Crítica de Filme: Walt nos Bastidores de Mary Poppins

Rodrigo Amém

Como lidar com o passado que nos assombra? Qual é a função da fantasia na construção da identidade do ser humano? Perguntas cabeludas como essa costumam dar pano pra manga em consultórios de psicólogos e artigos acadêmicos. E são também as questões centrais deste presente de natal que é Walt nos Bastidores de Mary Poppins (“Saving Mr. Banks”, no original).

Baseado em fatos reais, o filme conta o tumultuado processo de adaptação para o cinema do livro Mary Poppins, da britânica P.L. Travers. Magistralmente incorporada por Emma Thompson, Travers é uma mulher difícil. Marcada por um passado amargo, a autora impõe sua visão crua e sem floreios à adaptação. Fosse por sua vontade, Mary Poppins não teria música, nem desenhos animados. Cabe a Walt Disney (Tom Hanks tirando onda) o papel de domar essa fera e garantir que sua visão da história ganhe as telas. Esse embate (nem sempre) diplomático é o pano de fundo do filme que, na verdade, pretende discutir a sombra da família sobre o indivíduo e sua visão de mundo.

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Walt nos Bastidores de Mary Poppins é o embate de duas visões antagônicas de mundo nascidas de contextos semelhantes. É também uma linda narrativa sobre perdão. A outros e a si mesmo.

Não bastasse o roteiro cuidadoso, que respeita a inteligência e a sensibilidade do espectador, ainda há o elenco. E que elenco! Com cinco minutos de tela, esquecemos que Forrest Gump está conversando com Nanny McPhee. Hanks some e, em seu lugar, o velho Walt encontra sua melhor personificação. Menções honrosas também devem ser feitas a Colin Farrel, na pele do pai de P. L. Travers. Provavelmente a melhor atuação de sua carreira. E, de quebra, ainda temos Paul Giamatti, que passa boa parte do filme quase como figurante. Até o momento em que ele rouba a cena, como sempre.

Walt nos Bastidores de Mary Poppins teve um lançamento apagado numa obtusa data de 13 de dezembro, concorrendo com o novo Hobbit e Anchorman 2. Ainda assim, conseguiu uma bilheteria de relativa expressão (44 milhões de dólares até 31/12) e uma indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz para Emma Thompson (mais que merecida, por sinal).

Em tempo: faz diferença conhecer o filme Mary Poppins para aprecisar Saving Mr. Banks. Taí a boa pedida para uma maratona de cinema: o clássico primeiro, sua história na sequência. Você vai me agradecer depois, mas nem precisa. Foi um prazer.

BEM NA FITA: Elenco de cair o queixo.

QUEIMOU O FILME: Data de lançamento confusa.

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FICHA TÉCNICA:

Direção: John Lee Hancock

Roteiro: Kelly Marcel, Sue Smith

Elenco: Emma Thompson, Tom Hanks, Annie Rose Buckley, Colin Farrel, Paul Giamatti

Produção: Ian Collie

Gênero: Drama

Duração: 125 min.

País: EUA

Ano: 2013

Rodrigo Amém

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