Crítica de Filme | Meu Amigo Hindu
Adolfo Molina
Hector Babenco, argentino de nascença, mas brasileiro em sua ferocidade ao assumir a direção de teus filmes, nunca negou o seu amor ao cinema. No entanto, também nunca negou o grande amor a si mesmo. Polêmico, excêntrico e egocêntrico. E não é necessário um filme sobre si mesmo para confirmar o fato.
“Meu Amigo Hindu”, direção e produção de Babenco, conta a história de Diego Fairman (Willem Defoe), um cineasta que foi diagnosticado com câncer e que necessita de um transplante de medula óssea para sobreviver. Ele está prestes a se casar com Lívia (Maria Fernanda Cândido) e, aparentemente, também se despedir da família, por conta da viagem que fará para o tratamento da doença e dos cuidados pós-operatórios. A condução narrativa em sua superfície, acompanha a trajetória linear de Diego, analisando o seu comportamento para com a doença, os comportamentos e reflexos da doença nas pessoas que estão em sua vida, até a total recuperação fortificação do homem. Nas camadas linguísticas internas do filme, se consterna o desalinho do homem com a vida e com sua profissão, mesmo que a todo momento, ele pareça homenageá-la ternamente.
No entanto, como foi explicito no primeiro parágrafo, o filme nada mais é do que um testamento e uma ode ao próprio diretor. É uma maquinação do qual se sobrepõe como vítima, com toques egocêntricos, machistas, ressentimentos dentro de seu universo profissional (ataques à Meirelles, à indústria) e uma macro visualização danificada pela interferência da própria visão do diretor.O elenco é um ponto rico do filme. Falado em inglês, Willem mescla boa química e dinâmica com os atores brasileiros, como Maria Fernanda, Bárbara e as belas cenas com Selton Mello, interpretando a morte. Que aliás, deveria ser melhor aproveitado. Mas até mesmo um dos grandes nomes artísticos do cenário fílmico nacional foi afetado pelo roteiro demagogo, exageradamente pessoal.
Mesmo que a intenção, como afirmara Babenco, fosse ser uma carta de amor ao cinema, a película se estabelece pelo formato bisonho, roteiro sobre expositivo, como uma vitrine, erros técnicos que fogem da estética perfeccionista do argentino e claro, a massagem de ego. Parece que o longa Meu Amigo Hindu nada mais é do que o próprio Babenco. Uma auto avaliação, uma auto carta.
FICHA TÉCNICA