Crítica de Filme | Trocando os Pés
Anderson Vidal
Em 1903, a máfia procura um sapateiro em uma pequena cidade a fim de ‘concertar’ os sapatos de um homem que não era cliente desse mesmo sapateiro. Ele o faz sem relutar e ensina para o seu filho Abraham sobre uma antiga máquina de costurar sapatos, que é muito especial e somente ser usada nos momentos certos. Explica que a família ganhou a máquina depois que um mendigo pediu ajuda ao seu pai, pois ninguém mais querer ajudar, e quando foi embora, deixou a máquina para ele. Os anos se passam e Max (Adam Sandler) herda a loja de sapatos de seu pai, Abraham (Dustin Hoffman), que herdou de seu avô. Solitário com uma vida que ele não queria, Max encontra a máquina no porão de sua casa, logo após a que utilizava quebrar. Desejando a vida de alguns clientes mais ricos, Max decide experimentar o sapato que havia concertado, e ao se olhar no espelho, Max se transforma no dono dos sapatos.
Com uma ideia muito interessante, e muito melhor do que Adam Sandler lançou nos últimos anos, nós vemos uma história tomando proporções muito maiores do que o filme possa lidar. E o enredo se perdendo com as consequências das ações tomadas pelo personagem de Sandler. Resultando em um longa até que legal, mas com mudanças de valores de seu protagonista, confusão em seu enredo e que nos ganha apenas com seus personagens.
No início, conseguimos nos afeiçoar a Max, por mais que Adam não se empenhe nem um pouco em mudar a atuação desse personagem ao de seus outros trabalhos, mas a história de Max nos causa comoção, talvez mais pela sua mãe Sarah (a ótima e carismática Lynn Cohen). Abraham sumiu da vida de Max e Sarah sem dar noticia, deixando seu filho e sua esposa sozinhos, e Sarah parece ter princípios de Alzheimer, e Max sabe lidar com isso e é extremamente carinho com a mãe, então por isso, já sentimos uma boa afinidade pelo personagem. Outro ponto que ajuda com isso, é o fato de Max ser muito honesto, pelo menos no inicio do filme, cobrando 12 dólares pelo concerto de um sapato, fazendo o cliente achar barato, mas paga o combinado. Então, na primeira parte do filme, o diretor Thomas McCarthy conseguiu criar um vínculo entre o espectador e os personagens. Porém, a partir do momento em que Max descobre que costurando os sapatos na ‘máquina mágica’ ele se torna no dono do sapato, esse cuidado que houve no inicio de nos aproximar do protagonista, é deixado de lado.
O que mais me incomodou nessa história toda, é o fato de Max não pensar ou não se importar com as consequências dos atos dele em assumir o papel de outra pessoa, e achar que se transformando terá os benefícios dela. Quando ele se transforma em Emiliano, um cara bonito e rico, ele conhece uma menina no bar e decide a levar para casa, porém ele não tem uma casa. Ele mora com a mãe e precisa enrolar a menina que acaba indo embora, ou seja, mesmo com a aparência boa, isso não o tira vantagem em nada. Ele continua na mesma. Mas Max ‘segue’ Emiliano e descobre onde ele mora, daí então ele entra no apartamento e gera uma pequena sequência de confusão com a mulher que estava no banheiro. E essa mesma confusão é feita com outros ‘personagens’ dele.
Outro ponto a me incomodar, e percebi isso duas vezes no longa, é o estereotipo racial que ele aplica. Com a mudança dos sapatos, dois de seus ‘personagens’ são negros, e um deles ele utiliza para roubar o sapato de um cara que tem um carrão, e outro ele usa para comer bem em um restaurante, depois vai ao banheiro e vira ele mesmo e vai embora sem pagar – abandonando a honestidade. Deixando a brecha de que só os negros fazem isso. E foi um tanto que chato.
E o desenrolar da trama fica para um motivo um tanto que besta. Max se irrita com o modo que um dos clientes o trata e resolve se vingar dele, roubando a coleção cara de relógios. Porém o seguindo, Max descobre que ele é um poderoso bandido, que bate na namorada e tem muitos problemas, e com isso, Max se mete em uma confusão tão grande que nos deixa perdidos e soltos com a mudança brusca na dinâmica do filme. Desenrolando para uma morte que nos pega de surpresa e nos espanta.
Trocando os Pés só ganha por ter uma narrativa suave, apensar de confusa, e ser de leve entendimento, com bons personagens e bons atores que cumprem muito bem o combinado, sendo o tipo de filme para se assistir à tarde com a família sem nenhum problema. A caracterização quando Max troca de sapato também é muito boa e a edição ajuda bastante com isso, e a trilha sonora é muito boa, com acordes italianos lembrando a máfia. Porém, se você procura um filme para gargalhar, Trocando os Pés não vai lhe satisfazer, não que eu seja chato e não tenha achado graça, mas o filme realmente não tem nenhuma piada e nenhum tom que nos faça rir, o que achei curioso para um filme com Adam Sandler, que sempre joga besteira e piadas pastelão no meio de cada cena.
E por fim, terminamos a seção sem saber o motivo da máquina de sapatos fazer aquilo, deixa-se subentendido para ninguém, que outros sapateiros têm esse ‘poder’, e mesmo depois de perder a mãe (em uma morte que eu acho eu foi causada por ele mesmo), ter ficado anos sem o pai, ele aceita o seu retorno tranquilamente ao perceber que Abraham tem uma boa vida, por mais que o tenha deixado na solidão por anos. Abandonando todo o conceito inicial do longa.
Trocando os Pés estreia nesta quinta-feria (28).
FICHA TÉCNICA:
Nome Original: The Cobbler
Diretor: Thomas McCarthy
Elenco: Adam Sandler, Steve Buscemi, Dustin Hoffman, Dan Stevens, Melonie Diaz, Ellen Barkin.
Roteiro: Thomas McCarthy e Paul Sado.
Trilha sonora: John Debney e Nick Urata.
Produção: Nicolas Chartier
Duração: 1h 39min.