Crítica de Filme | Mais Forte que Bombas
Adolfo Molina
A introspecção familiar, seu desmoronamento e particularidades negativas e depressivas após uma tragédia. No entanto, como manifestar estes sintomas de perda e ambiguidades relativas em uma linha narrativa cuidadosa e com alto poder de identificação?
Em “Mais Forte que Bombas“, o diretor norueguês Joachim Trier explora o comportamento de uma família constituída pelo pai Gene (Gabriel Byrne) e seus dois filhos, Jonah (Jesse Eisenberg), o mais velho, e Conrad (Devin Druid), o caçula, após a morte da esposa, mãe e fotógrafa Isabelle (Isabelle Hupert).
Relembrando “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick, em alguns momentos, o longa-metragem disponibiliza camadas estruturais dos personagens que, a cada transposição de ato e em sua continuidade, vai adentrando e remoendo características dos mesmos. Desde as mais superficiais, que camuflam e maquiam, até chegar na real ilustração da personagem. E dentro dessa análise pessoais, as suas correlações. Como o pai lida com a perda e suas próprias angústias pós-trauma; a difícil e estreita relação dele com os filhos, principalmente o mais novo, que passa por uma fase de transformação na adolescência e está em forte processo de descoberta.
Outra história paralela e também forte em sua composição e narrativa, é a de Jonah. Dentro dele, além da atual vida de pai e esposo, mas sem se adequar ao compromisso, é onde está estabelecida uma forte química com a mãe. A segurança, as conversas. A busca de paz e concretização da confiança um ao outro.
Os insights e as cenas em que Isabelle aparece dialogando com todos é um cerne que se repara. No começo, tudo é duvidoso, sem sentido. Aos poucos, as pontas são amarradas e as ligações representadas. A direção do filme, no entanto, evidencia o tom triste dos personagens. A paleta de cores, a falta de saturação e a leveza na direção apresentam uma frieza depressiva. O roteiro é subjetivo e tocante, que irrompe questões pessoais e as contextualiza em pequenas pílulas de generalização, mas sem abandonar as peculiaridades e as identificações.
Há uma mescla documental dentro do filme, ao mostrar os trabalhos da fotógrafa, fazendo um paralelo com o título do filme. O intuito é apresentar uma relevante crítica às guerras no Oriente Médio, providas de intolerância religiosa e intervenção militar, que também recebe uma crítica em uma cena entre os irmãos.
O desvendar do passado em “Mais Forte que Bombas“, de Isabelle juntamente com as cargas remanescentes da família é feito num propósito sensível e bem contado. Uma ótima simbiose de atuação, além da citada acima, introspecção. É um filme frio e pesado, mas sem tender ao negativismo.
FICHA TÉCNICA:
Título original: Louder Than Bombs
Distribuição: Vitrine Filmes
Data de estreia: 07/04/2016 (Brasil)
País: Noruega, França, Dinamarca
Gênero: Drama
Ano de produção: 2015
Duração: 109 minutos
Classificação: 14 anos
Direção: Joachim Trier
Roteiro: Joachim Trier, Eskil Vokit.
Elenco: Gabriel Bryne, Jesse Eisenberg, Isabelle Hupert, Devin Druid.