Crítica de filme | As Tartarugas Ninja

Alan Daniel Braga

Em uma Nova York violada pelo Clã do Pé – uma organização criminosa liderada pelo poderoso Destruidor (Tohoru Masamune), um mestre em artes marciais que desfila com uma letal armadura, April O’Neil (Megan Fox) é uma jovem repórter do Canal 6 que busca reconhecimento. Ao descobrir que o Clã está sendo combatido por uma estranha força, e certa de que ali está sua oportunidade, a desacreditada jornalista começa uma solitária investigação, que só conta com o remoto apoio de Vernon Fenwick (Will Arnett), cinegrafista e incessante admirador da moça. No caminho para o encontro com as Tartarugas, April redescobre seu passado e revive a parceria de seu falecido pai com o laboratório do cientista Eric Sacks (William Fichtner).

Esta é a breve sinopse de As Tartarugas Ninja, uma produção encabeçada pelo criticado Michael Bay (Transformes), com direção do pouco experiente Jonathan Liebesman (Fúria de Titãs 2), que celebra 30 anos de um fenômeno pop que nasceu nas capas dos quadrinhos da Mirage Studios e tomou de assalto diversas mídias e prateleiras. Criadas em 1984 como uma brincadeira de Kevin Eastman e Peter Laird em cima de personagens como Demolidor, Elektra, X-Men e outros, as Teenage Mutant Ninja Turtles ganharam força em 1987, pela série animada de TV, viraram linha de brinquedos (motivo maior de terem ganhado a série animada de TV), games e invadiram o cinema em quatro outros momentos.

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A nova versão cinematográfica em live action cria uma origem diferente para Leonardo, Raphael, Donatello, Michaelângelo e mestre Splinter, o rato humanóide que cria e treina as tartarugas adolescentes. Nas versões anteriores, a origem dos adolescentes répteis e do rato ancião sofria algumas mudanças, mas sempre passava por alguns pontos de interseção… As quatro tartarugas sempre foram as vítimas de um acidente que as joga em um esgoto, onde eram amparadas por Splinter. Os cinco eram atingidos por um material radioativo, transmutavam e Splinter, com um passado ligado ao Ninjitsu, usava deste conhecimento para adestrar os pupilos.

As primeiras notícias, divulgadas ainda na época da escrita do roteiro, indicavam a possibilidade das mutantes serem alienígenas. Reza a lenda que a notícia não agradou aos fãs e a ideia foi logo abortada, virando piada interna no próprio roteiro. O grupo então vira o resultado de uma experiência genética. Pode ser mera impressão, mas esta mudança parece estar refletida no projeto. Com o decorrer do filme, fica a sensação de um roteiro reinventado em pouco tempo, com algumas soluções forçadas para que este feche redondo.

Extremamente didática desde o início, a trama é previsível e a necessidade de incluir motivações para April  – a verdadeira protagonista – torna a história tão rocambolesca que fica difícil criar uma suspensão de descrença. Megan Fox mantém uma atuação mediana e mora em seu protagonismo o maior problema do filme… Apostar na personagem humana em detrimento à empatia das tartarugas não funciona e não colabora com a expectativa do público. Além disso, o pouco tempo de filme para o desenvolvimento de cada tartaruga obriga a um mero realce nas características individuais, caricaturando cada uma delas. O revoltado Raphael ganha uma importância maior entre os irmãos, mas nem mesmo o desenvolvimento dele se torna interessante.

Megan fox

Mas nem só de problemas vive o filme. Do lado positivo estão o cuidado com as cenas de ação, o 3D e o alívio cômico, não apenas através da personalidade brincalhona de Michaelângelo, mas também pelas investidas de Vernon Fenwick. E o que faz valer o ingresso é justamente essa junção do que deu certo antes, a química entre o humor trazido do desenho animado e das demais versões cinematográficas e a maior ação dos quadrinhos e dos produtos que vieram depois.

A fotografia é um ponto a destacar, não apenas por ser do brasileiro Lula Carvalho. O novo visual CGI das tartarugas, motivo de algumas viradas iniciais de nariz, é outro acerto, principalmente se levada em consideração a decisão de torná-los mais agressivos.

Tem quem vá achar o remake melhor que a versão infantil dos anos 1990. Tem quem, por memória afetiva, vá até preferir o passado. Ao fim, em comparação com recentes filmes de heróis, As Tartarugas Ninja está longe de ser um supra sumo, mas pode ser uma boa diversão para os saudosos trintões, quarentões e seus filhos.

BEM NA FITA: Arte, efeitos, cenas de ação, humor.
QUEIMOU O FILME: Nova origem rocambolesca, roteiro expositivo, pouco espaço para as tartarugas.
FICHA TÉCNICA:
Título original: Teenage Mutant Ninja Turtles
Gênero: Ação/Aventura
Elenco: Alan Ritchson; Jeremy Howard, Megan Fox; Pete Ploszek; Tony Shalhoub; Abby Elliott, Noel Fisher; Tohoru Masamune; William Fichtner; Will Arnett; Whoopi Goldberg.
Direção: Jonathan Liebesman
Produção: Michael Bay, Ian Bryce, Andrew Form, Bradley Fuller, Scott Mednick, Galen Walker
Roteiro: Josh Appelbaum; Andrew Nemec; Evan Daugherty
Diretor de fotografia: Lula Carvalho
Estúdios: Legendary Pictures; Paramount Pictures; Nickelodeon Movies; Platinum Dunes
Efeitos visuais: Image Engine Design
Distribuição: Paramount Pictures
País de origem: EUA
Duração: 101 minutos
Estreia nos cinema: 14 de agosto

Alan Daniel Braga

Publicitário e roteirista de formação, foi de tudo um pouco: redator, produtor, vendedor, clipador, operador de som e imagem, divulgador, editor de vídeos caseiros, figurante e concursado. Crítico, irônico e um tanto piegas, é conhecido vulgarmente como Rabugento e usa essa identidade para manter um blog pouco frequentado (Teorias Rabugentas). Também mantém uma página no Facebook (Miscelânea Rabugenta), com a qual supre a necessidade de conhecer músicas, artistas e pessoas novas. Está longe de ser Truffaut, mas gosta de dar voz aos incompreendidos. (Acesse http://teoriasrabugentas.blogspot.com.br/ e curta https://www.facebook.com/MiscelaneaRabugenta)
NAN