Crítica de Filme | O Sétimo Selo (1957)
Bruno Giacobbo
Na esteira do que vem fazendo o Cinemark, desde o ano passado, com sua sensacional programação de clássicos que emplaca sua oitava edição, agora, em julho, e do Grupo Estação que, nos últimos meses, exibiu os excepcionais e prestigiados “Cidadão Kane” (1948), de Orson Welles, e “Era Uma Vez na América” (1984), de Sergio Leone, o Itaú Artplex dá continuidade à apresentação, ao público carioca, de filmes que boa parte das pessoas, pelo menos as muito jovens, não teve a chance de ver na telona. Com estreia prevista para o dia 16 de julho, o escolhido da vez é O Sétimo Selo, uma das muitas obras-primas do cineasta sueco Ingmar Bergman, indicado à Palma de Ouro e ganhador do Prêmio do Júri, no Festival de Cannes, em 1957.
Com o roteiro adaptado de uma peça teatral do próprio diretor e com a iconografia baseada nos murais de uma igreja frequentada por seu pai, este longa-metragem é lembrado, entre os leigos, pela cena de um cavaleiro medieval jogando xadrez com a Morte. No entanto, para quem for vê-lo pela primeira vez, cuidado. Esta não é mais uma típica história de guerreiros brandindo espadas em batalhas épicas. Ela é bem diferente de “Coração Valente” (1995) ou “Gladiador” (2000), sem nenhum demérito, claro, para estes dois filmes que adoro de uma forma distinta. Na realidade, o enredo fala sobre esperança, ceticismo e fé.
A trama gira em torno de três homens: o cavaleiro Antonius Block (Max von Sydow), o escudeiro Jöns (Gunnar Björnstrand) e o ator e integrante de um circo itinerante Jof (Nils Poppe). O primeiro foi um cruzado e tem consciência de que fez muitas coisas erradas em nome da religião. Ele sabe, também, que possui pouquíssimo tempo de vida, por isto tenta ganhar uma sobrevida jogando xadrez com a indesejada. Afinal, só assim tem alguma chance de vitória. Tudo o que Block deseja é compreender o sentido de sua existência e ser perdoado por Deus, ainda que tal esperança pareça vã.
Já o escudeiro viajou o mundo todo servindo seu patrão. Fiel, Jöns não deixou de apoiar o cavaleiro em nenhum momento. Estas andanças o tornaram igualmente consciente de seus erros, sábio, sarcástico e, o mais importante, cético. Conformado, ele espera pelo fim inevitável. Por sua vez, Jof é o oposto, pois acredita que tudo dará certo, mesmo que, às vezes, possa não dar. Ele tem visões, enxerga o que os outros não veem. E não liga para o fato de seus relatos serem taxados de fantasiosos. O ator é a fé viva alimentada pelo amor pela lindíssima esposa Mia (Bibi Andersson) e o filho.
A minha intenção, ao escrever este texto, nunca foi fazer uma crítica. Desde 1957, muitos já escreveram e falaram sobre O Sétimo Selo. Inclusive, eu mesmo. Algumas das idéias expostas por mim, aqui, expus em outro texto de minha autoria, em um site de futebol (Sim, acreditem, dá para relacioná-lo com o glorioso esporte bretão). A intenção, portanto, era apresentar um filme que considero, por muitos motivos, essencial para qualquer cinéfilo. Entre eles o de se manter atualíssimo em dias onde o debate religioso prossegue intenso e suas cenas extremamente cinematográficas, com destaque para uma procissão em que as imagens chocam e fascinam simultaneamente.
Desliguem os celulares e ótima diversão.
FICHA TÉCNICA:
Direção e roteiro: Ingmar Bergman.
Produção: Allan Ekelund.
Elenco: Max von Sydow, Nils Pope, Gunnar Björnstrand, Bibi Andersson, Anders Ek, Bengt Ekerot, Berto Anderberg, Gunnal Lindblom, Inga Gill, Inga Landgre e Maud Hansson.
Direção de Fotografia: Gunnar Fischer.
Trilha Sonora: Eric Nordgren.
Edição: Lennart Wallén.
País: Suécia.
Duração: 96 minutos.
Ano: 1957.