Crítica de Filme | O Pequeno Príncipe

Colaboração

*Por Camila Vieira

O Pequeno Príncipe (1943), de Antoine de Saint-Exupéry, é um livro que faz parte do imaginário não só de crianças, mas também de adultos – feito que o permite atravessar gerações e ainda hoje ser considerado por muitos como indispensável item de cabeceira. Na década de 70, a obra ganhou uma adaptação para o cinema, em formato musical e live action, com direção de Stanley Donen. Agora outra versão surge, com produção francesa e repaginada como animação pelas mãos do norte-americano Mark Osborne (diretor de Kung Fu Panda e Bob Esponja – O Filme). Apresentado no encerramento do Festival de Cannes e exibido no Anima Mundi 2015, o filme estreia nos cinemas do Brasil.

O notável desta nova adaptação é que, no lugar de se manter presa à história original, ela toma a liberdade de inventar outra narrativa, que serve de ponto de partida para que o espectador atual tenha contato com a essência do clássico de Exupéry. Isto implica dizer que só vamos conhecer a história do garoto de cabelos dourados que vive no asteroide B612, a partir do olhar de outra criança: uma menina estudiosa e aplicada, que acaba de se mudar com a mãe para um novo bairro, onde mora um vizinho excêntrico e idoso aviador – que, na história original, não é apenas o narrador, como o alter-ego do próprio Exupéry.

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Enquanto se prepara arduamente para ingressar em uma escola tradicional sob a supervisão da mãe, a menina se aproxima por acaso do vizinho e se encanta com as aventuras do Pequeno Príncipe, que aos poucos são reveladas pelo velhinho. É interessante como o filme consegue contrapor bem os dois universos: o mundo adulto, imposto pela mãe, que exige da filha a dedicação rigorosa a um plano de vida, com cronogramas, metas e responsabilidades; e o mundo infantil da fantasia, guiado pelo aviador velhinho, que conduz a garota ao lúdico, à aventura, à curiosidade.

Se por um lado, a garota aprende com o aviador outros ensinamentos que extrapolam o conhecimento instrumental e produtivo, ela também vai ensinar o velhinho a ter esperança e ainda ver bem com o coração. Afinal, o “essencial é invisível aos olhos”, como diz a famosa frase da raposa, que é mantida no filme. E, por falar em frases, não há nada mais comovente que a solução, em uma das cenas mais belas do filme, de deixar para a menina a célebre frase de Exupéry: “a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar”.

Outro mérito do filme é incorporar diferentes técnicas de animação ao longo da narrativa, revelando o cuidado primoroso com a direção de arte: a história principal da menina, da mãe e do velhinho segue o moderno 3D em computação gráfica, enquanto a do pequeno príncipe é em stop-motion, com moldes em papel machê, bem próximo dos traços originais de Exupéry. Por todas estas qualidades, O Pequeno Príncipe já pode ser alçado ao posto de melhor animação do ano, talvez superando “Divertida Mente”, da Pixar.

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Animação
Direção: Mark Osborne
Roteiro: Irena Brignull
Elenco: Albert Brooks, Benicio Del Toro, Bud Cort, Jacquie Barnbrook, James Franco, Jeff Bridges, Jeffy Branion, Mackenzie Foy, Marcel Bridges, Marion Cotillard, Paul Giamatti, Paul Rudd, Rachel McAdams, Ricky Gervais, Riley Osborne
Produção: Alexis Vonarb, Aton Soumache, Dimitri Rassam
Fotografia: Kris Kapp
Montador: Carole Kravetz Aykanian, Matt Landon

Colaboração

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