Crítica de Filme | O Lobo de Wall Street

Bruno Giacobbo

Antes de qualquer coisa, é preciso registrar o seguinte: O Lobo de Wall Street é um longa-metragem corajoso. Fruto de uma pareceria cada vez mais entrosada entre um dos maiores cineastas de todos os tempos, Martin Scorsese, e um grande ator que ainda busca o reconhecimento universal da crítica e do público, Leonardo DiCaprio. Só dois homens desta envergadura poderiam realizar obra tão controversa e debaixo das barbas da conservadora indústria de Hollywood.

O filme é baseado nas transloucadas memórias de Jordan Belfort (DiCaprio), um corretor de Wall Street que entre os 26 e 36 anos fundou sua própria corretora, a Stratton Oakmont, ganhou mais dinheiro de forma criminosa, usou mais drogas e fez mais sexo do que qualquer outro homem, até ser preso pelo FBI. Hoje, aos 51, ele aparentemente goza de perfeita saúde e vive em uma casa de praia, na Califórnia. No lugar dele, acho, na verdade, tenho quase certeza, eu teria morrido. Não sei se de overdose, cirrose ou de alguma doença venérea, mas não estaria aqui para escrever minha biografia.

Em um país marcado por escândalos financeiros como a Quebra da Bolsa de 1929, inicialmente, qualquer um imaginaria que O Lobo de Wall Street seria uma crítica contundente ao estilo de vida de homens como Gordon Gekko (Wall Street, 1987) e Harold Francis (Blue Jasmine, 2013), mas não é. Este é um dos motivos do longa ser tão corajoso. O outro é o excesso de cenas onde pessoas são mostradas nuas e consumindo livremente todos os tipos de drogas.

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Teria Scorsese, deliberadamente, feito apologia aos crimes financeiros cometidos por Belfort? Em uma das muitas entrevistas concedidas após o lançamento do filme, nos Estados Unidos, o roteirista Terence Winter saiu em defesa do cineasta dizendo que a intenção era dar voz ao personagem real, sem fazer qualquer julgamento. Foi por isto que eles optaram por uma das melhores coisas do filme: colocar o próprio DiCaprio como narrador. Em diversos momentos, ele para tudo o que está fazendo, olha para câmera e conversa com a platéia. Genial!

Polêmicas à parte, O Lobo de Wall Street tem outras qualidades, além da narrativa. Uma delas é o roteiro. Responsável pelos textos das séries “Família Soprano” e “Boardwalk Empire”, a última uma co-produção com Scorsese, Winter estava inspirado. Os diálogos são excelentes e surreais. No meu favorito, os personagens de Leonardo DiCaprio e Matthew McConaughey (em uma ponta impagável e memorável) falam do uso da cocaína e da punheta como os segredos para se dar bem em Wall Street.

O elenco também vale um registro mais demorado. DiCaprio é de longe o melhor. McConaughey, que divide com ele o favoritismo ao Oscar de melhor ator deste ano, por outro papel (em Clube de Compras Dallas, 2013), só não brilha tanto, pois fica pouco tempo em cena. Mas o que dizer de Jonah Hill? Na pele de Donnie Azoff, melhor amigo e sócio de Belfort, o comediante conquistou, com louvor, sua segunda indicação na categoria ator coadjuvante. Destaque também para Rob Reiner e a lindíssima Margot Robbie, intérpretes de “Mad” Max e Naomi, pai e segunda mulher do protagonista.

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A história do corretor que, no auge da fama, foi chamado pela revista Forbes de “Robin Hood deturpado”, agradará todos os apreciadores do politicamente incorreto. No entanto, suas cansativas três horas são um problema. O começo e o final de O Lobo de Wall Street são frenéticos, graças à forma como foi montado e a inserção de músicas em determinados momentos (Por exemplo, Mrs. Robinson na hora que o FBI invade a corretora), mas, lá pelo meio, ele dá uma caída. Se fosse um pouco mais curto, certamente, conseguiria manter o ritmo o tempo todo.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: Os diálogos do ótimo roteiro de Terrence Winter. As atuações de todo o elenco, com destaque para Leonardo DiCaprio, Matthew McConaughey e Jonah Hill.

QUEIMOU O FILME: Suas longuíssimas três horas de duração.

FICHA TÉCNICA:
Diretor: Martin Scorsese.
Elenco: Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Matthew McConaughey, Lyle Chandler, Rob Reiner, Jon Bernthal, Jon Favreau, Jean Dujardin, Cristin Milioti, Christine Ebersole, Shea Whigham, Jake Hoffman, Katarina Čas, P. J. Byrne, Kenneth Choi, Joanna Lumley, Spike Jonze, Brian Sacca, Ethan Suplee, Martin Klebba, Madison McKinley, Barry Rothbart e Bo Dietl.
Produção: Martin Scorsese, Leonardo DiCaprio, Riza Aziz, Joey McFarland e Emma Koskoff
Roteiro: Terence Winter e Jordan Belfort (livro).
Montagem: Thelma Schoonmaker.
Fotografia: Rodrigo Pietro.
Duração: 180 min.
Ano: 2013.
País: Estados Unidos.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN