Crítica de Filme | Quarteto Fantástico

Bruno Giacobbo

Anunciado em agosto de 2009, o reboot de o Quarteto Fantástico levou exatos seis anos para chegar aos cinemas. O que inicialmente pareceu um tempo bastante longo entre seu anúncio e o lançamento, no fim, acabou se revelando um golpe do destino, pois o longa-metragem estréia em meio ao boom de filmes baseados em quadrinhos e que tem arrastado multidões de fãs aos multiplex do mundo todo. Se por um lado isto significa concorrer com obras que são sucessos de público e crítica, por outro é uma garantia que, pelo menos num primeiro momento, não faltarão espectadores famintos por aventuras, ação desenfreada e grandes atos de heroísmo. E é justamente aí que mora o perigo do filme dirigido e co-roteirizado por Josh Trank.

Ao dar partida em uma nova franquia da saga de Reed Richards (Miles Teller), Ben Grimm (Jamie Bell), Sue (Kate Mara) e Johnny Storm (Michael B. Jordan), a origem oficial dos heróis, formulada nos anos 60 por Stan Lee e Jack Kirby, foi ignorada. A opção foi por basear o enredo em fatos tirados do ‘Universo Ultimate’, uma linha alternativa de histórias voltada para leitores interessados em tramas com maior embasamento científico. Nesta versão, não é a energia cósmica que transforma os quatro amigos em Senhor Fantástico, Coisa, Mulher Invisível e Tocha Humana. A idade dos personagens é parecida também. Há espaço ainda para outras liberdades criativas: os Storm são irmãos adotivos; já Reed e Ben se conhecem desde a infância e não da faculdade.

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Tais mudanças podem incomodar os fãs mais xiitas. No entanto, tudo isto é aceitável dentro de uma boa história de super-heróis. O problema é que este Quarteto Fantástico não é convencional, já que dedica a maior parte dos seus 100 minutos a apresentar e desenvolver os personagens; reservando apenas seu desfecho para o confronto entre os mocinhos e o vilão. Diferente dos demais filmes lançados durante o boom dos quadrinhos, o longa-metragem de Trank está muito mais próximo de uma ficção científica com pitadas de horror, no melhor estilo Mário Bava, em “Planeta dos Vampiros” (1965), guardadas as devidas limitações tecnológicas da época, do que dos seus congêneres. Esta faceta fica clara quando o quarteto ‘descobre’ seus poderes. As cenas são extremamente bem feitas e se constituem no melhor momento do filme.

A opção por esta linha é um gesto ousado e ousadia, normalmente, é bem-vinda. Mas ao entregar um produto que, em sua essência, difere do que o público espera de obras do gênero, o diretor, o estúdio e todos os envolvidos ficam reféns de aspectos que possivelmente seriam ignorados por quem quer somente ver seus heróis em ação. Esses aspectos são os frutos das tais liberdades criativas. Diante da constatação de que foram ludibriados em suas expectativas, os espectadores podem rejeitar o filme. E aí, talvez, nem mesmo tudo de bom que ele tenha, os ótimos efeitos, o roteiro e o competente elenco liderado por um jovem ator carismático (Teller), seja suficiente para manter o interesse de quem ainda não viu quando o boca a boca se alastrar.

Desliguem os celulares e boa diversão.

FICHA TÉCNICA:

Direção: Josh Trank.
Roteiro: Simon Kinberg, Jeremy Slater e Josh Trank.
Produção: Gregory Goodman, Robert Kulzar e Matthew Vaughn.
Elenco: Miles Teller, Michael B. Jordan, Kate Mara, Jamie Bell, Toby Kebbell, Reg E. Cathey e Tim Blake Nelson.
Trilha Sonora: Marco Beltrami e Philip Glass.
Direção de Fotografia: Matthew Jensen.
Montagem: Elliot Greenberg.
País: Estados Unidos.
Duração: 100 minutos.
Ano: 2015.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN