Crítica de Filme | Sentimentos Que Curam
Stenlånd Leandro
O Sentimento do ser humano pode confundir as pessoas. Muitas delas dizem amar umas às outras, mas nem sempre é assim. Em diversas situações é puramente da boca para fora e você fica com aquilo engasgado sem poder dizer o que realmente pensa sobre a situação. Recentemente, tive um caso de família, onde o sentimento que deveria curar, não existiu. Eu sei que esta crítica não deveria interpor o lado pessoal do crítico, mas quando você assiste a um filme tão sentimental como esse, impossível não se identificar.
Sentimentos Que Curam tem uma trajetória similar a minha. A família Stuart que se passa por volta dos anos 60~70, na cidade de Boston, onde Cameron (Mark Ruffalo) foi diagnosticado com Transtorno Bipolar. Sua vida seguiu em frente e não se absteve de casar-se com seu grande amor Maggie (Zoe Saldana). O problema é que todo tipo de doença ou tende a curar-se, ou a cada minuto que passa, acaba piorando. Infelizmente, para o desespero de Cam (assim chamado na película), o mesmo acaba piorando, sua família o abandona e ele acaba tendo um colapso e o levam direto a uma internação.
Quando menciono que me identifico com a história, é que muitos tem parentes adoecidos em suas casas, alguns sofrem maus tratos, mas o que corrói a alma é o momento em que alguns parentes abandonam aqueles que sempre estiveram conosco em todos os momentos. Diferente da película onde Maggie e as crianças o visitam frequentemente, aqueles aos quais cito nesta crítica (vinculado a minha família), desapareceram. Maggie era presente e sempre levou as crianças para visitar Cam frequentemente. Um outro ponto muito mas muito interessante que se identifica com um caso muito recente aqui em minha casa, é que a situação financeira da família não está boa. Enquanto aqui gastamos mundos e fundos de remédios com intuito de ver quem estava doente melhor, em Sentimentos que Curam não é bem assim.
Cam tenta reconciliar-se com sua esposa e filhas. Um dia, Maggie propõe a Cam tomar conta das crianças enquanto ela vai à Nova York fazer um Mestrado, arranjar um trabalho melhor e resolver os problemas financeiros da família. Cam concorda, pois vê essa proposta como algo que não só pode ajudá-lo em sua recuperação como também uma chance para a reconciliação familiar que tanto deseja.
Até que você encontre uma simpatia pelos personagens, é bom dizer que em todo o filme, apesar do transtorno criado pelo Ruffalo e sua doença, é quando a personagem de Zoe Saldana age que a mesma acaba te fazendo questionar todas as atitudes jogadas no ventilador durante a pelicula, do começo ao fim, mas não te deixa distante das razões e das necessidades. Não é fácil para qualquer um conviver com um marido doente, internado em um hospital psiquiátrico. Quase como se as suas intenções justificasse as suas ações, que por mais complicadas que venham a ser, se apresentam difíceis para ela também.
É preciso ir preparado ao cinema para um filme que apesar dos problemas apresentados, o mesmo acaba sendo leve, de certa maneira divertido, envolvente e apaixonante. O drama ligado aos temas da família no dia de hoje, recriam uma lógica que remetem a outros filmes que já passaram por necessidades simbióticas quanto ao tema de sociedade onde a família precisa cuidar dela mesma. Da última vez que assisti um filme assim, foi em Um Estranho Ninho de 1975, que além de ter ganho cinco Oscars na época, um deles era de melhor filme.
Não há como negar que o ponto forte do filme acaba sendo seu elenco. O Roteiro é batido e a história é bem similar. Mas é quando Mark Ruffalo começa a mostrar que sabe o que é padecer de uma doença, pois tinha um tumor cerebral, que foi retirado em 2002. É ai fica tudo mais fácil, onde atuação na verdade se transforma numa experiência de vida real já conectada ao seu dia a dia. O fato o fez refletir muito sobre a vida e a morte e essa experiência particular fez com que o ator desenvolvesse uma atuação melhor que suas anteriores. Não preciso mencionar Zoe Saldana, que tem uma bela atuação.
Muitas das vezes são os sentimentos que curam, o envolvimento que cura, que puxa a pessoa do fundo do poço e a faz querer viver. O que seria de Cam sem o suporte de sua família que outrora o deixou? E a esperança, onde fica? Há sempre a crença de que o amor envolvido entorpece a alma e faz esquecer dos problemas, das dores carnais e sentimentais. Tudo é o amor. E o amor nada mais é aquele sentimento que cura.
FICHA TÉCNICA