Crítica de Filme | Para Minha Amada Morta

Adolfo Molina

A vingança é um corredor que já dita as sentenças antes mesmo dos sapatos brancos e os uniformes padronizados darem o primeiro passo na entrada. A vida que se move disso, que se capacita disso, cava sua própria cova, esperando que se enterre a vítima da vingança ou o vingador. Pois o vingado(a) já está sob terra marrom.

Aly Muritiba traz sua experiência e poderio narrativo em Para Minha Amada Morta, vencedor e prestigiado em importantes premiações de cinema internacional, como em São Paulo, Brasília e Vancouver. No longa, Fernando (Fernando Alves Pinto) é um fotógrafo policial/forense que cria seu filho Daniel (Vinicius Sabbag), após a morte de sua esposa Ana (Michelle Pucci). Fernando ainda não supera a morte e fica noites revivendo –a através de manuseios de suas roupas e itens pessoais, além de assistir fitas cassete antigas. No entanto, ao olhar uma delas, um fato mudará pra sempre sua vida e sua observação perante sua amada.

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Aly cria um argumento em que além de sexo e vingança narrativa, o conto da morte se sobressai não só como uma casualidade mas também como uma persona, uma identidade não-sobrenatural que cria um senso de impacto e urgência perante o decorrer do filme e da associação dos personagens com este fato.

O tom da fotografia aumenta a sensação fúnebre e de luto; tons negros saturados e expositivos, meio tons e luzes com pouca densidade, irradiam bem pouco, principalmente em ambientações internas. A direção cristaliza uma obscuridade em relação à Fernando; desde a interpretação de suas ações, a instigação de momentos que possam apresentar análises fora da moral e ética humana. Nas câmeras, Aly leva tempo para pegar o ritmo certo e apresentar a trama de uma maneira fria, calculista, sombria e com personagens adicionais que vão tonalizando as gangrenas expostas de Fernando.

A abordagem sutil do fim da vingança, as amarras sorrateiras que faz sobre libertinagem, escolhas pessoais, imposições religiosas e até mesmo os conceitos do homem como motivador da bestialidade. As relações dos outros personagens com Fernando é específica e conota aspectos da psicanálise do cerne individual de cada um. O que é insinuando, o que é contido e ao mesmo tempo, exposto em cada gesto de benevolência ou fundamentos moralmente errados.

A passagem dos atos percorre cenários diversos, arcos que demoram para criar sua própria atmosfera e com isto, encaixar no ambiente total do filme, mas quando a simbiose cinematográfica, o filme cresce consistentemente. A inquietação e a forma de lidar com o fim se inaugura pontualmente e se encerra em tom perspicaz e inteligente. A ideia conceitualmente é mais brilhante que sua execução, mas o complemento linguístico das duas realça um roteiro excepcional com ótima atuação de Fernando e Lourinelson Vladmir, o “vilão”, Salvador.

Confira o trailer:


Ficha Técnica:
Título: Para Minha Amada Morta
Gênero: Drama
Direção: Aly Muritiba
Roteiro: Aly Muritiba
Duração: 140 minutos
Lançamento: Quinta, 31/03/2016
Fotografia: Pablo Baião
Montagem: João Menna Barreto
Produção: Grafo Audiovisual, Vitrine Filmes.
Classificação: 18 anos
Elenco: Fernando Alves Pinto, Mayana Neiva, Lourinelson Vladmir, Giuly Biancato, Michelle Pucci, Vinicius Sabagg

Adolfo Molina

Jornalista hiperativo, estranho e que ama falar e escrever. Sou o que sempre busco ser. Comunicar e mudar as pessoas. Levar o bem através de tudo que amo!
NAN