
Elenco: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hout, Hugh Keays-Byrne.
País: Austrália / EUA
Duração: 120 minutos