Crítica de Filme | Viver é fácil com os olhos fechados
Stenlånd Leandro
Filme que arrecadou cinco premiações no Goya 2014 (o ”Oscar Espanhol”), levando melhor atriz revelação para Natalia de Molina, melhor ator para Javier Cámara, melhor trilha sonora original composta por Pat Metheny e para David Trueba, melhor diretor e roteiro original, ”Viver é fácil com os olhos fechados” chega nesta quinta-feira, dia oito de Outubro (2015), aos cinemas brasileiros, como de costume, apenas depois que o resto do mundo já pôde assisti-lo.
O longa conta a história de Antonio (Javier Cámara), um professor de inglês fanático por Beatles e principalmente John Lennon, que após saber que seu ídolo irá gravar um filme em Almeria, decide partir numa viagem para conhece-lo.
Nesta premissa de ”filme na estrada”, Antonio, por uma coincidência que só os filmes podem oferecer, conhece em sua jornada mais dois personagens: Juanjo (Francesc Colomer) e Belén (Natalia de Molina), sendo o primeiro deles, um ”fugitivo” da própia casa por não aguentar os abusos emocionais e o modo ditador de sua criação vinda do pai, e o segundo, uma menina grávida sem um rumo ao certo.
Com caminhos que na prática não se cruzariam, os três personagens acabam criando laços de amizade e decidem juntos acompanhar todos o mesmo objetivo.
Em sua totalidade, ”Viver é fácil com os olhos fechados” é um filme que não arrisca absolutamente nada, é uma obra leve, rápida e inofensiva, mas que acaba também se tornando rasa, não no sentido de ser fútil, mas sim pelo fato de nunca tentar apostar algo maior, é um filme comum, que apesar do pano de fundo à trama ser muito interessante, esta mesma acaba chamando mais a atenção do que a dita jornada em sí, ou seja, o pouco que se fala de Beatles já é maior do que todos os minutos que o filme tenta expressar.
Repousando o termômetro do fascínio na medida morna, o filme constrói clichês e personagens totalmente descartáveis, como os dois jovens encontrados na estrada, Juanjo e Belén, que são completamente apáticos, e suas sub-tramas não instiga o telespectador em nenhum segundo.
Em sentido de atuação, o que salva a película é a interpretação de Javier Cámara como o personagem principal, sempre exalando bom humor, citando poemas e referências culturais com diálogos atrativos, e que diante de tudo isto, nos faz torcermos por sua missão.
Fora isto, outros recursos positivos que podem ser destacados são as metáforas utilizadas durante o filme, como por exemplo uma colheita de morangos e assuntos que a percorrem, referenciando a canção ”Strawberry Fields Forever”, criada por Lennon aos Beatles. A trilha sonora composta como citado por Pat Metheny e seu violão, soma ao clima ”good vibe” do longa, que uma vez ou outra nos oferece planos bem encaixados, abertos, realçando a estrada e suas curvas por exemplo, com um tom de composição fotográfica que nos lembra um sépia.
”Viver é fácil com os olhos fechados” não é desprezível, longe disso, mas não é diferente de nada do que já vimos, alias, muito igual, não se sustentando pela escolha de assuntos mais intensos que a própia jornada criada, nos fazendo questionar sobre a forma de crítica do tal ”Oscar Espanhol” diante de tantas premiações sendo que ao final é um filme ‘bobinho’.
FICHA TÉCNICA
Direção: David Trueba
Roteiro: David Trueba
Gênero: Comédia dramática
Elenco: Ariadna Gil, Catalina Sagredo, Francesc Colomer, Javier Cámara, Joaquín Fernández, Jorge Sanz, Léo Rodríguez, Natalia de Molina, Olivia Trueba, Ramón Fontserè, Rodrigo Pascual, Rogelio Fernández, Sasha Di Bendetto, Tristán Rodríguez, Violeta Rodríguez
Produção: Cristina Huete
Fotografia: Daniel Vilar
Montador: Marta Velasco