
Crítica de Filme | Trash – A Esperança vem do lixo
Antonio de Medeiros
Era grande a expectativa para ver o novo filme de Stephen Daldry, Trash – A Esperança vem do lixo, principalmente por causa dos seus ótimos filmes anteriores como: “As Horas”, “O Leitor” e “Billy Elliot”, sendo o último, o responsável pelo seu reconhecimento internacional.
Daldry é conhecido pela sensibilidade e talento na direção de atores. Essa habilidade pode ser comprovada pelo excelente rendimento que ele consegue extrair mesmo de atores não-profissionais, como é o caso dos meninos do filme.
“Trash” é sobre um garoto, Raphael, catador de lixo, que encontra uma carteira no lixão. Com a chegada da polícia no local em busca dessa carteira, o garoto junta-se a dois amigos para tentar decifrar o porquê do interesse da polícia e a partir de então, eles partem numa aventura em busca dos 10 milhões cujas pistas estão dentro dela. Nessa aventura, eles contam com a ajuda de um padre e de uma professora de Inglês.
O carisma dos três atores-mirins, Rickson Tevez, Eduardo Luis e Gabriel Weinstein, é um dos pontos altos do filme. Os três garotos se saem muito bem. Eles possuem a malandragem e a esperteza necessárias para sobreviver num ambiente tão hostil como um lixão. Reconhecimento merecido também para o trabalho dos produtores de elenco, Francisco Accioly e Anna Luiza Paes, cujas contribuições se revelaram essencial para o filme.
O filme diverte, tem ótimas cenas de ação e humor. Porém, ele recebeu um subtítulo fraco: “A Esperança vem do lixo”, cuja escolha revela uma busca e defesa de uma moral presente em todo o filme, uma crítica social vazia por si só, que não vem naturalmente e parece forçada ao roteiro para contextualizar a atual realidade brasileira de manifestações, polícia desonesta e corrupção. Em algumas cenas, o filme carece de verossimilhança, como na cena final. Sem querer ser spoiler e não sendo, ninguém joga dinheiro no lixo.
O filme guarda muitas semelhanças com “Cidade de Deus”, “Quem quer ser um milionário” e “Capitães de Areia”. Parece que o filme não definiu o público alvo como adulto ou juvenil. Acredito que agradará muito mais ao público mais jovem. Caso essa escolha tivesse sido feita intencionalmente, creio que o filme teria sido um acerto maior.
O roteiro peca também na construção dos personagens de Wagner Moura (José Angelo) e Selton Mello (Frederico), que são subaproveitados. Talvez o cartaz de divulgação do filme cause esse confusão, dando um destaque que eles não possuem no enredo.
Duas cenas que se sobressaem positivamente são a cena no presídio com Nelson Xavier, que apesar der ser uma pequena participação especial conseguiu realizar um dos momentos mais tocantes e a cena do sequestro de Raphael, bastante tensa, principalmente no último momento, quando um policial é encarregado de executá-lo. Funciona bem, ainda, os vídeos caseiros dos meninos dentro do filme, esse recurso de metalinguagem costura as cenas e ajuda a contar a estória com comentários engraçados, sendo que mais à frente entendemos a real função dele na história.
“Trash” tem como qualidades também o aspecto cenográfico, a reconstituição do lixão e da favela onde moram os protagonistas foi muito bem realizado. O diretor fimou em favelas e locações menos conhecidas, fugindo de um retrato caricatural do Rio, o que é não é comum em se tratando de diretores estrangeiros.
BEM NA FITA: trilha sonora, fotografia (Adriano Goldman), trabalho dos produtores de elenco e sensibilidade da direção de Stephen Daldry.
QUEIMOU O FILME: em alguns momentos o roteiro não convence.
FICHA TÉCNICA:
Direção: Stephen Daldry
Roteiro: Richard Curtis, Felipe Braga
Elenco: Wagner Moura, Selton Mello, Richard Curtis, Rickson Tevez, Eduardo Luis, Gabriel Weinstein, Rooney Mara, Martin Sheen, André Ramiro, José Dumont
Gênero: Ação / Drama
Duração: 1h54min
Ano de produção: 2014
País: Brasil , Reino Unido