Crítica de Filme | O Jogo da Imitação

Giselle Costa Rosa

Durante a Segunda Guerra Mundial, Alan Turing trabalhou para a inteligência britânica ajudando os aliados a derrotarem os alemães ao conseguir decifrar mensagens criptografadas enviadas para submarinos nazistas com as coordenadas de ataque, minimizando o quantitativo de mortes e encurtando a Guerra. Esse cidadão britânico, pioneiro na inteligência artificial e na ciência da computação, agora ganha uma cinebiografia bem estruturada, porém com uma narrativa bem convencional, intitulada O Jogo da Imitação, uma adaptação do livro “Alan Turing: The Enigma”, escrito por Andrew Hodges.

O filme, dirigido pelo cineasta norueguês Morten Tyldum, é uma oportunidade de conhecer a vida deste gênio da matemática, apesar de já existirem outros materiais sobre a vida dele como Codebreaker (2011), um documentário misturado com ficção, Breaking the Code (1996), Decoding Alan Turing (2009), um documentário de curta metragem e The Turing Enigma (2011), um thriller.

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Na história, Turing, vivido pelo consistente e carismático Benedict Cumberbatch, que em breve estará na pele do Doutor Estranho, faz parte de uma equipe designada pelo governo britânico para quebrar o Enigma, o famoso código que os alemães usavam para enviar mensagens durante a guerra. Matemático, aos 27 anos, ele se vê na frente de seu maior desafio: conseguir decifrar o Enigma e socializar. Sujeito avesso aos relacionamentos de amizade, ele foca no trabalho e assim logo chega a líder de equipe por sua perspicácia e capacidade. Turing é um gênio arrogante e quase incapaz de conviver socialmente. Não há como não associá-lo a Sheldon Cooper, do seriado “The Big Bang Theory”,  em sua forma de interagir com o mundo. Cumberbatch com uma atuação formidável, contida, mas intensa ganha o público logo nos primeiros dez minutos de filme. Temos até uma (quase) Penny, personagem Joan Clarke (Keira Knightley), que também faz parte da equipe. Joan consegue fazer com que Turing aprenda a trabalhar em equipe e assim obtenha permissão para por o seu projeto em prática: construir uma máquina que permita analisar todas as possibilidades de codificação do Enigma em apenas 18 horas.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas Tyldum talvez tenha abusado e sido pouco criativo ao utilizar de uma narrativa com longos flashbacks. E não só isso. Por dominar o gênero de ação, pode ser que o diretor não tenha sabido lidar com um personagem com tanta vida interior e nuances que, na tentativa de expô-las, derrapou, fazendo com que as cenas emotivas parecessem meio forçadas e um tanto vazias. A opção sexual de Turing se configura como uma de suas camadas. Sentindo atração por pessoas do mesmo sexo desde menino, nunca pode vivenciar isso de forma plena, já que tal prática era considerada crime na época. Ainda sim, acabou sendo perseguido por sua homossexualidade, tema tocado de leve e pouco explorado na passagem de sua vida adulta, que capciosamente foi trabalhado na relação dele com sua colega Joan.

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A parte musical é um dos pontos positivos no filme. Alexandre Desplat, músico francês que já compôs a trilha sonora de filmes como ‘O Discurso do Rei’, ‘O Curioso Caso de Benjamin Button’, ‘Godzilla’ e ‘Argo’, ficou encarregado da trilha sonora,  compondo-a em apenas duas semanas e meia, tendo a participação da Orquestra Sinfônica de Londres na gravação.

São oito indicações ao Oscar, dentre elas Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora Original, para esse longa com uma história forte, no entanto meio morna. Constatamos um personagem assolado pela solidão devido a sua inteligência muito acima da média que o desloca para uma zona periférica do convívio social, afastando-o das pessoas comuns. Em contrapartida, conseguiu realizar grandes feitos, mas a que preço?

Uma curiosidade. Quem quiser testar a inteligência, no site oficial do filme, os visitantes têm a oportunidade de resolver as palavras cruzadas concebidas por Turing em sua vida.

BEM NA FITA: a atuação excelente de Cumberbatch, a trilha sonora, a caracterização da época.
QUEIMOU O FILME: narrativa pouco criativa, flashbacks longos, excesso de dramaticidade.
TRAILER:

FICHA TÉCNICA:
Título Original: The Imitation Game
Diretor: Morten Tyldum
Roteiro: Graham Moore
Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Mark Strong
Duração: 1h55min
Gênero: Drama
País: Reino Unido, Estados Unidos
Ano: 2014

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
NAN