Crítica de filme | Mate-me Por Favor
Malu Portela
Mate-me por favor já foi noticia no exterior antes mesmo de chegar ao Brasil. Ganhador do premio especial Bisato D’Oro no 72 Festival de Veneza, onde fez sua estréia, ainda foi noticia na bíblia cinematográfica internacional, Variety, que citou o filme em duas reportagens que diziam respeito ao novo potencial audiovisual que demonstra estar aflorando na América Latina. De forma geral, são filmes que escapam da temática favela/pobreza recorrente, especialmente, em nosso país, e se permitem ser mais leais a gêneros específicos e tratar de outras camadas sociais.
Longa de estréia de Anita Rocha Silveira, a carioca teve grande repercussão com seus três curtas anteriores. Um deles, ‘Os mortos-vivos’ , participou da Quinzena dos Realizadores em Cannes. De acordo com entrevista concedida pela diretora ao Blah Cultural, seu longa Mate-me por favor é uma mistura de seus três curtas-metragem, com um espaço a mais para discorrer sobre as temáticas das descobertas da adolescência imbuídas de toques fantásticos.
Declarada fã de David Lynch, a cineasta conseguiu criar um mundo alternativo, onde nada é o que parece, a realidade é mais pungente, complexa e interessante. Um serial killer começa a afetar a vida de quatro adolescentes que discutem sobre as mortes e mudam seu percurso em face do medo. Sentimento tal que dará lugar a curiosidade a protagonista do filme, Bia (Valentina Herszage). A menina sente aflorar desses assassinatos um instinto a mais que a guia a se permitir experimentar sexualmente em meio a um ambiente onde as pessoas são guiadas pelo moralismo. Como a própria cineasta definiu, a personagem é a própria “força da natureza”.
Em uma Barra da Tijuca rodeada de condomínios onde filhos crescem cercados por muros e câmeras, a classe média, mais uma vez, ganha sua expressão no filme brasileiro. Os terrenos baldios lembram o cenário do assassinato de Daniella Perez, filha da roteirista global Glória Perez, que serviu de inspiração para o filme. Sua morte cruel e brutal perturbou Anita Rocha durante todos esses anos, e ela transformou essa angústia em um filme delicado e pungente.
A crise e incerteza existencialista está em cada esquina das grandes ruas da Barra, nos shoppings, nas festas, em cada ação e diálogo de Mate-me por favor. O latejar da oscilação entre as descobertas e o querer ser descoberto.
(Filme assistido no 17º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro).
FICHA TÉCNICA
Título original: Mate-me por favor
Direção: Anita Rocha da Silveira
Roteiro: Anita Rocha da Silveira
Produção: Vania Catani
Coprodução: Benjamin Domenech e Santigo Gallelli
Produção Executiva: Vania Catani e Lili Nogueira
Direção de fotografia: João Atala
Direção de arte e cenografia: Dina Salém Levy
Direção de produção: Renato Pimentel
Figurino: Ana Carolina Lopes
Gênero: Suspense
Classificação: a verificar
País: Brasil
Ano: 2015
Elenco: Valentina Herszage, Dora Freind, Julia Roliz, Mari Oliveira, Bernardo Marinho