Crítica de Filme | O Grande Hotel Budapeste

Pedro Lauria

Wes Anderson é, sem dúvida alguma, um dos diretores mais autorais da nova leva de cineastas norte-americanos. Vindo de ótimas obras como O Fantástico Sr.Raposo e Moonrise Kingdom, o autor já provou a muito que não se trata de um fenômeno de um filme só (algo tão comum na cena indie). Seu primeiro clássico Os Excêntricos Tenenbaums já foi superado a muito – e aquele estilo tão peculiar e único de guiar uma narrativa, já se tornou sinônimo de histórias encantadoras e como um humor leve e irônico.

A interpretação de Ralph Fiennes é um dos pontos altos da obra.

A interpretação de Ralph Fiennes é um dos pontos altos da obra.

Em O Grande Hotel Budapeste, o diretor faz o que melhor sabe – se utilizar de uma linguagem estilizada para subverter as regras de um filme “comum” e criar um universo singular: sua marca registrada. Provando sua ousadia, Wes Anderson já começa quebrando uma “regra” fundamental do narrativa ao começar a contar a história (que se passa nos anos 30) através de 3 flashbacks consecutivos. Porém, tal artifício não é gratuito e, pelo contrário, se mostra vital para compreendermos o alcance histórico dos eventos retratados. E isso se mostra uma decisão acertadíssima, uma vez que a obra conta uma história de escala reduzida, mas que teima em ganhar contornos épicos pelas mãos de Anderson.

Como o próprio título já deixa claro, é o Hotel o grande protagonista, capaz de reunir pessoas capazes de fazer com que seu nome ressoasse na história. E de todos esses personagens (vale citar que o elenco é estelar), são Monsieur Gustave (Ralph Fiennes) e o “Lobby Boy” Zero (o novato Tony Revolori) os maiores responsáveis por eternizarem o local. Finnes, intepreta o gerente do Budapeste, um homem que vive sob uma imagem romântica onde perfumes franceses e declamações de poemas fazem parte integral de sua rotina, e também rica e cavalheiresca, apesar de ser um mulherengo que vive um humilde quartinho de empregado. Ao apostar em uma composição veloz e articulada, Finnes nos faz acreditar que Gustave seja realmente um experiente gerente de um hotel daquele porte – além de gerar constantes “gags” diante de sua inadequação perante o mundo.

Os belíssimos planos centralizados de Wes Anderson continuam presentes.

Os belíssimos planos centralizados de Wes Anderson continuam presentes.

E se comecei a crítica citando a autoralidade de Anderson, é porque em O Grande Hotel Budapeste o diretor conseguiu articular todos os seus trejeitos em prol da narrativa. Dessa forma, os cenários feitos de maquete, os enquadramentos centralizados, a presença de narrador, e o design colorido, todos servem para criar uma aura de nostalgia para o Hotel – ainda mais valiosa, ao considerarmos o personagem pelo qual o ponto de vista encaramos a história. Mas engana-se quem pensa que O Grande Hotel Budapeste é apenas um filme de “forma e estilo”. Por mais que sejamos apresentados a diversos estereótipos e uma realidade extremamente estilizada, a obra – em seu final – consegue nos tocar de forma singela, porém, poderosa.

O design de arte é incrível e lúdico.

O design de arte se utiliza de “meias simetrias” para criar composições harmônicas porém lúdicas.

São poucos os filmes que conseguem unir uma estética imaginativa, personagens fascinantes e uma história que não compromete, dentro de uma narrativa rica e moderna. Faz isso no período em que nos queixamos da falta de criatividade Hollywood então… é algo raríssimo. Com O Grande Hotel Budapeste, Wes Anderson não só confirmou que é um grande diretor, mas também nos deu esperança de que dias melhores virão para o cinema norte americano.

BEM NA FITA: Personagens interessantes; Design Imaginativo; Narrativa criativa.

QUEIMOU O FILME: Uma leve queda de ritmo no meio do segundo ato.

FICHA TÉCNICA:

Título original: O Grande Hotel Budapeste

Direção: Wes Anderson

Roteiro: Wes Anderson

Elenco: Ralph Fiennes, Jeff Goldblum, Willem Dafoe, Edward Norton, Adrien Brody, Mathieu Amalric, Harvey Keitel, Jude Law, Léa Seydoux, Tilda Swinton, Bill Murray, Saoirse Ronan, Owen Wilson e Tony Revolori

Produção:  Wes Anderson e outros

Fotografia: Robert Yeoman

Som: Alexandre Desplat

Gênero: Comédia

Duração: 100 min

País: EUA

Ano: 2014

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN