Crítica de Filme | Missão: Impossível – Nação Secreta
Blah Cultural
Quase 20 anos depois do primeiro “Missão: Impossível”, eis que chega aos cinemas o quinto filme da franquia de sucesso estrelada por Tom Cruise: Missão: Impossível – Nação Secreta estreia no Brasil cercado de expectativas em vista da bilheteria que vem alcançando nos Estados Unidos. O filme lidera o Top 10 norte-americano já por duas semanas, mesmo com estreias de outros blockbusters, como o malfadado “Quarteto Fantástico”.
Precedido por “Missão: Impossível” (1996), “Missão: Impossível 2” (2000), “Missão: Impossível 3” (2006) e “Missão: Impossível 4 – Protocolo Fantasma” (2011), Missão: Impossível – Nação Secreta é até bom, mas não agradou em cheio nossos exigentes críticos Alê Zephyr e Cadu Barros, que tiveram a missão de assisti-lo. O longa funciona apenas como um belo passatempo.
Leia abaixo as duas críticas, confira o filme no cinema e compartilhe sua opinião conosco!
“PACOTE COMPLETO DE HOLLYWOOD”, por Alê Zephyr
Missão: Impossível – Nação Secreta pode ser definido como uma tradicional aventura super produzida de Hollywood, com direito ao pacote completo: cenas de fuga e perseguição em alta velocidade recheadas de sustos e momentos que fazem prender o fôlego.
Excelentes coreografias de luta, seguidas de inquestionáveis atuações: Tom Cruise está em ótima forma e volta com tudo, e muito bem acompanhado por gigantes da interpretação como Ving Rhames e Alec Baldwin. Não bastando esses nomes, há nesse longa a participação de uma emblemática personagem, Ilsa Faust, interpretada por Rebecca Ferguson. No caso de Rebecca, sua excelente interpretação unida à sua beleza natural e à maneira como sua personagem participa intensamente da trama, a coloca à nível de disputa com o próprio Cruise, roubando a cena algumas vezes tanto no sex appeal, quanto na hora da ação.
Com relação a efeitos visuais, a melhor palavra para defini-los seria impecáveis. O que, aliás, é mais que necessário em um filme deste gênero, que exige efeitos de qualidade ou caso contrário, o filme pode acabar virando motivo de piada. Mas ressalto não é o caso. E digo mais, algumas cenas foram realmente gravadas, sem o uso do estúdio de fundo azul ou verde. E falo de cenas como uma já clássica, que está logo no início do filme e é daquele tipo que só um ator insano por seu trabalho como Cruise, faria realmente e sem o uso de dublês.
Sobre a trama, mantém-se a superprodução: se encaixa com perfeição entre diversas reviravoltas e problemáticas que vão surgindo ao decorrer do longa. A base da trama é a possibilidade de existência ou não de uma “nação secreta”, algo que me lembra bastante a base da trama de um clássico romance chamado Um Capricho Dos Deuses, do monstro de talento, Sidney Sheldon, lançado em de 1987. Mas coincidência ou não, assim como na obra de Sheldon, a trama de M:I-5 é cheia de jogadas, possíveis traições e amizades, em torno da importância de que se a tal nação secreta conseguir o que deseja, um genocídio é certo.
Sendo uma superprodução de Hollywood, como citado no início, não posso deixar de alertar sobre outro elemento notável: os clichês do gênero, que fazem do filme uma sequência que cai como uma luva na franquia, uma luva tão confortável que se encaixaria muito bem, até para outras franquias, como Duro De Matar ou os clássicos dos anos 90 de Van Damme. Uma luva tão, mas tão confortável, que já foi anunciada a sequência dessa sequência pelo próprio Tom Cruise, durante participação do programa The Daily Show, de Jon Stewart. Segundo o ator, a parte 6 de “M:I” começará a ser gravada entre junho e agosto de 2016.
Sem dúvidas, essa é uma franquia de sucesso inegável entre a maioria do público, e sobre essa quinta parte da serie em especificamente, bem… Se você gosta de explosões, luta, ação e aventura, aparelhos de tecnologia avançada, um filme de andamento eletrizante, com piadas bem distribuídas, lições e mensagens sobre confiança e amizade, e não se importa com os clichês tradicionais da terra do Tio Sam, essa é sem dúvida a diversão e entretenimento que procura!
“UM DOS EPISÓDIOS MAIS DIVERTIDOS”, por Cadu Barros
A franquia Missão: Impossível é, sem dúvidas, a que mais se adequa ao termo “cinessérie”. Desde o primeiro filme, lançado há 19 anos, é clara a intenção dos realizadores: contar histórias independentes entre si, e fazer com que o único elo de ligação seja o protagonista, que na verdade é apenas o condutor da narrativa. Por isso, quem nunca viu um dos quatro “episódios ”anteriores” não terá dificuldades em entender o mais recente deles, Nação Secreta, que estreia no Brasil atrasado duas semanas em relação aos Estados Unidos, onde já é um sucesso de bilheteria.
E a principal razão desse sucesso atende pelo nome de Tom Cruise, que não só estrela a aventura, como também atua como produtor. E nada mais natural que ele invista tanta energia na franquia. Afinal, foi ela a maior responsável por torná-lo astro nos anos 90, fazendo de Ethan Hunt seu personagem mais famoso (e lucrativo).
O grande defeito dessa cinessérie, porém, é não explorar mais a fundo exatamente seu maior trunfo: o icônico protagonista. Afinal nenhum dos filmes é SOBRE Ethan. Não conhecemos seu passado, não sabemos os motivos que o fizeram querer se tornar agente secreto, e pouco sentimos o fardo que tal cargo representa para ele. Como foi dito no início do texto, Hunt é apenas o fio condutor da história, aquele que fará com que nos importemos com as consequências dos acontecimentos. Para isso, é preciso carisma. E isso Tom Cruise tem de sobra.
Além de um poderoso astro, a franquia sempre contou com talentosos diretores, desde o grande Brian de Palma ao inovador J.J. Abrams, passando ainda pelo mestre John Woo e pelo criativo Brad Bird. E é exatamente nesse quesito que o novo filme deixa a desejar. A direção de Nação Secreta é realizada de maneira bastante irregular por Christopher McQuarrie. Ao mesmo tempo em que o diretor nos brinda com sequências de ação extremamente bem orquestradas, como a que ocorre debaixo d`agua (com certeza o melhor momento da obra), a fantástica perseguição de motos e a tão comentada decolagem do avião (que foi TOTALMENTE exibida nos trailers!); Mcquarrie por outro lado se entrega aos excessos de maneira bisonha, como no momento em que um veículo capota mais de dez vezes (!). Outro defeito do diretor é abusar de coincidências desnecessárias, que estragam cenas que poderiam ser bem mais interessantes e provocam risos involuntários no público.
O roteiro não é tão inventivo quanto o do filme anterior, “Protocolo Fantasma” (ainda o melhor de todos), mas apresenta reviravoltas interessantes, com exceção de uma delas, que soa previsível desde o primeiro momento em que se anuncia. A narrativa ainda explora de maneira eficiente os talentos de cada integrante da equipe de espionagem: Ethan é o articulador e o executor do plano ao mesmo tempo; Benji é o expert em comunicações; Luther se encarrega da cobertura; e Brandt é o responsável por contornar os problemas de bastidores.
O elenco tem altos e baixos. Cruise continua mantendo sua segurança e carisma intactos, e consegue pela quinta vez nos convencer de ser capaz de executar as mais incríveis peripécias, o que é um feito realmente formidável, já que ele não é um garoto faz tempo. Simon Pegg é o coração do filme, e faz de seu Benji muito mais que um alívio cômico. Sua amizade com Ethan é autêntica, e faz com que ele seja o personagem mais humano da franquia. Além disso, o timing cômico do ator está impecável como sempre. Já Ving Rhames e Jeremy Renner não possuem o mesmo talento, e soam artificiais nos momentos de humor, sendo ainda sabotados pelo roteiro, que não lhes dá muito espaço. Alec Baldwin parece perdido, e não consegue conferir ao personagem a força que ele deveria possuir. O mesmo não acontece com o pouco conhecido Sean Harris, que aproveita cada cena como se fosse sua última, incorporando o grande vilão da franquia até agora com extrema energia e sutileza ao mesmo tempo. Apenas o olhar dele já provoca tensão no espectador, e sua voz rouca apenas corrobora com o resultado. Além disso, um dos maiores acertos do roteiro é fazer de Solomon Lane um estrategista tão brilhante quanto Ethan Hunt, e é bastante interessante o jogo de xadrez que eles promovem. Um tenta antecipar os movimentos do outro, e isso é genial. Finalmente Ethan encontrou um oponente à altura dele.
Mas o grande destaque do elenco de Missão: Impossível – Nação Secreta é a sueca Rebecca Ferguson. Desde a primeira cena, ela exala sensualidade e mistério ao mesmo tempo. Sua química com Tom Cruise é perfeita, e a tensão sexual entre seus personagens é latente durante todo o filme. Nem Thandie Newton conseguiu transmitir isso dessa forma em Missão: Impossível 2, onde o romance era parte fundamental da trama. Na verdade, Ferguson não só transforma sua agente secreta na melhor personagem feminina da série como também consegue fazer o que Halle Barry desesperadamente (e desastradamente) tentou em 007 – Um novo dia para morrer: interpretar uma espiã de forma tão convincente e marcante como seu parceiro masculino, seja ele Bond ou Hunt. Em um ano em que já fomos brindados com a Imperatriz Furiosa, eis que surge outra personagem feminina forte no cinema, mesmo que ela não se torne icônica como a guerreira de “Mad Max – Estrada da Fúria”.
Quanto aos quesitos técnicos, não há o que reclamar. A fotografia é deslumbrante e explora de maneira exemplar tanto a beleza natural de paisagens em países como Marrocos quanto a riqueza de detalhes de ambientes fechados como um gigantesco teatro de ópera. O design de produção é extremamente inventivo, com gadgets futuristas que se adequam perfeitamente ao clima da aventura de espionagem. O desenho de som e os efeitos visuais não chamam tanta atenção, mas também não comprometem (exceto na já citada cena da capotagem). Já a trilha sonora é bastante inteligente, especialmente na cena da ópera, em que transforma a música tocada pela orquestra no local em tema da personagem de Ferguson, fazendo-se presente durante todo o restante da obra. Além disso o tema clássico da franquia recebe uma nova roupagem, ainda mais intensa.
Portanto, Missão: Impossível – Nação Secreta mostra-se como mais um acerto da carreira do inoxidável Tom Cruise, e se não é o melhor episódio da série, pelo menos é um dos mais divertidos. Se levarmos em conta o sucesso das bilheterias e o entusiasmo do seu astro / produtor, creio que felizmente ainda veremos Ethan tornar possível o impossível novamente.
FICHA TÉCNICA
Estréia: 13 De Agosto De 2015 (Brasil)
Gênero: Ação
Orçamento: US$130 milhões
Direção: Christopher McQuarrie
Roteiro: Drew Pearce
Produção: David Ellison, J.J. Abrams, Tom Cruise
Elenco: Tom Cruise, Alec Baldwin, Rebecca Ferguson, Ving Rhames