Crítica de Filme | O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos
Gabriel Meira
Bilbo, O Bolseiro, vive em um condado que chama ironicamente de “bolsão” e parte numa missão para ajudar anões a recuperarem seu lar, onde começa, em uma jornada inesperada, fica frente a frente ao dragão Smaug para roubar a pedra Arken e acaba terminando em uma batalha de cinco exércitos. Partindo desta perspectiva, poderíamos achar que O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos se trata de um filme de comédia, ou até de um infantil, mas como Peter Jackson nos faz olhar de vários ângulos através das diversas premissas sem que perca o rumo dramatúrgico, além de seus planos que dão a possibilidade de nos colocarmos dentro do ambiente cinematográfico sem romper a diegese. Diríamos que Bilbo é um Hobbit que vive em um pequeno condado na Terra Média, onde é convidado pelo mago Gandalf a partir numa missão de recuperação de Erebor, lar dos últimos anões sobreviventes desta linhagem .
Peter Jackson é um daqueles diretores que tem total domínio sobre a obra, nada está ao acaso, todo plano tem um sentido dentro da cena. Muitos o acusam de ser didático, porém seus filmes carregam pouquíssimos diálogos e, quase sempre, estes estão acompanhados de alguma ação. Seus planos cinematográficos, apesar de em sua maioria carregarem um certo classicismo, são os mesmos, para as mesmas situações, porém com umas diferenciações sutis, alterando o tom da cena. Por muitas vezes em O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos podemos observar o movimento dolly out zoom out (movimento de câmera onde ela segue ao contrario do que é filmado ao mesmo tempo em que o zoom é afastado), técnica muito usada em filmes de terror. No entanto, o cineasta usa para mostrar o grande ambiente onde é vivido o filme, criando um leve clima de suspense, anunciando que algo importante irá acontecer.
Em O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos fica, por vezes, difícil separar o que são os efeitos especiais e os efeitos visuais. Em uma rápida explicação, visuais são aqueles feitos plenamente pelo computador e especiais são os feitos fisicamente. Muitas das criaturas tiveram uma boa divisão entre ambos os departamentos, tornando difícil acreditar que algo tão cirurgicamente bem feito não tenha sido toda feita por computador, porém, ao mesmo tempo, a humanidade dos mesmos é tamanha que estranharmos ao saber que grande parte não teve ajuda dos efeitos especiais. A direção de arte de Dan Hennah harmoniza esta unidade, com os cenários criados quase que em sua totalidade na Nova Zelândia, os figurinos respeitando o épico, mas com suas diferenciações navegando a Terra Média, e em suas maquiagens qua ajudam a tornar as criaturas mais humanas. Muitos podem criticar negativamente a direção de arte mais uma vez na saga, o que é comum desde “O Senhor dos Aneis”. O fato de os anões sempre estarem extremamente afetados nas batalhas, sujos,esfarrapados, enquanto os elfos se mantêm com as vestimentas intactas e completamente limpos após uma disputa, isto é so um exemplo de algo rotineiro em todos os exércitos. Neste caso, a direção de arte usa para fortalecer as imagens dos personagens: elfos carregam todo uma elegância que tem de ser reforçada, enquanto os anões são bruscos, quase que vikings em uma versão menor.
Enquanto na maioria dos quesitos as falhas são tão pequenas que se tornam perdoáveis, no roteiro elas se tornam exceções. Apesar de todo o arco dramatúrgico ter sido feito de forma eficaz, respeitando todos os conceitos conhecidos do arco da narrativa, onde podemos observar um filme de quase oito horas ser dividido em três partes, já que não existe um fim para os dois primeiros, o texto é movido por algo que se dá grande importância e se perde assim que o objetivo é alcançado. Com isso, ficamos sem entender o motivo da real importância dada ao que fez parecer meramente dispensável, já que, desde o primeiro filme, os anões e Bilbo, juntamente de Gandalf, entre indas e vindas,vão em busca da pedra Arken, tesouro mais valioso de Erebor. A trama é desenvolvida de forma que a posse da pedra é dada como ponto principal para o sucesso da missão, porém, o objeto se encontra guardado pelo dragão Smaug e o único modo de reconquistar Erebor é destruindo o dragão, o que é feito no início do filme. A posse da “preciosa” ainda é questionada como algo benéfico, que realmente traria poder, quando o anão Balin diz ao bolseiro que era melhor que Thorin não tivesse posse da mesma, do contrário a doença do dragão só iria piorar, outras tramas paralelas também perdem o sentido quando chegam ao fim, como, por exemplo, a luta contra os necromantes, que tem desenvolvimento raso, e o amor entre Kili e Tauriel.
O diretor neozelandês, que executa produções hollywoodianas sem sair de sua terra natal, tem uma exímia direção em O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, não somente pelas questões técnicas, em seus enquadramentos, movimentos de câmera e na condução dos atores, mas claramente Peter Jackson é um grande líder dentro de set. Os departamentos respondem cinematograficamente em total harmonia, deixando consegue traspor seu posicionamento para todos os braços da direção. O mundo criado por Tolkien transposto em forma da sétima arte pelo cineasta é feito de forma tão criativa que nos faz duvidar por minutos se o universo fantástico realmente é somente parte da arte, provando que até mesmo uma ficção pode ser realista. Jackson mostra que indústria e arte não são inimigas, apenas primos brigados que precisam de um terceiro para se entender.
BEM NA FITA: Direção criativa, unificando o clássico ao moderno.
QUEIMOU O FILME: Objetivos dramatúrgicos explorados sem profundidade.
FICHA TÉCNICA:
Nome original: The Hobbit: The Battle of the Five Armies
Gênero: Aventura
Direção: Peter Jackson
Roteiro: Fran Walsh, Guillermo del Toro, Peter Jackson, Philippa Boyens
Elenco: Adam Brown, Aidan Turner, Andy Serkis, Barry Humphries, Benedict Cumberbatch, Bret McKenzie, Cate Blanchett, Christopher Lee, Conan Stevens, Elijah Wood, Evangeline Lilly, Graham McTavish, Hugo Weaving, Iam Holm, Ian McKellen, James Nesbitt, Jed Brophy, Jeffrey Thomas, John Callen, Ken Stott, Lee Pace, Luke Evans, Mark Hadlow, Martin Freeman, Michael Mizrahi, Mikael Persbrandt, Orlando Bloon, Peter Hambleton, Ray Henwood, Renee Cataldo, Richard Armitage, Robin Kerr, Ryan Gage, Saoirse Ronan, Stephen Hunter, Sylvester McCoy, William Kircher
Produção: Carolynne Cunningham, Fran Walsh, Peter Jackson
Fotografia: Andrew Lesnie
Trilha Sonora: Howard Shore
Duração: 144 min.
Ano: 2014
País: Estados Unidos / Nova Zelândia
Cor: Colorido
Estreia: 11/12/2014 (Brasil)
Distribuidora: Warner Bros
Estúdio: 3Foot7 / Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / New Line Cinema / WingNut Films
Classificação: 12 anos
Informação complementar: Baseado na obra de J. R. R. Tolkien