Crítica de Filme | X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido

Bruno Giacobbo

No livro “Homens Difíceis”, que narra os bastidores das séries que revolucionaram a TV a cabo, o jornalista Brett Martin destaca os quatro gêneros preferidos dos Estados Unidos, histórias que ilustram um pouco da saga americana: o faroeste, os gangsteres, os detetives solitários e os super-heróis com dupla identidade. Ele não fala nada sobre heróis mutantes. Talvez por que considere este um subgênero do último, ou talvez, prefiro acreditar, por que diga muito mais respeito à humanidade como um todo. E foi isto que sempre me atraiu nas tramas de personagens como o Wolverine, o paralelismo que podemos traçar entre a situação dos mutantes e a dos negros no século passado. A perseguição, a descriminação e a necessidade de subjugar aquele que é tido como diferente são iguais. E isto, infelizmente, não foi exclusividade deles. Os quadrinhos sempre retrataram a luta pelos direitos civis, no caso, a dos portadores do gene X.

Logo no início de X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, com direção de Bryan Singer e em cartaz nesta quinta-feira, dia 22 de maio, esta luta já faz parte de um passado distante. O ano é 2023 e os mutantes foram quase todos erradicados pelos sentinelas, uma raça de robôs gigantes criada pelo cientista Bolívar Trask (Peter Dinklage). Os humanos que tentaram defendê-los tiveram o mesmo destino. Contudo, existe um grupo de sobreviventes. Usando os seus poderes, Kitty Pryde (Ellen Page) transporta a consciência de Bishop (Omar Sy) para o passado. Poucos minutos, mas o suficiente para serem avisados da chegada dos inimigos. Quando a fama do truque se espalha, eles são procurados pelos lendários Charles Xavier (Patrick Stewart), Magneto (Ian McKellen), Wolverine (Hugh Jackman) e Tempestade (Halle Berry). Em mente, uma ideia ousada. Voltar a consciência de um deles 50 anos no tempo e impedir o evento que levou a adoção do projeto sentinelas. O assassinato de Trask, cometido pela mutante Mística (Jennifer Lawrence).

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Escolhido por ser o único capaz de sobreviver a um salto temporal tão grande, devido ao seu fator de cura (Pryde alega que a mente de qualquer outro seria esfacelada), Wolverine tem a missão de convencer o professor Xavier (James McAvoy) do passado a ajudá-lo. Mais do que isto: fazer o mesmo com o ainda vilão Magneto (Michael Fassbender). A partir da entrada em cena destes atores e de personagens como Fera (Nicholas Hoult), Mercúrio (Evan Peters) e a própria Mística, o filme ganha dinamismo. As melhores cenas de ação, quase todas fantásticas, são protagonizadas por este quinteto.

Decididamente, X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido não é um longa de atores, no sentido de requerer grandes atuações, embora pouca gente duvide, hoje, dos dotes de Jackman, Fassbender e McKellen. Seus protagonistas precisam ser carismáticos e isto eles são de sobra. Na verdade, é uma obra feita para encher os olhos, Os efeitos especiais são fantásticos. A direção de arte também, com sua excelente reconstituição de época do ano de 1973. Já o 3D, uma reclamação constante por não acrescentar quase nada e encarecer os preços dos ingressos, tem seus bons momentos.

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Outra qualidade é o humor presente no roteiro escrito a seis mãos por Simon Kinberg, Matthew Vaughn e Jane Goldman. Tá, eles adaptaram um arco de histórias homônimo, publicado no longínquo ano de 1981, quando talvez fosse possível imaginar que a realidade em 2023 seria muito diferente da atual. Entretanto, dá para perceber, pelas piadas presentes em diversos diálogos, que eles se divertiram e deram alguns toques pessoais ao filme. Os mais importantes? A troca do protagonista e o crime que desencadeia a adoção do projeto sentinelas. Nos quadrinhos, quem “viaja” no tempo é Kitty Pryde. O público irá se divertir bastante. Atenção para uma engraçada referência ao presidente John Kennedy.

X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido pode ser visto por leigos que gostem de filmes de ação com muitos efeitos. Ter assistido X-Men: Primeira Classe (2011) certamente ajuda, mas não é fundamental. Para os fãs de carteirinha uma ótima notícia: com esta brincadeira de voltar no tempo, Singer e companhia tiveram a oportunidade de ouro de corrigir os dois grandes pecados da saga. Quais são? Vejam e descubram.

Desliguem os celulares e boa diversão.

PS: Não saiam antes do fim dos créditos e reparem em um mutante que lança chamas, nas cenas do futuro. Ele é o brasileiro Roberto da Costa, mais conhecido como Mancha Solar.

BEM NA FITA: Tudo, mas o que mais gostei foi ter visto juntos os atores da série original e os de Primeira Classe.   

QUEIMOU O FILME: Nada que faça a diferença e mude a avaliação final.

FICHA TÉCNICA:

Direção: Bryan Singer.
Elenco: Hugh Jackman, James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Peter Dinklage, Patrick Stewart, Ian McKellen, Nicholas Hoult, Evan Peters, Halle Berry, Ellen Page, Omar Sy, Shawn Ashmore, Daniel Cudmore, Adan Canto, Fan Bingbing e Anna Paquin.
Produção: Todd Hallowell, Stan Lee e Josh McLaglen.
Roteiro: Simon Kinberg, Matthew Vaughn e Jane Goldman.
Direção de Fotografia: Newton Thomas Sigel.
Montagem e Trilha Sonora: John Ottman.
Direção de Arte: Vincent Gingras-Liberali e Félix Larivière-Charron.
Duração: 130 min.
País: Estados Unidos.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN