Crítica de Filme | O Doador de Memórias

Bernardo Moura

Como meus caros companheiros críticos de BLAH fazem, lançam sempre algum pensamento de autor moderno ou uma frase de impacto para começar a escrever a crítica (viu Giaccobo? Hehe), eu lanço a minha aqui: está faltando mais coerência no cinema. Mais ainda quando decidem levar às telas uma história que já é um sucesso no papel.

Sempre quando vejo que um filme foi levado das livrarias para o cinema, fico muito reticente. Porque quase nunca o livro é cópia do filme, e vice-versa. Mas aí você fala: “Claro é a minha interpretação ali. Cada um tem a sua” Pois é. E por cada um ter a sua, acredito que seja um tiro no próprio pé ao fazer uma coisa dessas. Até hoje, só conheço um filme que a maioria ficou muito satisfeita e foi fielmente ao livro, digamos assim: “Código da Vinci” (2006), de Dan Brown.

Então, meu receio foi se confirmando em terrorismo conforme ia vendo este novo filme de Philip Noyce. O diretor de “Invasão de Privacidade” (1993), “Salt” (2010) e “O Santo” (1997), traz em “O Doador de Memórias” (“The Giver”, no original) uma história que era pra ser esquecida. Noyce peca na direção e o filme acaba ficando insosso. Da enxurrada de livros infanto-juvenis que invadiram o cinema, dois ou três deveriam ter o direito de ir para as telonas.

A história em si é fraca. E o que me apavorou no começo (daí o terrorismo) foi o filme ser todo preto e branco e lá no meio ele ficar colorido. Ora, entendi a estética da autora Lois Lawry. Mas, acho que Noyce poderia montar um filme diferente e permanecer com o filme todo colorido ou todo preto e branco. Ou então, já que fala de memórias, utilizar este artifício para usar e abusar do colorido. E não os dois se misturarem na “realidade”.

O mentor e seu pupilo (Foto: Divulgação)

O casal protagonista também é fraco. Brenton Thwaties, que interpreta Jonas, e Odeya Rush, a Fiona, não tem química suficiente para sustentar a história. Portanto, com 30 minutos de filme, você já fica incomodando com aqueles dois ali. Percebemos que faltou uma direção ali. Aí você pensa: “ Pô, o cara que dirigiu Angelina Jolie ou Val Kilmer está dirigindo este filme? Sério mesmo?”. Do elenco, os únicos que se salvam é Jeff Bridges, que faz o instrutor de Jonas, e a ponta da cantora Taylor Swift, que faz uma cena somente. E olha que no elenco ainda fazem parte Meryl Streep, cujo papel classificamos como a Susana Vieira norte-americana, e Katie Holmes, ex-Tom Cruise, que é tão branca como as cores que começam o filme.

A trilha sonora é inexistente. Mas a fotografia, não. Tirando esta parte que me chateou da vida sem cor, temos uma excelente fotografia quando vemos as “memórias” de Jonas mundo afora. Caramba, que espetáculo! Te garanto que é o único momento que dá vivacidade ao filme. Estas memórias são os únicos momentos que te fazem remexer na cadeira fazendo com que você desperte o desejo de “se joga”. E eu adoro quando um filme me faz sentir isso. Pena que até hoje bem poucos já o fizeram.

Assim, se você estiver com muita vontade de assistir a “Doador de Memórias”, vá e seja feliz. Agora se tiver outras prioridades, leia o livro e vá se divertir com seus amigos. Bem melhor quando a gente fica com a nossa memória construída na cabeça.

BEM NA FITA: Fotografia.
QUEIMOU O FILME: Direção, elenco, história mais do mesmo.

FICHA TÉCNICA:
Direção: Philip Noyce
Elenco: Brenton Thwaties, Odeya Rush, Jeff Bridges, Katie Holmes, Meryl Streep, Taylor Swift, Alexander Skarsgard, Cameron Monaghan
Roteiro: Robert B. Weide
Produção: Nikki Silver, Jeff Bridges
Fotografia: Ross Emery
Trilha Sonora: Marco Beltrami
Gênero:
Distribuidor brasileiro: Paris Filmes

Bernardo Moura

NAN