CRÍTICA | Sinfonia da Necrópole cria a melhor dança da morte
Adolfo Molina
A ambientação fúnebre permite inúmeras camadas de abordagem e linguagem, sendo em sua maioria, um compromisso com a realização de um contexto triste, que se apega devidamente ao luto. No entanto, a mão contrária da narrativa, em que se cruza nas lápides da suavidade e da teatralidade, a conotação sobre a vida tão perto da morte se faz divertida e pontual.
“Sinfonia da Necrópole” é um conto sobre a vida de Deodato (Eduardo Gomes), um aprendiz de coveiro que não adere muito à profissão, além de ser um rapaz sensível e que trabalha com seu tio, Seu Jaca (Paulo Jordão). Toda a rotina dele muda quando conhece a agente funerária Jaqueline (Luciana Paes), que pretende mapear o cemitério para encontrar túmulos abandonados. A iminente paixão que ele cria por o impede de sair do trabalho, mesmo que situações estranhas o acometem.
O filme ao mesmo tempo que constrói situações que circundam urgência e atenção, ele também os desconstrói ao manifestar o descompromisso e a comicidade em tons leves e divertidos, especialmente no musical. Apesar da camada fúnebre, há um contra-rumo na narrativa ao exercitar a análise sobre os personagens. A inocência de um conflitando com a malícia do outro cria uma relação amistosa na maior parte do tempo, mesmo com as divergências dos objetivos. O figurino é satisfatoriamente correto. Não há exageros em maquiagem e muito menos na ambientação do cemitério, construindo um semblante verossímil.
A proposta original talvez, seja realmente demonstrar um amor e um respeito à morte. Não ao fato, mas a quem morreu e têm as suas histórias. Que a profissão de coveiro não seja tão fria, não precise ser necessariamente podada de emoções. Mas que seja um ouvinte, pronto para ouvir as resenhas e os contos da cripta.
Trailer
Ficha Técnica
Sinfonia da Necrópole
Estreia: 21/04/2016
Distribuição: Vitrine Filmes
Gênero: Musical
País: Brasil
Ano de produção: 2016
Duração: 85 minutos
Direção: Juliana Rojas
Elenco: Eduardo Gomes, Luciana Paes, Luís Mármora, Germano Melo, Hugo de Villavicenzio.