Crítica de Filme | Os Cavaleiros do Zodíaco – A Lenda do Santuário
Bruno Giacobbo
Ainda tenho muito nítido na memória as tardes que eu chegava da escola e ia correndo para frente da televisão assistir o desenho Cavaleiros do Zodíaco, exibido no Clube da Criança, programa apresentado por uma loirona belzebu que atendia pela alcunha de Paty Beijo, na extinta Rede Manchete. Nada me fazia faltar a este encontro com as aventuras de Seiya, Hyoga, Shiryu, Shun e Ikki, os cinco guerreiros das armaduras de bronze que tinham a missão de defender Saori, a reencarnação da deusa Atena. Nas mãos deles estava o destino da humanidade. Épico, heróico, trágico e redentor. Tudo isto ao mesmo tempo. Imperdível para o adolescente que eu era naquela época.
Foi por estas razões que, envolvido e tomado por completo clima de nostalgia, me ofereci para escrever a crítica de Os Cavaleiros do Zodíaco – A Lenda do Santuário, longa-metragem animado dirigido por Keiichi Sato e produzido pela Toei Animation, que será lançado por aqui nesta quinta-feira, dia 11 de setembro, coincidentemente, no ano em que se comemoram os 20 anos de exibição da série no Brasil. Fui, vi e, sinceramente, saí do cinema um pouquinho decepcionado.

Eu sei que reproduzir o conteúdo de 73 episódios em um filme de pouco menos de duas horas, 93 minutos para ser preciso, é bastante complicado. Algumas coisas precisam ser omitidas e determinadas adaptações são necessárias. Infelizmente. O mesmo acontece com os grandes livros. Desta forma, sempre existe o risco de desagradar os defensores mais xiitas da obra. Logo, na hora de levar sucessos originários de outras plataformas para a telona, é preciso ter a seguinte pergunta em mente: a história faz sentido para todos, fãs ou não fãs? Neste caso, a resposta é sim. Contudo, Os Cavaleiros do Zodíaco – A Lenda do Santuário agradará muito mais ao público infantil, de preferência àqueles que nunca viram o desenho, do que aos velhos apreciadores e adultos de uma maneira geral.
Apesar da história ser redonda, falta, por exemplo, o arcabouço moral e histórico (de vida) que ajuda a justificar as atitudes dos protagonistas. Estes aspectos omitidos estavam nas subtramas que, na série de televisão, completavam perfeitamente a trama central. Algumas, como o torneio intergaláctico, eram dispensáveis. Já os detalhes sobre o relacionamento de Hyoga com sua mãe ou sobre o local onde Ikki treinou para ser um cavaleiro, não. Com personagens sem profundidade, o longa-metragem ficou infantil demais. Assinado por Tomohiro Suzuki, o roteiro também joga contra o patrimônio ao apelar, em diversos momentos, para soluções simplistas.

Em compensação, a equipe de dubladores original, dirigida por Hermes Baroli e Zodja Pereira, foi mantida e este é um ponto bastante positivo. Afinal, eles conquistaram 17 vezes, entre os anos de 2003 e 2011, o Prêmio Yamato, considerado o Oscar da dublagem brasileira. Este é um dos muitos casos em que dubladores de verdade – atores acostumados a desempenhar este trabalho e não celebridades, humoristas e afins – dão mais bossa ao produto final, ainda que alguns diálogos beirem o risível.
Feito em animação computadorizada e inovando no visual dos personagens, alguns para melhor, outros nem tanto, Os Cavaleiros do Zodíaco – A Lenda do Santuário vale pela tentativa de resgatar uma época sem volta, ao levar para os cinemas este clássico da televisão que marcou uma geração. No entanto, os puristas saltitarão nas cadeiras quando descobrirem que um cavaleiro teve seu sexo alterado e com uma cena que mais parece tirada de um musical da Disney.
Desliguem os celulares e boa diversão.
BEM NA FITA: A dublagem brasileira. O novo visual dos personagens e o fato do desenho ter sido feito em animação computadorizada.
QUEIMOU O FILME: A adaptação que levou ao corte de algumas subtramas importantes e a consequente falta de profundidade de alguns dos protagonistas. O roteiro que apela para soluções simplistas.
FICHA TECNICA:
Nome original: Saint Seya: Legend of Sanctuary
Gênero: Animação
Direção: Keichi Sato
Roteiro: Chihiro Suzuki
Elenco: Kaito Ishikawa, Kenji Akabane, Kenji Nojima, Kôichi Yamadera, Nobuhiko Okamoto
Produção: Masami Kurumada, Yosuke Asama
Duração: 98 min.
Ano: 2014
País: Japão
Cor: Colorido
Estreia: 11/09/2014 (Brasil)
Distribuidora: Diamond Films
Estúdio: Toei Animation Company
Classificação: 10 anos
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.















































