Crítica de Filme | Oldboy – Dias de Vingança
Wilson Spiler
Proveniente de um mangá escrito por Garon Tsuchiya e ilustrado por Nobuaki Minegishi em 1996, Oldboy acaba de gerar seu segundo filme (ao menos aqui no Brasil, porque nos EUA ele já saiu até em DVD/Blu-ray). Cercada de polêmica por conta do conflito com tradições familiares – chocando ainda mais a sociedade oriental -, a publicação conta uma história de vingança. E das mais sórdidas.
Para quem não sabe qual a trama da HQ, ela conta a história de Shinichi Gotō, que ficou encarcerado dentro de um quarto por 10 anos sem saber o motivo e quem o prendeu. Por uma década o seu único contato com o exterior foi uma televisão e as vozes que ouvia dos carcereiros. Até que, em um belo dia, é solto no mundo, também sem motivo aparente. Eis que ele resolve descobrir a verdadeira razão disso tudo. Ou seja: vai atrás de vingança.
Lançado em 2003, o longa de Chan-wook Park impressionou uma geração, que até então mal conhecia o cinema sul-coreano. Com sua direção primorosa, o filme foi muito mais que violência e deterioração dos valores morais impostos pela sociedade. O ritmo, a fotografia, o desenvolvimento do roteiro e o grand finale foram dignos de aplausos e abriu espaço para um profissional de altíssima qualidade.
No entanto, a notícia de que haveria uma versão norte-americana gerou cautela – e até desespero – por parte dos fãs do original. As notícias começaram a melhorar quando os primeiros integrantes da produção foram anunciados. Com Spike Lee na direção, Josh Brolin e Elizabeth Olsen nos papeis principais, além de Samuel L. Jackson compondo o elenco, parecia haver luz no fim do túnel. Mais ainda quando foi divulgado o primeiro trailer (veja no fim do texto) e que não se trataria de um remake, mas sim uma adaptação do mangá, o que não ocorreu com o filme sul-coreano, que havia sido apenas baseado na revista. Mas não foi o que se viu na telona.
Já nos primeiros minutos é possível observar que as diferenças são brutais de Oldboy – Dias de Vingança (sempre o subtítulo desnecessário em português) para a publicação. A começar pela personalidade do protagonista, tratado, tanto no filme sul-coreano quanto no mangá, como uma pessoa pacata. Na versão norte-americana, Joe (como é chamado o personagem) é um verdadeiro babaca, na acepção da palavra. Alcoólatra, casado e com uma filha de três anos, a quem não dá a mínima atenção, tudo é completamente diferente da HQ. Além disso, ao invés da prisão por 10 anos, sua reclusão foi por duas décadas. Por aí já pude perceber que se tratava de uma adaptação livre da revista. OK, a produção original também era e foi ótima. O que não acontece aqui.
Josh Brolin e Elizabeth Olsen estão excelentes, mas em momento algum eles se conectam e fazem o espectador realmente acreditar que são um casal apaixonado. Já Samuel L. Jackson está caricato como sempre. O grande vilão e sua comparsa também são extremamente inexpressivos. É tudo muito corrido, onde somos forçados a aceitar as situações sem maiores explicações e o desenvolvimento dos personagens é quase nulo, tornando o longa, em diversos momentos, perdido, com a sensação de que o roteiro não foi bem elaborado e feito às pressas. Por sua vez, Spike Lee, famoso por filmes como “Faça a Coisa Certa”, “Malcolm X” e “O Verão de Sam” prossegue com sua derrocada. Embora não seja seu pior trabalho, nos últimos anos, apenas “O Plano Perfeito” vale algum destaque. Onde está aquele diretor de enorme talento do início da carreira?
Aposto que quem viu o original esperava a famosa cena do martelo (que, diga-se de passagem, inexiste no mangá), certo? Sim, ela ocorre aqui também, mas de uma maneira que chega a ser cômica. Há alguns takes interessantes nela, mas muito longe do impressionante jogo de câmeras e da fantástica tomada reta utilizada pelo sul-coreano, que lembrava um pouco os antigos games de correr e bater. Mas a violência está lá (em menor quantidade, é verdade), com cabeças estouradas e sangue voando por todos os lados.
Porém, se no mangá o final é um pouco decepcionante, com um motivo relativamente bobo (nos conceitos ocidentais) para tamanha vingança, tanto no filme sul-coreano quanto no norte-americano o desfecho é chocante, mas com rumos diferentes, embora semelhantes (se assistir ao longa vai entender o que estou falando).
Oldboy – Dias de Vingança deixa uma ponta de decepção no coração do fã do original. Se você faz parte desse grupo, é bom passar bem longe da porta do cinema. Apenas Elizabeth Olsen e Josh Brolin valem o ingresso, mas é muito pouco. Deve haver melhores opções no dia. Caso não haja, passe na sua locadora e tente alugar “Mr. Vingança” e/ou “Lady Vingança”, que fazem parte da trilogia sobre o tema. Ambos são dirigidos também pelo competentíssimo Chan-wook Park. Já Spike Lee… Spike Lee? Quem?
BEM NA FITA: Elizabeth Olsen e Josh Brolin; violência mantida; desfecho.
QUEIMOU O FILME: Direção irregular; Samuel L. Jackson caricato; vilões inexpressivos; adaptação completamente diferente do mangá; maldito subtítulo em português.
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FICHA TÉCNICA:
Nome original: Oldboy
Gênero: Ação
Direção: Spike Lee
Roteiro: Mark Protosevich
Elenco: Austin Naulty, Brett Lapeyrouse, Caitlin Dulany, Ciera Payton, Elizabeth Olsen, Elvy Yost, Grey Damon, Hannah Ware, Ilfenesh Hadera, James Ransone, Joe Chrest, Josh Brolin, Lance Reddick, Linda Emond, Max Casella, Michael Imperioli, Philippe Radelet, Pom Klementieff, Rami Malek, Richard Portnow, Samuel L. Jackson, Sharlto Copley, Stephanie Grote, Taryn Terrell, Victoria Geil
Produção: Doug Davison, Roy Lee, Spike Lee
Fotografia: Sean Bobbitt
Montador: Barry Alexander Brown
Trilha Sonora: Bruce Hornsby
Duração: 104 min.
Ano: 2013
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 05/06/2014 (Brasil)
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: 40 Acres and a Mule Filmworks / Good Universe / Vertigo Entertainment
Classificação: 18 anos
Informação complementar: Baseado no mangá de Garon Tsuchiya e Nobuaki Minegishi.