Crítica de Filme | Poltergeist – O Fenômeno
Stenlånd Leandro
Não sei até onde pode chegar a ousadia do ser humano. A criatividade é algo que se produz inicialmente no coração com a vontade de se mostrar diferente e o principal: inovador. Quando se trata de refazer qualquer coisa, não há muito o que inovar, afinal, a obra já foi escrita, inscrita, ditada, onde a fórmula já é conhecida e o que vem depois acaba sendo um certo marasmo. Houveram tantas especulações sobre este filme que, após inúmeras notícias sobre formatos, diretores, elenco e roteiristas, o filme alcançou o território nacional. E, claro, com esta divulgação, surgiram os primeiros comentários de fãs e textos críticos sobre mais uma refilmagem do gênero. Poltergeist – O Fenômeno é um bom filme, mas que poderia ter sido evitado como outros remakes.
Há uma certa porta entre o Inferno e a Terra que mostra que do passado para cá, a evolução tecnológica poderia interferir mesmo no futuro. Lá atrás na versão de 1982, não haviam drones, celulares, câmeras infra-vermelhas muito menos GPS para grudar nas pessoas e você rastrear um indivíduo na casa. Cinema e televisão sempre viveram uma relação de amor e ódio. Na metade dos anos 50 para frente, o cinema começou a sentir a competição com a televisão ao perder grande parte do seu público e, tentando inverter este quadro, procurou inovar tecnicamente, como foi o caso da invenção do CinemaScope. Mas por que demônios eu estou mencionando isto? A interação-elo da TV com o cinema acaba criando um cenário lúdico nesta película onde jorrar uma quantidade massiva de efeitos especiais jamais vistos em filmes de terror acaba cansando um bocado as vistas.
A angústia contida em nosso peito é um outro detalhe interessante. E que, diferente daqui, as casas nos Estados Unidos, em que curiosamente é onde acontece de tudo (possessões, mortos revivem, espíritos Zombeteiros) possuem seus sobrados do porão ao sótão, cada cômodo independente serve para isolar personagens, aquele armário embutido… Enfim, é da sensação de solidão que vem boa parte do medo torrencial. Como parte disto – e como sempre – a desgraça do garotinho e sua curiosidade quase que mata a família. O mesmo acontece com a menininha, que, por ingenuidade, tem que fazer sempre algo, como verificar portas fechadas; acendeu a luz em um lugar e, por curiosidade, tem que ir lá; faz barulho em algum canto e os ‘corajosinhos’ vão sempre verificar e enfrentar o que tiver de ser…
O paradoxo do espaço e tempo, onde uma dimensão finita mensurável em apenas alguns hectares de lodo e umas 20 dúzias de defuntos desalmados querendo raptar a menininha que seria o escape deles para a luz, fez o Poltergeist – O Fenômeno virar em um certo momento aquela coisa meio “REC”, para quem assistiu o filme. Para o fã da franquia, sabe que a família acaba sendo visitada por fantasmas, que inicialmente se manifestam apenas movendo objetos pela casa, dando choques, alterando certas coisas na gravidade da casa, mas gradativamente vão aterrorizando-os cada vez mais, chegando a sequestrar a caçula através do televisor que é uma linda TV de umas 47 polegadas LED, e que deve ter 3D, ser Smart, com acesso ao YouTube, Facebook, coisa que nem minha TV tem. Ainda que, com tanta vantagem num televisor, ele também acaba tendo mais uma tecnologia interessante que as TVs antigas tinham, especificamente uma criada em 1982: se comunicar com os mortos. Os pais se desesperam. Até mesmo o iPhone (aparentemente o 5S) da filha mais velha do casal, acaba tendo mais uma novidade no mundo tecnológico: uma espécie de rastreador de paranormalidade. Até hoje se pergunta como é que os espíritos penetravam na casa e tomaram conta da menininha. Através do eletroeletrônico mais valorizado no século XX: o televisor. Os espíritos surgem, não aterrorizando, mas seduzindo, como num dos inúmeros programas de televisão. A beleza construída pelos espíritos para seduzir esconde o horror, como a televisão normalmente o faz: a beleza construída pelo meio é para seduzir, sim, mas também é para esconder o grande horror das mazelas sociais da vida dos telespectadores.
Bom, os efeitos especiais, são um charme à parte e, se em 1982 foram criados pela Industrial Light & Magic, agora a coisa ficou mais séria ainda com a qualidade que hoje temos. Tal uso impressionam bastante, sendo muito eficientes e misturando-se perfeitamente com o roteiro e o suspense em grande parte da película. A família é perfeita, em particular a menininha , que sempre tem que existir num filme de terror que se tenha respeito. Ainda que os efeitos de 1982 não cheguem perto dos que aqui foram usados em sua adaptação/remake, “Poltergeist” (1982) foi um e sempre será um clássico do terror que marcou uma geração.
Um outro detalhe é que, como remake, não é só a casa virando pó – que foi uma cena incrível para a época -, mas além disso, o filme marcou por cenas que até hoje são recordadas pelos fãs como o palhaço que ataca o filho. Você pode esperar este embate na película contemporânea. Poltergeist – O Fenômeno (2015) não consegue fazer tão competentemente o que o primeiro longa fez. Apesar de modernizar o cenário, ambientes e objetos, o enredo do longa é muito fraco. As atuações não são tão boas, especialmente a do pai e chefe da família. Jared Harris, que vive o pai dos meninos, tem uma atuação tão rasa que chega dar úlcera de tanto ódio. Talvez, até mesmo com os filmes medíocres, Steven Seagal teria sido uma melhor escolha. Os eventos que remetem ao original ocorrem de maneira muito rápida e, consequentemente, não há uma construção da atmosfera de tensão e de mistério acerca da presença de entidades místicas no local, muito menos tempo para que os personagens se estabeleçam, coisas que o clássico fez muito bem. Ao menos, a atuação dos filhos em situações de medo e horror são boas e transpareceram legitimidade, sem parecerem forçadas. O grande destaque, e talvez uma das maiores diferenças em relação à uma produção e outra, é a importância do filho do meio, Griffin. Kyle Catlett (do seriado The Following) está muito bem , vivendo o garotinho assustado, com um trauma, que veio provavelmente da casa anterior.
Um outro detalhe muito, mas muito grande, é que se você não assistiu ao clássico, com certeza irá sentir muito medo e susto no remake desse ano. Se você não é o tipo de pessoa que ama clássicos e acha aqueles efeitos antigos horríveis, certamente gostará muito mais do remake, pois não é de todo um longa ruim. Mas se já é da velha geração e falou pros amiguinhos da escola que já invadiu casas mal assombradas, que dormiu em cemitério e que teve contato com espíritos, então corre a chance de você ficar levemente decepcionado com o novo. Claro, há uma diferença muito grande entre o clássico e este, pois quase oito anos depois do fraco “Cidade das Sombras”, de 2008, o inglês Gil Kenan retornou à direção de um filme e tinha que ser logo Poltergeist – O Fenômeno? Ou alguém esqueceu que Steven Spielberg escreveu o primeiro filme da franquia?
Para encerrar a crítica, e voltando ao ponto principal: Poltergeist – O Fenômeno irá assustar os novinhos e pode decepcionar os fãs antigos, que, com certeza, iriam preferir assistir uma versão remasterizada do original nos cinemas do que esse remake.
PS : (Ainda estou em busca de um filme que supere Invocação do Mal, por favor!)
FICHA TÉCNICA:
Título original: Poltergeist
Ano de produção: 2015
Dirigido: Gil Kenan
Estreia: 21 de Maio de 2015 (Brasil)
Duração: 94 minutos
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos
Gênero: Terror Thriller
País de Origem: Estados Unidos da América